Identificação. Parte da estratégia do Botafogo neste seu caminho para uma nova reconstrução passa por este conceito, tão ausente na histórica péssima temporada 2020 que culminou com a queda do clube à Série B do Campeonato Brasileiro.
Identificação não é algo fácil de se conseguir no cenário do futebol atual por parte dos atletas envolvidos no jogo - seja pela forma como as paixões clubísticas são formadas no Brasil, seja pela forma como o esporte é tocado faz algumas décadas. Mas o Botafogo tem conseguido, em 2021, uma retomada interessante neste aspecto, especialmente com os jogadores Chay e Joel Carli.
O zagueiro argentino com certeza não nasceu botafoguense, mas hoje simboliza como poucos o espírito do clube. Mais do que uma liderança no vestiário, você vê que ele se importa muito com o Botafogo. Se Chay nasceu alvinegro ou não, pouco importa: a entrega tanto de gols quanto de um carisma leve traz um sorriso necessário ao rosto de quem mais importa, o dele, Chay, e do torcedor (tanto, que esta relação foi estendida em um novo contrato para o meia-atacante).
Mas é claro que todo torcedor também ama ver um outro torcedor que, por acaso, é um bom jogador dentro de campo para o seu clube. No Botafogo tem sido algo raro nos últimos anos. A explicação pode ser, além da superioridade numérica de um só rival perante os outros três no estado, o envelhecimento da torcida alvinegra em meio a décadas sem conquistas de grandes títulos nacionais.
Algumas das últimas contratações feitas pelo clube deixaram esta situação clara, mesmo recheados de boa intenção para criarem identificação com a Estrela Solitária. Erik chegou ao clube em 2018 citando o pai botafoguense, mesmo caso de Kieza, enquanto para Diego Souza, em 2019, o elo inicial com os alvinegros foi a mãe torcedora botafoguense. O último atleta a chegar no clube se abrindo como torcedor? Talvez André Lima, em 2007.
Voltemos muitas décadas no passado e podemos listar nomes que, antes de se tornarem grandes craques do nosso futebol, foram torcedores de um Botafogo cuja memória dos dribles de Garrincha ou das arrancadas de Jairzinho ainda estavam frescas no imaginário popular. Roberto Dinamite hoje é todo Vasco, mas foi botafoguense quando criança; Reinaldo é imortal do Atlético-MG, mas em sua biografia revelou ter sido torcedor do Glorioso nos tempos de criança - em que também acompanhou seu irmão mais velho defendendo as cores do clube carioca.
O Botafogo anunciou, recentemente, a chegada do lateral-direito Rafael. Um atleta que deixou seu nome marcado no Manchester United então treinado por Alex Ferguson, a última grande versão do clube de Old Trafford. Ele não vive mais o seu auge esportivo, vem de uma temporada no Istambul Basaksehir, mas ainda pode jogar em alto nível aos 31 anos. Ao menos é esta a expectativa. Teve propostas de clubes da primeira divisão do futebol brasileiro mas fez todo o possível para realizar o sonho de jogar no Botafogo, seu clube de coração. Mesmo o Botafogo estando na Série B.
September 8, 2021
Se o Botafogo vive conhecidas dificuldades financeiras, Rafael se ajustou a o que o clube poderia lhe pagar de salário. O Alvinegro não fez loucuras e contou com ajuda de torcedores mais abastados, como Marcelo Adnet e Felipe Neto, para completarem as luvas do negócio.
No canto das arquibancadas, o botafoguense diz que "não escolhe" e sim "é escolhido". Rafael se considera um destes tantos escolhidos. E por isso escolheu a Estrela Solitária em um momento tão difícil de sua história. O encaixe desta situação "torcedor em campo", que tem sido rara para o clube, agora precisa mostrar que pode contribuir com resultados em campo. Afinal de contas identificação é fundamental, mas sozinha não é o bastante.
Para voltar a ser um clube atrativo, o Botafogo precisa mostrar que sabe escolher nomes que mostrem competência para, também, atrair mais atletas competentes. Rafael, o escolhido, chega para ajudar o clube de seu coração nesta caminhada. Uma das poucas certezas é que o torcedor alvinegro sentirá uma identificação gigante com o seu novo camisa 7.