As últimas semanas foram intensas para Heung-Min Son. O atacante do Tottenham entrou para a história do clube de Londres por razões distintas: fez, na vitória sobre o Crystal Palace, o primeiro gol do novo estádio de seu clube em duelo válido pela Premier League; depois, contra o Manchester City, inaugurou as redes da recém-inaugurada casa dos Spurs na Champions, dando a vantagem para a sua equipe no duelo de ida. E na última quarta-feira (17) fez dois gols sobre os Citizens na épica classificação de sua equipe para as semifinais europeias.
Doses cavalares de emoção, mas engana-se quem acha que foram as únicas vividas pelo sul-coreano na atual temporada.
Boa parte dos melhores jogadores do futebol mundial começou a caminhada 2018-19 com um compreensível cansaço. Afinal de contas, para quem esteve na Copa do Mundo de 2018, na Rússia, o descanso entre o final de uma campanha e o início de outra foi menor do que o habitual. Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, por exemplo, sequer disputaram partidas pelas suas seleções na metade final do ano passado. Heung-Ming Son não teve este poder de escolha.
Depois de ter participado do Mundial, inclusive fazendo gol na histórica vitória que eliminou a Alemanha ainda na fase de grupos, Son começou a sua quarta temporada pelo Tottenham ciente de que o primeiro desafio não seria pelo clube londrino. E na cruzada que estava em sua frente, os Spurs não podiam fazer nada que não fosse torcer. O extremo que também é atacante tinha uma obrigação: conquistar a medalha de Ouro nos Jogos Asiáticos, caso contrário poderia passar até mesmo três anos cumprindo o serviço militar obrigatório em seu país de origem.
Ou seja: qualquer coisa diferente do título pela Coreia do Sul arrancaria os melhores anos de futebol do atleta de 26 anos, o que também afetaria profundamente o Tottenham, que investiu cerca de € 30 milhões para contratar o jogador junto ao Bayer Leverkusen, da Alemanha. O serviço militar é obrigatório na Coreia do Sul e conta com apenas duas exceções para atletas: que eles ganhem alguma medalha olímpica ou que recebam o ouro nos Jogos Asiáticos. Como não esteve no elenco que foi Bronze em 2012, na Olimpíada de Londres, Son tinha a última chance para livrar-se deste fardo em 2018.
A caminhada foi difícil, mas terminou após vitória sobre o Japão: 2 a 1, na prorrogação. Medalha ao peito e livre da responsabilidade que praticamente iria acabar com o auge sua carreira, o atacante não segurou as lágrimas. Mas ainda teria muita coisa por vir. O tão sonhado título da Premier League não chegou, mas além de ter escrito o nome na história do Tottenham com os primeiros gols no moderníssimo estádio novo do clube, o maior artilheiro sul-coreano da Champions League (12 gols), foi um dos grandes heróis da partida que levou os Spurs à semifinal europeia – encerrando uma espera que durava desde 1962.
Demonstrando um poder de finalização absurdo, Son manteve o time treinado por Mauricio Pochettino no jogo em 11 minutos iniciais eletrizantes: Sterling fez dois pelos Citizens, mas Heung-Min manteve a sua equipe viva. Em um dos jogos mais emocionantes em toda a história da Champions League (onde a derrota por 4 a 3 serviu para levar o Tottenham adiante), Son deve ter sido um dos únicos a levarem a situação com calma. Também, pudera! O treino psicológico foi dos mais intensos!