Tite testa, com Neymar, histórico com jogadores polêmicos

Tite começou a carreira como treinador em 1990, no Guarani de Garibaldi. Quase três décadas depois, conseguiu se colocar entre os principais técnicos do país: passou por grandes clubes, conquistou tudo o que era possível no Corinthians e desde 2016 comanda a Seleção Brasileira. Depois da lua de mel com torcida e imprensa, que durou até a eliminação para a Bélgica no Mundial de 2018, o gaúcho convive com a pressão de levar o Brasil ao título da Copa América que se avizinha. E também com os questionamentos em relação às polêmicas extracampo de seu jogador mais importante. Algo que não chega a ser, de forma isolada, novidade na carreira do gaúcho.
Antes de trabalhar com Neymar, Tite colecionou uma gama ‘respeitável’ de jogadores considerados polêmicos: Valdívia e Edmundo no Palmeiras, o goleiro Bruno em sua época no Atlético-MG, e, no Corinthians, a lista também foi grande: Fábio Costa, Tevez, Adriano, Jorge Henrique e Emerson Sheik. Nomes que, antes, durante ou depois de estarem sob o comando do atual treinador da Seleção protagonizaram episódios nos quais demonstraram serem donos de personalidades difíceis que, por vezes, culminaram em episódios polêmicos. Atencioso com o lado humano, como gosta de ressaltar, o treinador lidou com os desafios de diferentes maneiras, com diferentes soluções.
Foram dois os casos mais emblemáticos na carreira de Tite anteriores a Neymar. O primeiro de todos, apontado na última segunda (3) pelo próprio como “momento mais agudo” de sua carreira, foi ainda no Guarani de Garibaldi, quando ainda engatinhava na área técnica: “indisciplina de um atleta, que foi tomar uma cerveja porque estava na reserva”. O segundo foi o episódio ocorrido em 2013, meses depois de ter sido campeão mundial pelo Corinthians, quando descobriu uma mentira contada por Jorge Henrique para justificar o seu atraso nos treinos da equipe.
O caso de Jorge Henrique é marcante porque, meses antes de deixar o Corinthians após perder a confiança de Tite, o atacante foi peça importante na vitória sobre o Chelsea no Mundial de 2012. Entretanto, além de ter ferido a relação de confiança com uma mentira, Jorge Henrique não vinha apresentando um bom desempenho naquele início de 2013.
Na Copa Libertadores, por exemplo, foi titular apenas uma vez dentre as cinco oportunidades nas quais entrou em campo. E começou no banco de reservas em sete de seus últimos dez jogos, marcando apenas um gol. Já não era mais o mesmo, e quando uniu à queda de desempenho a quebra de confiança cometeu um pecado mortal sob os olhos do treinador. Jorge Henrique deixou o Timão naquele início de temporada e sua carreira jamais voltou a ser tão vitoriosa.
Emerson Sheik, o exemplo positivo
8 de dezembro de 2018
Uma outra situação em que viu um dos protagonistas de seu elenco lhe causar dor de cabeça aconteceu em 2015, com Emerson Sheik. O atacante, de personalidade polêmica, chegou atrasado a um treinamento do Corinthians e foi afastado. Meses depois, deixaria o Timão para ser emprestado para o Flamengo.
A relação do atacante com Tite, entretanto, sempre foi boa desde sua chegada ao clube alvinegro em 2011. Emerson era visto com desconfiança geral pelo comportamento extracampo, especialmente pela forma como foi noticiada a sua saída do Fluminense – clube pelo qual conquistara o Brasileirão: ele teria cantado músicas do Flamengo no ônibus do Tricolor.
Mas sob o comando de Tite, Emerson viveu a sua melhor fase como atleta e foi herói de títulos históricos, especialmente a tão sonhada Libertadores da América. Quando se aposentou dos gramados, voltando a vestir a camisa corintiana em 2018, Emerson disse que amava Tite: “Ele me ensinou a ser uma pessoa melhor”, afirmou aos microfones do SporTV.
Neymar, “imprescindível” e não "insubstituível"
Em meio à recente acusação contra Neymar, cujo histórico de polêmicas cresceu recentemente fora do campo esportivo, Tite fez questão de demonstrar confiança no seu melhor jogador: “O que eu posso julgar são três anos de convívio que tenho com Neymar, e os assuntos pessoais que tivemos foram sinceros e verdadeiros”, disse antes de deixar evidente também a importância técnica de ter o camisa 10 em seu grupo.
“Tecnicamente, [Neymar] é imprescindível”, afirmou. “Quando a gente fala imprescindível, isso não quer dizer insubstituível. É imprescindível pela qualidade no grupo. Mas insubstituível ninguém é, em lugar nenhum, em nenhum posto”.
Emerson Sheik também foi imprescindível para o sucesso de Tite no Corinthians e a soma disso com a relação sincera que teve com o treinador é um exemplo da habilidade do técnico para lidar com este assunto no âmbito interno – longe das câmeras, construindo uma relação de intimidade que só pode ser destruída por mentiras ou baixo desempenho.
Neymar e Tite possuem uma relação sincera, segundo o treinador. Em campo, ninguém decidiu com mais gols (14) ou assistências (15) do que o atacante desde a chegada do treinador à Seleção. Hoje, essa capacidade para decidir talvez seja o que mais mantenha Neymar com a camisa do Brasil. Mas como o treinador deixou claro, nesta segunda e ao longo de sua carreira na hora de administrar seus elencos, ninguém é insubstituível quando o mais importante a ser feito é o trabalho.