O público baiano teve paciência até demais com a seleção brasileira, que ficou no empate sem gols com a Venezuela nesta terça-feira (18), pela segunda rodada do Grupo A da Copa América. E se a partida não terminou com uma vaia tímida e não estrondosa foi por causa do natural descontentamento com a anulação do gol marcado por Philippe Coutinho, após utilização do VAR, nos minutos finais. Júlio Báscula, árbitro chileno, deixou a Fonte Nova como vilão do povo baiano. Mas fez justiça com um roteiro que seria injusto. Pois justamente no jogo em que deveria estar “mais solto” do que nunca, Coutinho decepcionou e foi extremamente protegido por Tite em substituições no mínimo questionáveis.
A seleção brasileira fez um primeiro tempo com alguns momentos interessantes especialmente em sua metade inicial: passes bem trocados no ataque, alguns até bem bonitos de se ver. Mas faltou capricho no último toque antes da finalização. E na finalização em si. Richarlison, em chute cruzado bem defendido pelo goleiro Wuilker Fariñez, foi o único da equipe de Tite que acertou a direção do gol em sua tentativa. No jogo todo! E apesar de ter sido um dos melhores dos 45 minutos iniciais, o treinador do Brasil optou por tirá-lo no intervalo. Uma opção bem estranha. Mas o substituto foi mais estranho ainda.
Não pela escolha de Gabriel Jesus em si, mas por o ter colocado na ponta esquerda quando o ex-palmeirense joga como referência na área. É o artilheiro sob o comando do treinador, com 16 gols! Ora, mas se Jesus entrou quem deveria sair não era Firmino? Nem tanto. Afinal de contas, no Liverpool ele desempenhou muito bem uma função em que recuava quase como um clássico camisa 10 para armar o time campeão da Champions League. Isso, aliás, deixa em dúvida a compatibilidade de um time titular com ele e Coutinho juntos: como ambos ocupam quase a mesma faixa do gramado, falta um atacante para prender a zaga adversária e dar profundidade – enquanto Neres e Richarlison ajudam pelos lados na chamada amplitude.
O destino quis ajudar a clarificar as coisas para Tite quando Firmino serviu Gabriel Jesus, embaixo da trave como um centroavante, para o primeiro gol anulado por impedimento e com ajuda do VAR na Fonte Nova. Chega a ser curioso que a segunda substituição, a mais polêmica sob a ótica do torcedor, que gerou algumas vaias no estádio e memes na internet, tenha sido até a menos bizarra em relação ao que já vimos anteriormente: amarelado, Casemiro saiu para o lugar de Fernandinho.
Coutinho, centralizado na armação do 4-2-3-1, não apareceu para dar o toque final que era tão necessário. A seleção viu o rendimento cair vertiginosamente e o jogo interessante do primeiro tempo deu lugar a uma partida chata. Querendo uma mudança, a torcida, que apoiou o time na maioria de suas manifestações, pediu em uníssono a entrada de Everton Cebolinha. Tite não demorou muito para colocá-lo em campo depois do clamor popular, mas demorou para tomar a escolha segundo seu próprio critério: afinal de contas, o gremista já era o jogador que mais vezes entrou no decorrer das partidas neste ciclo de Copa América – o 12º jogador de Tite. Uma substituição boa, uma mudança que poderia ter sido melhor... se o escolhido para sair fosse Philippe. Não foi o que aconteceu.
David Neres, que embora seja titular na ponta-esquerda da seleção também mostrou no Ajax capacidade para manter o nível do outro lado, deu lugar a um Cebolinha que sob o comando de Tite sempre ocupou a extremidade esquerda. Sentiu-se deslocado pelo flanco destro. Melhor seria ter sacado o camisa 11, recuado Firmino para a criação das jogadas e colocando Gabriel Jesus como centroavante. O Brasil teria o drible de Neres por um lado, o artilheiro destes últimos tempos com a função de fazer gol, Firmino criando e Everton Cebolinha centralizando as jogadas pela esquerda para bater com o pé direito – como fez no golaço contra a Bolívia. E isso para não relembrarmos a saída estranha de Richarlison, desculpável apenas em caso de algum outro problema.
Philippe Coutinho é ótimo jogador. Demonstrou isso nos tempos de Liverpool e até mesmo sob o comando de Tite na primeira fase do Mundial de 2018. Fez dois gols na estreia contra a Bolívia? Ok, mas era a Bolívia. O time pior ranqueado que participa desta Copa América. O primeiro de seus gols foi de pênalti. Causado por Richarlison. O segundo deles foi com passe de um Firmino, como um armador. Contra a Venezuela, sumiu nos minutos finais até o gol que seria anulado pelo VAR. Em jogada espetacular de Everton Cebolinha pela ponta esquerda. Depois da anulação, deu um gás extra e conseguiu protagonizar algumas chances. Mas era tarde demais: para mudar o resultado. E era tarde demais para ele ter seguido em campo. Por teimosia de Tite, que o protegeu exageradamente em suas mudanças.
O futebol nem sempre é justo, mas hoje ele foi ao ter impedido que Coutinho, excelente porém irregular, saísse da Fonte Nova como herói.