David Neres foi um dos grandes destaques na goleada por 4 a 1 do Ajax sobre o Real Madrid, que sacramentou a classificação dos holandeses – e consequente eliminação dos atuais campeões europeus – para as quartas de final da Champions League. Titular na ponta-esquerda, o brasileiro de 22 anos coroou a boa exibição anotando o segundo gol em uma histórica noite europeia. Além da vaga, recebeu como prêmio a sua primeira convocação para a Seleção Brasileira principal.
Com a lesão sofrida por Vinícius Júnior, exatamente na partida em que Neres brilhou, Tite escolheu dar uma chance ao menino revelado pelo São Paulo para os amistosos contra Panamá (23/03) e República Tcheca (26/03). Um marco na carreira de um garoto que desde sempre demonstrou maturidade surpreendente. Tratado como uma das principais joias do Morumbi, David seguiu a tendência recente que leva nossos jogadores cada vez mais jovens para a Europa. Ciente disso, e disposto a investir o máximo em sua qualidade, a escolha pelo Ajax foi um acerto gigante.
“Ele fez uma boa escolha. Assim como ele fazia dentro do campo, fez fora de campo também”, opina Ricardo Gomes, treinador que o lançou nos profissionais do São Paulo, em contato com a Goal Brasil. “O trabalho foi feito pela base do São Paulo. Ele chegou pronto pra mim. Além da qualidade, ele tem muita personalidade. O prazer dele é tanto em jogar, que não há pressão pra ele”, completou.
De fato.
Mas um ponto marcante na personalidade do jovem paulista é a sinceridade. Fugindo dos discursos padronizados que tomam conta de muitas entrevistas, todas as vezes em que falou durante o breve período de oito jogos pelo São Paulo, Neres deixou a sua marca, sem esconder as emoções normais de um ser-humano sob pressão e tampouco a segurança para lidar com tudo aquilo.
“No começo eu fiquei meio nervoso. É natural, por ser minha estreia. Mas como eu tive confiança de muita gente dentro do clube, fui bem tranquilo e procurei dar meu melhor”, disse após a sua estreia com o Tricolor, uma vitória de virada por 2 a 1 sobre o Fluminense no Brasileirão de 2016. Contra a Ponte Preta, na rodada seguinte, a vaga de titular estava garantida. E o nervosismo pela estreia no Morumbi transformou-se em confiança após o primeiro de seus únicos três gols pelo clube que o revelou.
"Tremi na hora. Meio nervosismo, sei lá, mas deu tudo certo”, afirmou depois do triunfo por 2 a 0. “Não sabia como comemorar. É uma emoção muito grande fazer o primeiro gol, ainda mais no Morumbi, com a casa cheia. Só tenho que agradecer (...) Agora estou trabalhando confiante, feliz. É só evoluir”.
Ajax, a pós-formação David Neres comemora gol sobre o Feyenoord, no clássico contra o Ajax
E David Neres evoluiu tanto que, três anos depois de deixar o Tricolor por 15 milhões de euros (a terceira maior venda do São Paulo, atrás apenas de Lucas Moura e Danílson), voltou a não saber como comemorar um gol quando, durante a Florida Cup 2019, balançou justamente as redes são-paulinas já vestindo a histórica camisa do Ajax.
Em entrevista concedida para a revista Voetbal International, da Holanda, o brasileiro revelou que as histórias construídas por Romário e Ronaldo Fenômeno (ambos pelo PSV Eindhoven), em suas primeiras experiências europeias, pesaram em sua decisão. David fez alguns jogos pelo time B dos Godenzonen, completando de certa forma a sua formação como jogador e adquirindo conhecimento em uma das melhores academias do futebol mundial. A estreia na Eredivisie em 2017, já com a equipe principal treinada por Erik ten Hag, foi avassaladora.
O seu primeiro gol aconteceu justamente em vitória sobre o Feyenoord, arquirrival do Ajax. As exibições seguiram em altíssimo nível, algo provado pelo prêmio de revelação da metade inicial da Eredivisie holandesa. Outra experiência para grandes jogos veio quando Neres saiu do banco de reservas na tentativa de impedir a vitória do Manchester United na final da Europa League. Na grande maioria das vezes, o camisa 7 ocupava o lado direito de ataque.
David Neres nesta temporada 2018-19
A temporada atual, 2018-19, marca um período menos goleador. Entretanto, de participações mais decisivas e mostrando-se completo nas posições de criação de jogadas. Foram 15 jogos como extremo pela direita (2 gols e 5 assistências) e o mesmo número no lado oposto (4 gols, um deles sobre o Real Madrid, e os mesmos 5 passes decisivos). Jogando centralizado, como também gosta de fazer, não balançou as redes em sete duelos, mas seguiu a demonstrar o faro para servir os companheiros (3 assistências). A maturidade nas escolhas e humildade para o jogo coletivo sempre foram características suas.
“Ele era muito liso, o drible dele era muito fácil, mas as suas escolhas não eram escolhas de garoto. Ele tomava escolhas coletivas. Apesar da força dele no um contra um, é um jogador muito coletivo”, lembrou Ricardo Gomes para a Goal Brasil. O treinador, com vivência das mais vitoriosas no Brasil, Europa e com a Seleção, é um dos tantos que olham para David Neres com a esperança de que o seu potencial seja atingido por completo.
Comemoração do gol que ajudou a eliminar o Real Madrid da Champions
“Só evoluiu e ainda vai continuar. Tem muita qualidade, ainda vai ganhar muita ‘cancha’, experiência. Vai ficar cada vez melhor. Fez uma boa escolha ao escolher o Ajax, foi quase uma pós-formação. Faltavam jogos, né? Ele adquiriu isso e agora está na Seleção”.
Levando em consideração a regularidade e postura demonstrada ao longo de sua carreira, é possível imaginar em David Neres um jogador com potencial para ter uma longa carreira vestindo a camisa canarinho.