Durante sua passagem pelo Fluminense, há dois anos, os defensores do técnico Abel Braga diziam que "ele tirava leite de pedra, e que, com um elenco de qualidade, faria muito mais". Tais afirmações partiam, principalmente, de parte da imprensa que ainda insiste em defender técnicos com glórias no passado e insucessos no presente. Agora, no Flamengo, as teorias caíram por terra e quem as propagavam não sabe explicar o fracasso do futebol apresentado pelo rubro-negro.
Não é de hoje que a coluna Ninho do Urubu debate a falta de novas ideias, conceitos e futebol no Brasil. Estamos completamente desalinhados com os grandes centros mundiais. No começo do ano, após a escolha do Abelão como treinador, comentamos sobre o quanto ruim tinha sido o seu último trabalho. Mesmo assim, defensores insistiam que tal geração de técnicos ainda poderia dar certa num esporte que mudou, pelo menos, três vezes na última década.
O futebol apresentado pelo Flamengo é paupérrimo. Em ideias e qualidade técnica. Resultados no fraquíssimo Campeonato Carioca podem ter escondido os problemas. Diretoria e parte da torcida se deixaram enganar vencendo Resendes e Americanos, mas a realidade foi jogada na cara de todos nas últimas semanas. Mais exigido e com adversários levemente mais fortes (não estamos nem falando dos melhores da Libertadores), o time não apresentou absolutamente nada além de desorganização e escalações polêmicas.
Se o desempenho dentro de campo é ruim, nos números piora. Equipe que ainda carece de criatividade e jogadas ofensivas, o time nessa Libertadores teve 32 finalizações ao todo. Foram 18 erradas e apenas 14 corretas. Ou seja, o time leva em média quase 9 minutos por partida para uma finalização e 19 para chutar na direção do gol no torneio. É o 13ª colocado nesse quesito entre os 32 que disputam.
E aí entra uma prática habitual no Brasil - país muito atrasado esportivamente - a de forçar bola na área. Foram 66 cruzamentos nas três partidas, absurdos 51 errados e somente 15 corretos. Destes acertados, quatro foram do lateral esquerdo Renê. Uma média de um cruzamento a cada 4 minutos, maior que a de finalização.
Todo esse raio-X ofensivo ainda tem um agravante: o Flamengo troca, em média, 412 passes por jogo. E em dois jogos da Copa Libertadores teve maior posse que os adversários. Contra o San José, na altitude boliviana, não.
Geralmente quem finaliza pouco e abusa dos cruzamentos são as equipes que pouco conseguem ficar com a bola. Ou que não tenham jogadores de qualidade. Caso totalmente oposto ao Flamengo. Aqui é não saber o que fazer com a posse. Uma vergonha para uma equipe que investiu quase R$ 200 milhões nesta temporada.
Diante desses dados mais precisos e resultados fracos, até mesmo os defensores de que os veteranos técnicos ainda têm a oferecer estão sem conseguir explicar. Mas há sim explicação: o futebol mudou e Abel Braga ainda é adepto de práticas já superadas. Não foi agora que isso ficou evidente, mas há muitos anos. Só nossos dirigentes não viram.
Flamengo, o time de R$ 150 milhões investidos, que comemora empate contra um Fluminense que mal tinha elenco em janeiro...
Ou será que não se importam com isso, apenas que esses profissionais, consagrados e com algum apoio ainda das torcidas, sejam escudos para suas gestões?
Enquanto alguns ainda enganam com discursos que evocam um passado mais distante a cada dia para creditar trabalhos cada vez piores, a torcida fica impaciente e ciente de que está sendo enganada. Só que os nomes estão se esgotando e os resultados desapareceram faz tempo...
Bruno Guedes é músico, apaixonado por futebol e beisebol. Brasiliense por certidão e carioca de coração, acredita no futebol brasileiro e tem Romário como o maior jogador que viu dentro das quatro linhas.