Um vez decidido que o cenário deste Mundial de Clubes será a China, a FIFA e o Comitê organizador decidirão as sedes. "O modelo de participação que determine os clubes classificados de cada confederação" se determinará após um processo de consultas entre a Federação Internacional e as seis Confederações.
Desta maneira, o Conselho decidiu que o novo mundial será disputado a cada quatro anos e substitui a atual, cada ano: a forma de classificação, que poderia deixar de fora os grandes clubes europeus.
A princípio, a UEFA conta com oito vagas e, segundo o primeiro critério, seriam ocupadas pelos ganhadores da Liga dos Campeões e da Europa League. Real Madrid e Liverpool (ganhadores das Champions em 2018-2019), mais Atltético de Madrid e Chelsea (vencedores da Europa League nos dois últimos anos) já estão classificados.
Segundo esse critério, clubes como Juventus ou Barcelona poderiam ficar de fora da competição, caso não vencessem a Liga dos Campeões; na FIFA também foi estudado a possibilidade de reservar algum tipo de vaga.
A América do Sul, com seis lugares, propôs através da CONMEBOL a participação dos vencedores da Copa Libertadores e da Copa Sudamericana 2019 e 2020. Eles também podem oferecer dois lugares aos vencedores da Supercopa, competição que recuperou a Confederação Sul-Americana e os clubes que já conquistaram em alguma ocasião a Libertadores.
O restante das vagas (10), se repetirão entre CONCACAF (3) África (3), Asia (3) y Oceanía (1).
É possível imaginar que seja a última tentativa possível da Fifa na busca para valorizar o torneio, que apesar de ser obsessão para sul-americanos nunca conseguiu emplacar definitivamente no mercado europeu – atual dono dos clubes mais famosos do planeta.
Desde a criação da já extinta Copa Intercontinental até o atual Mundial de Clubes da Fifa, em algum momento a desconsideração europeia em relação ao torneio ficou evidente a ponto de colocar em risco a competição.
Violência dos sul-americanos marcou a primeira crise
A primeira edição da Copa Intercontinental, que colocava frente a frente os máximos campeões de Europa e América do Sul, foi em 1960. As disputas mais valorizadas envolveram o Santos, pela idolatria global no entorno de Pelé e pelo momento vivido então pelo futebol brasileiro – bicampeão da Copa do Mundo.
Mas a partir de meados dos anos 60, o torneio também começou a chamar atenção pela violência. Em 1965, torcedores do Independiente atiraram pedras nos jogadores da Inter de Milão, por exemplo. Em 1966 houve a primeira grande briga campal: daquela vez foram hinchas do Racing que atiravam objetos nos jogadores do Celtic, não havia água nos vestiários dos escoceses e a violência em campo seguiu normalizada. Os argentinos ganharam o título em um jogo-desempate realizado no Uruguai que ganhou a alcunha de “A Batalha de Montevidéu”.
O episódio de violência que ficou para a história, contudo, foi a final de 1968 entre Estudiantes e Manchester United, em duelos marcados pela forma desleal com a qual os argentinos entraram na disputa contra os britânicos. No ano seguinte, o mesmo Estudiantes protagonizou outro episódio lamentável contra o Milan: jogadores chutaram bolas em cima dos italianos durante o aquecimento, café quente foi derramado por torcedores sobre os visitantes... a disputa já não chamava mais tanto a atenção dos europeus.
O ponto mais baixo no desinteresse
A década de 70 marcou o ponto mais baixo na falta de interesse europeu. Basta dizer que por duas vezes o campeão do Velho Continente se recusou a participar da contenda: em 1971 o Panathinaikos, então vice-campeão da Europa, aceitou enfrentar o Nacional depois que o Ajax se recusou a disputar o troféu.
Em 1974 o Atlético de Madrid foi campeão ao bater o Independiente, ocupando o lugar do Bayern de Munique, que também não demonstrou interesse em tomar parte do jogo. Este, aliás, é um dos motivos que explicam por que o Mundial de Clubes é um pouco mais valorizado na Espanha do que em outros países além-mar: um dos grandes clubes de lá levantou a taça mesmo sendo vice-campeão da Europa. Até hoje é um motivo de orgulho para os Colchoneros – que por sua vez sonham com a Liga dos Campeões. No ano de 1975 sequer houve disputa entre Bayern e Independiente.
O marketing que animou... mas não pegou (para os europeus)
Como a existência do torneio corria riscos, em 1980 aconteceu a primeira grande mudança: a disputa passou a ser patrocinada pela Toyota e ajudaria a plantar o interesse do futebol para os japoneses. O projeto também foi arquitetado para ampliar o alcance midiático e comercial dos clubes europeus, mas nem isso foi o suficiente para chamar-lhes tanto a atenção – enquanto os sul-americanos seguiram tratando a disputa como se o Santo Graal estivesse em jogo.
Histórico técnico do Nottingham Forest, Brian Clough afirmara que levaria um elenco menor ao Japão somente para cumprir com o contrato. O jogo entre Liverpool e Flamengo, em 1981, não chegou nem a passar ao vivo na Inglaterra, segundo contado pelo jornalista Tim Vickery. Muitos anos depois, o Manchester United chegou a Tóquio para enfrentar o Palmeiras sem trazer um de seus maiores artilheiros, Andy Cole, para que o atacante pudesse descansar. Aos microfones o técnico Alex Ferguson falava na vontade de levantar aquele título em 1999, mas nos bastidores até cancelou treino para seus atletas – que seriam campeões – saíssem para fazer compras.
Entra o Mundial Fifa
Em 2000 a Fifa decidiu se responsabilizar pela organização do torneio e pela primeira vez times não apenas de América do Sul e Europa entrariam na disputa. Um torneio ainda mais mundial foi realizado no Rio de Janeiro e o Manchester United, um dos europeus que aqui estavam, tratou a disputa como se fosse férias. A fórmula de disputa demorou para pegar. E mesmo quando emplacou para o formato atual, o torneio é visto com desconfiança por atrapalhar o calendário do time europeu em questão.
Menor apenas do que a Copa do Mundo
Ciente de que dificilmente conseguiria manter a importância do torneio sem agradar os clubes europeus, ainda insatisfeitos e muito mais focados na tentativa de emplacar uma superliga europeia, a Fifa deu a sua última cartada. A realização de quatro em quatro anos não causa o desgaste anual no calendário, já que vai ocupar a lacuna deixada pela agora extinta Copa das Confederações. Ou seja: ganhou importância e gera expectativa.
Outra decisão da Fifa para agradar os europeus foi... incluir mais europeus! As oito vagas são divididas entre os últimos campeões de Champions e Europa League do ciclo prévio à realização deste novo Mundial. E para premiar a dedicação de sempre demonstrada pelos sul-americanos, lhes foi dado o segundo maior número de vagas (seis) que devem ser divididos entre conquistadores de Libertadores e Sul-Americana.
“O novo (torneio) será uma competição que toda pessoa ... qualquer um que ama futebol, está ansioso por ver. É a primeira Copa do Mundo real e verdadeira onde os melhores clubes competirão”, disse Gianni Infantino, presidente da Fifa, como se colocasse um marco zero na situação a partir de 2021.
Ver times europeus demonstrando o sonho de conquistar o Mundial é o sonho da Fifa, que vê com alerta a sombra da UEFA cada vez maior na esfera de influência, e o torneio que será realizado na China tem este propósito. O que não tira nem um pouco o mérito dos sul-americanos que ao longo de décadas vibraram com a conquista desde os anos 60.