Lucas Moura protagonizou, quarta-feira (08), a maior exibição de um atacante brasileiro na história da Champions League. O camisa 27 fez três gols, um deles no último minuto, e garantiu a vitória por 3 a 2 sobre o Ajax que levou o Tottenham pela primeira vez à grande decisão europeia.
O jogo foi emocionante por uma série de fatores: os dois gols anotados pelos holandeses logo no início, as mudanças feitas por Mauricio Pochettino no intervalo - que provaram ser decisivas - e a escalada épica de Lucas para, com o seu pé esquerdo, garantir a vitória mais emocionante na história de sua equipe.
Foi também um jogo que teve alguns elementos, ainda que alguns isolados, que lembraram especialmente o futebol brasileiro do finalzinho dos anos 1980 até o final da década de 90. O esquema tático dos ingleses no primeiro tempo foi um deles: Pochettino escalou um 4-4-2 com meio-campo em losango, um desenho que já havia aparecido em outros momentos da atual temporada. Mas, em campo, o primeiro tempo dos Spurs apresentou mesmo algo parecido a um 4-2-2-2: Wanyama mais recuado, com Sissoko um pouco à sua frente; Eriksen da direita para o centro mais adiantado e Dele Alli fazendo o mesmo do outro lado; Lucas e Son ficaram soltos mais à frente.
Este desenho mais semelhante a um 4-2-2-2 (que na Copa do Mundo de 2006 decepcionou os brasileiros com o chamado ‘Quadrado Mágico’ no meio-campo) não é dos melhores neste futebol atual, de campos mais reduzidos e muita intensidade pelos lados. Mas é possível imaginar que tenha aparecido mais pelas características de Eriksen e Alli, jogadores que atuam mais pelo meio, do que a pedido do treinador. De qualquer forma, Pochettino voltou para o segundo tempo com uma mudança que fez toda a diferença: sacou Wanyama e pôs o centroavante Fernando Llorente no comando de ataque.
A mudança fez Sissoko recuar um pouco pelo meio: Dele Alli colocou-se mais à frente como meia e Lucas Moura, jogador mais avançado no primeiro tempo, passou a cair mais pelos lados. No entanto, ao invés de ser um extremo, foi muito mais um segundo atacante clássico, daqueles que muito fizeram sucesso no futebol brasileiro dos anos 90. Edmundo e Bebeto, por exemplo, eram jogadores que circulavam pelos lados de campo antes de atacarem a área. Romário fez o caminho oposto: começou como ponta e depois virou centroavante (por isso imortalizou a camisa 11, não a 9), mas em 1994 alternava as extremidades do gramado com Bebeto.
No segundo tempo contra o Ajax, Llorente prendeu os zagueiros e abria os espaços tão bem aproveitados por Lucas Moura, que aparecia sempre com explosão muscular e finalizações certeiras. Deu certo. E já havia funcionado em um passado recente. O ex-jogador de São Paulo e PSG teve três grandes exibições nesta temporada, sob o ponto de vista goleador: contra o Manchester United (2 gols) em Old Trafford, no hat-trick sobre o Huddersfield e obviamente diante do Ajax. Em todos estes jogos o brasileiro fez o papel clássico do segundo atacante à lá anos 90. São estas as similaridades expostas, ainda que de forma mais isolada, neste texto.
Contra o United, na terceira rodada da Premier League, Lucas foi escalado ao lado de Harry Kane em um 4-4-2 em losango. A diferença estava na característica do ataque: embora venha recuando bastante pelo meio, Harry Kane é um jogador com menos velocidade/mobilidade do que Heung-min Son – que atua costumeiramente mais pelos lados. Neste jogo, especificamente, o brasileiro entrou na área até mais vezes do que o artilheiro inglês - movimentação parecida à vista contra o Ajax. Diante do Huddersfield, com Harry Kane já lesionado e substituído por Llorente, aconteceu a mesma coisa: atacou os espaços criados a partir da movimentação do centroavante.
A maior exibição de um atacante brasileiro na Champions League, mesmo que sem querer, também é uma espécie de homenagem à nossa era dourada de atacantes.