Lisboa poderia ter sido palco de um reencontro fascinante na noite de sábado, entre Cristiano Ronaldo e Real Madrid. No entanto, nenhum dos dois estará presente no Estádio José Alvalade.
Os dois acabaram elimionados ainda nas quartas de final, antes de conseguirem se encontrar. A Juventus, de Ronaldo, foi eliminada pelo humilde Lyon, enquanto o Real foi facilmente abatido pelo Manchester City, de maneira um tanto embaraçosa.
As duas eliminações expõe um elefante na sala: dois anos após o divórcio inesperado, Ronaldo e Real ainda lutam para provar que estão melhores separados.
À época de sua saída para a Juve, o atacante português escreveu uma carta aberta, dizendo não se sentir mais tão indispensável no Real quanto era antes. Que apesar de todo o "amor e carinho" que experimentou no Santiago Bernabéu, sentiu que era hora de "começar uma nova etapa" na sua vida.
Para completar, Ronaldo ainda agradeceu a todos com quem trabalhou em seus nove anos de Madrid, inclusive o presidente merengue Florentino Pérez. Depois, porém, o camisa 7 apontou que o cartola desempenhou um papel fundamental em sua saída, dizendo que Pérez já não o olhava com tanto amor como antes.
"Foi isso que me fez pensar em ir embora. Às vezes, eu olhava o noticiário, onde diziam que eu estava pedindo para ir embora. Houve um pouco disso, mas a verdade é que sempre tive a impressão de que o presidente não me impediria", explicou o português à France Football.
E ele estava certo. Perez certamente lamentou a saída de Ronaldo, mas também nunca recusaria € 100 milhões (R$ 615,7 milhões, nos valores de hoje) para um atacante de 33 anos - mesmo um tão talentoso Ronaldo.
Além de embolsar a taxa de transferência colossal, o Madrid também aliviou a folha de pagamento, dando adeus ao jogador de maior vencimento no clube. Nesse sentido, a decisão do Real de vender Ronaldo teve tanto sentido financeiro quanto a da Juve em comprá-lo.
Os italianos não estavam no mesmo nível comercial que o Real - e ainda têm muito que fazer a esse respeito - mas o 'efeito Ronaldo' ajudou a diminuir a diferença e a abrir vários novos mercados para a Velha Senhora.
No entanto, havia também, como o presidente da Juve, Andrea Agnelli, se esforçou para apontar, um aspecto esportivo importante na transferência: os italianos não conquistavam a Liga dos Campeões desde 1996; e Ronaldo havia conquistado com o Real Madrid quatro das cinco temporadas anteriores.
No entanto, nem o Real nem a Juve podem reivindicar estar entre as melhores equipes da Europa, como mostram os resultados mais recentes.
O Real ainda está comemorando o título da La Liga, primeiro desde a mudança de Ronaldo - e coincidentemente de Zinedine Zidane, mas a má fase do Barcelona deu uma força na conquista merengue. Fora isso, desde 2018 o time vem em queda livre.
O número de bons jogadores do Real é grande - ainda mais considerando alguns que estão emprestados para outros times -, além de nomes importantes no cenário de Liga dos Campeões, mas que já passaram dos 30.
Além disso, embora Karim Benzema tenha se destacado na ausência de Ronaldo, não há como negar que o Real ainda precisa substituir adequadamente o seu melhor marcador de todos os tempos. E este nome deveria ser Eden Hazard, mas lesões têm atrapalhado o desenvolvimento do belga na equipe.
Madrid, então, continua sendo um trabalho em andamento. O futuro parece brilhante para os Blancos, mas, atualmente, eles não são tão ameaçadores quanto eram com Ronaldo, que tinha o hábito de tirá-los da prisão com sua finalização letal.
Ele tentou fazer o mesmo na Juve, mas sem sucesso.
As boas atuações de Ronaldo - que até lembraram seus tempos de Real - não foram suficientes para embalar na Juve, levando um elenco desequilibrado e envelhecido à glória na Champions.
Ele pode ter sempre dominado as manchetes em Madrid, mas o time do qual fazia parte contava com vários jogadores de grandes jogos, incluindo Benzema, Gareth Bale (quando ele estava em forma e concentrado), Luka Modric, Sergio Ramos, Toni Kroos, Isco e Marcelo.
Além de Paulo Dybala, a Juve não tem nada parecido com o mesmo nível de mudança de jogo, como sublinha a penosa falta de penetração do meio-campo.
E os resultados não vêm. Não foi, sem dúvida, uma grande vergonha chegar a um jovem e excitante Ajax na última temporada, mas perder para o Lyon este ano foi apenas embaraçoso e acabou custando a Maurizio Sarri seu emprego.
Também é significativo que a Juve tenha marcado apenas sete gols nas eliminatórias da Liga dos Campeões nas últimas duas temporadas; e Ronaldo é o responsável por todos eles. Enquanto Higuain vive em decadência e o meio campo da Velha Senhora deixa a desejar.
Além disso, o português ficou claramente insatisfeito com o desempenho da Juve na temporada, apesar de ter levantado o título italiano. "Os fãs exigem mais de nós. Eles esperam mais de nós", escreveu o atacante. Enquanto isso, se especula uma saída do português da equipe.
E é de se perguntar o que Ronaldo, agora com 35 anos, pensa do fato de que o clube está claramente muito mais longe de ganhar a Liga dos Campeões agora do que quando ele chegou.
Ele não se juntou aos italianos para vencer a Série A e sofrer eliminações humilhantes para times medianos da Ligue 1. Ele se juntou para vencer a Liga dos Campeões com um terceiro clube diferente.
Pérez, também, dificilmente teria imaginado que, do seu lado, o Real fosse eliminado nas oitavas de final por dois anos consecutivos.
Ronaldo e o Real passaram bons momentos nos últimos dois anos, mas, desde o divórcio no verão de 2018, os dois não conheceram nada além do desgosto da Liga dos Campeões.
Consequentemente, não haverá reunião neste fim de semana; talvez apenas um sentimento compartilhado de pesar.