Os holofotes estão Modric, Rakitic, Mandzukic, Perisic e Rebic decidindo no ataque, comandando o meio-campo, e em Subasic fazendo milagres e sendo herói no gol. No entanto, a Croácia de Zlatko Dalic tem outros destaques importantíssimos.
Não apenas pelas grandes defesas de Subasic, a equipe tem uma das melhores defesas da Copa do Mundo, com apenas cinco sofridos, que conseguiu parar o melhor do mundo, Lionel Messi, e também o artilheiro do Mundial, Harry Kane, também pelo ótimo trabalho de todo o sistema defensivo, especialmente da última linha de quatro.
Vrsaljko e Strinic fazem ótimas Copas nas laterais, enquanto Lovren e Vida formam excelente dupla de zaga. E o comandante da defesa, que alerta seus companheiros para o posicionamento ideal e lidera a linha, é o defensor do Liverpool.
Sério, durão e de poucos sorrisos dentro de campo e em entrevistas, Lovren faz aquele estilo "zagueiro zagueiro". No entanto, vários de seus companheiros e ex-companheiros já disseram que ele é muito brincalhão, um grande contador de piadas e, no vestiário e longe das câmeras, zoa todo mundo e está sempre dando risada.
No entanto, quem não conhece Lovren e sua história, não imagina tudo que o zagueiro precisou superar para jogar em um dos maiores clubes do planeta e estar na final da Copa do Mundo, que a Croácia jogará neste domingo (15), às 12h (de Brasília), contra a França, em Moscou.
Natural de Kraljeva Sutjeska, vilarejo com pouco mais de 70 mil habitantes, em Zenica, na Bósnia e Herzegovina, Lovren fugiu do país com sua família rumo à Alemanha no início da década de 1990 por conta da Guerra da Bósnia, um dos conflitos mais sangrentos e tristes dos últimos anos.
No documentário Minha Vida Como Um Refugiado, produzido pelo canal oficial do Liverpool no YouTube, o defensor contou um pouco do sofrimento da guerra e da sua vida no período difícil.
Lovren perdeu um parente na guerra, viveu vida de refugiado durante sete anos na Alemanha, mas teve que voltar para a Bósnia aos dez anos de idade.
"Zenica foi atacada porque era uma cidade maior, mas eram os vilarejos menores onde as coisas mais horríveis aconteciam. As pessoas eram brutalmente assassinadas. O irmão do meu tio foi morto à frente de outras pessoas com uma faca. Eu nunca falei sobre meu tio porque é algo complicado de se falar, mas ele perdeu o irmão. Ele era um membro da minha família. Difícil…", revelou.
"Nós tínhamos tudo, para ser sincero. Nunca tivemos problemas. Todos se davam bem na vizinhança – com os muçulmanos, com os sérvios... todos conversavam entre si e curtiam a vida, tudo corria como queríamos. Mas foi aí que tudo aconteceu. Eu gostaria muito de poder explicar a todos, mas ninguém sabe da verdade real. Simplesmente aconteceu. Simplesmente mudou. De repente, havia uma guerra entre três diferentes culturas. Me lembro de ouvir sirenes e eu estava muito assustado porque eu pensava: 'são bombas'", lembrou.
"Lembro que minha mãe me levou para o porão, não sei quanto tempo ficamos sentados lá, acho que foi até as sirenes pararem. Depois, lembro-me da minha mãe, do meu tio e da mulher dele pegando o carro para irmos à Alemanha. Deixamos tudo - a casa, a lojinha com a comida que eles tinham -, eles pegaram uma bolsa e falaram: 'vamos para a Alemanha'", continuou.
"Foram 17 horas de carro até Munique, por conta de todas as paradas de segurança. Por sorte, meu avô morava na Alemanha e tinha os documentos necessários para a gente. Se não, não saberíamos sequer o que fazer. Imagino minha família e eu mortos agora se não desse certo. Um dos meus melhores amigos na escola tinha um pai soldado e eu sempre o via chorando. Perguntei-lhe por que e ele me respondeu: 'Ele morreu'. Então, sabe, poderia ser meu pai ali", se emocionou.
"Minha mãe e meu pai estavam pedindo permissão para ficarmos mais tempo lá (na Alemanha, depois de ficarem sete anos no país), mas a cada seis meses ela era rejeitada. As autoridades diziam que quando a guerra acabasse, nós teríamos que retornar. Então, a cada seis meses, meus pais faziam as malas, prontos para voltarem. Foi muito complicado - você não tinha um futuro na Alemanha", relembrou.
"Então, chegou o dia e eles nos falaram: 'vocês têm dois meses para prepararem suas malas e retornarem'. Foi duro para mim porque eu tinha tudo lá, minha mãe dizia que era nossa segunda casa e era verdade. Eles nos receberam de braços abertos, e não sei que outro país faria isso por nós", lamentou.
Ao voltar para a Bósnia, curiosamente o país que lutava contra aquele em que nasceu, a Croácia, Lovren viveu dificuldades financeiras com sua família. "Estávamos em uma situação financeira difícil. Minha mãe disse: 'Não podemos pagar a conta de eletricidade' e, por uma semana, não tínhamos o dinheiro. A saída nossa era vender o que pudesse ser descartado", recordou.