Honda chegou ao Brasil nos braços da torcida botafoguense, ainda em um período pré-pandemia que permitia aglomerações não irresponsáveis. Com o início das competições nacionais, após a paralização motivada pela Covid-19, o japonês oscilou assim como toda a equipe – algo até normal para o seu histórico recente, sobretudo pelos 34 anos em um calendário extenuante como o deste chamado novo normal. No entanto, o camisa 4 vem mostrando nos últimos jogos que o seu talento segue intacto. E o gol marcado na vitória por 2 a 1 sobre o Sport, que tira os alvinegros da zona de rebaixamento, carimba definitivamente o seu bom momento no Glorioso.
Até então, Honda só havia marcado um gol em 15 duelos – contra o Bangu, em sua estreia, convertendo pênalti no encontro válido pelo estadual. As cobranças que surgiam nem eram tanto sobre o seu desempenho, e sim a respeito de sua posição no time. Inicialmente, com Paulo Autuori, o japonês vinha atuando muito longe do gol: ajudava bastante para dar qualidade na saída de bola, mas ao mesmo tempo ficava longe da área adversária, onde suas conhecidas competências no chute de média distância e criação acabavam por não aparecer muito.
Mas ainda que sem gols, o passe diferenciado e a entrega nos momentos sem bola chamavam a atenção nos jogos do Botafogo – exceção ao empate contra o Flamengo. Tomando cada vez mais liberdade para medir suas subidas ao ataque, Honda vinha muito bem nas últimas partidas em que tinha uma participação considerável de minutos. Contra o Vasco, pela Copa do Brasil, construiu a jogada para o gol de Matheus Babi (dando o passe pré-assistência de Bruno Nazário) na vitória por 1 a 0 na ida e, no duelo de volta, se entregou de corpo e alma tendo ou não a bola nos pés, saindo de campo exaltado como um dos melhores na classificação às oitavas de final.
Acontece que a expectativa sobre Honda pedia, também, uma participação mais aguda nos momentos de ataque. Após a demissão de Paulo Autuori, Bruno Lazaroni, o novo treinador alvinegro, mudou o desenho tático do time. Saía a linha de cinco na defesa, entrava o 4-1-4-1 que ajudou o japonês a chegar mais próximo da área, tendo constantemente o apoio do jovem Caio Alexandre (autor do segundo gol na vitória sobre o Sport). A lesão de Bruno Nazário também obrigou o japonês a se arriscar mais na frente.
O bom passe e a leitura de jogo seguiam, ainda que faltasse uma ousadia maior para arriscar um último passe aqui ou uma finalização acolá – neste Brasileirão, Honda só arriscou dois chutes a gol, por exemplo. E se faltava um empurrãozinho para encorajar Honda a finalizar, ele foi dado pelo goleiro do Sport, Luan Poli, que errou na saída de bola e entregou a esfera nos pés do japonês. O camisa quatro ajeitou o corpo, mirou no alvo e acertou um belo chute com a parte interior do pé esquerdo enquanto o arqueiro voltava desesperado para sua meta.
Honda ainda desperdiçou uma outra boa chance contra os pernambucanos, quando, em contra-ataque, chegou a driblar o goleiro antes de, já desequilibrado e ficando sem ângulo, chutar para fora. Mas o primeiro gol com bola rolando pelo Botafogo, o seu primeiro neste Brasileirão, coloca um carimbo no bom momento que vive no Alvinegro – que ainda precisou segurar o resultado, fora de casa, com um a menos após a expulsão de Forster.
A esperança do torcedor é que isso se reflita também em uma ascendência maior do japonês em lances como as cobranças de falta – que apesar de ser sua especialidade vem sendo responsabilidade de outros jogadores no elenco. Quando pega a bola para si, Honda vem mostrando que pode ajudar o Botafogo dentro de suas aspirações no Brasileirão.