Foi um jogo de números redondos e altos. De Marcelo, que cumpriu 400 jogos pelo Real Madrid fazendo, possivelmente, a melhor partida de sua vida — o que, convenhamos, não é pouco. Salvou dois gols em cima da linha e ainda conseguiu uma arrancada monumental no terceiro tento madridista.
De Sergio Ramos, que fez seu centésimo jogo com a camisa do clube merengue na UCL. Deu um azar inconcebível e fez um gol contra, mas depois foi o homem da assistência para o terceiro gol da equipe.
E, por último, de Cristiano Ronaldo, que alcançou a marca de 100 gols na maior competição de clubes do mundo. O português foi o protagonista indiscutível da eliminatória, com cinco gols em dois jogos.
Outro protagonista foi, lamentavelmente, o árbitro, tanto que terei que falar dele quando já queria estar abordando campo e bola. Detesto falar sobre arbitragem. Em geral, evito, quer seja ela favorável ou não ao Madrid. Nesse caso, no entanto, o desastre foi tamanho que não há como fugir. Não vou ser passional e dizer que a arbitragem não influiu na classificação madridista. Não pela expulsão de Vidal. Porque, embora o lance que gerou a expulsão não tenha sido nem mesmo falta, o chileno já devia ter sido expulso por uma outra infração, ainda no início do segundo tempo. Mas pelo segundo gol 'merengue', marcado por Cristiano em posição irregular. Posso estar sendo um pouco Rodrigo Caio, mas quero acreditar que o Real Madrid teria igualmente encontrado o 2-2 e a classificação em um outro lance, perfeitamente legal, caso a referida jogada tivesse sido anulada.
Convém também não esquecer do pênalti muito mal marcado a favor do Bayern na partida de ida. A equação não é tão simples assim. A linha entre o herói e o vilão é mais tênue do que a repercussão na mídia aponta. Vidal isolou a cobrança, mas de ter acertado, os contornos da eliminatória seriam outros, e também determinados por um erro do juiz, só que para o outro lado. Ou seja, a única certeza é que um confronto que era pra ser uma inesquecível festa do futebol acabou um tanto quanto arruinado por erros dos homens do apito. Torço para que o árbitro de vídeo seja implantado para a próxima edição da UCL, minimizando a chance de a arbitragem ter um protagonismo que definitivamente não lhe cabe. Eu estaria muito mais feliz se o bilhete para as semifinais viesse sem polêmicas arbitrais.
Ao jogo, finalmente. O Bayern, precisando buscar o resultado, tomou a iniciativa. Trabalhou bem a bola, explorando toda a extensão do campo. Soltou os laterais e tirou proveito do problema crônico do Real Madrid para defender os lados do campo. Em relação a isso, a entrada de Isco no lugar de Bale não resolveu muita coisa. A postura recuada dos 'blancos' só fazia fortalecer a estratégia bávara. O cenário só clareou para os donos da casa a partir da metade do primeiro tempo, quando Zidane adiantou as linhas. O jogo então se tornou franco, com muita intensidade, oportunidades criadas e transições rápidas de parte a parte. Ainda não era o ideal para os merengues, para quem não era nada interessante entrar na correria dos alemães.
Se o começo de partida foi ruim, o início do segundo tempo foi ainda pior. Os visitantes voltaram mais ligados e conseguiram amplo domínio da posse de bola, fazendo uma pressão alucinante. Nesse meio tempo, abriram o placar. Dessa vez, a resposta não veio com os que já estavam atuando. Buscando recuperar o meio de campo perdido, 'Zizou' trocou Benzema por Asensio. Deu certo, e o time conseguiu voltar a trabalhar a bola. Aos 32, Cristiano Ronaldo empatou de cabeça, arrematando belo lançamento de Casemiro. Um minuto depois, o fatídico gol contra que levou o confronto para a prorrogação.
Já com um a mais para o início do tempo extra, o esperado era que os madridistas adotassem o mesmo expediente que triunfou na Alemanha. Porém, não foi isso que se viu. O Madrid voltou a se defender muito atrás e deu aos alemães tranquilidade e espaço para pensar suas jogadas de ataque. Dadas as circunstâncias, dá para dizer que os bávaros eram melhores naquele momento. Até que Sergio Ramos achou o peito de Cristiano, que teve toda a calma do mundo para bater Neuer.
Mesmo assim, o perigo ainda espreitava. Um gol bastava para o Bayern de Munique se classificar. Mas foi então que os madridistas finalmente tiveram o comportamento adequado no jogo. Tomaram as rédeas da partida, buscando não dar nenhuma chance ao azar. Trocaram passes com inteligência e rapidez para criar espaços na defesa adversária. Curiosamente, o terceiro gol saiu quando Marcelo tinha quase nenhum espaço. Ele superou três marcadores e serviu o golpe de misericórdia de bandeja para CR. Asensio, que repetiu no Bernabéu a ótima atuação de Munique, ainda fez mais um, em outra linda jogada individual.
Assim, o Real Madrid alcança a sétima semifinal em sequência na Champions, algo inédito. Oxalá consiga também outro feito nunca antes visto na era moderna do torneio: dois títulos consecutivos.