Chamou atenção da imprensa carioca a proibição até mesmo de alguns funcionários do Flamengo de entrar no Ninho do Urubu na terça-feira pela manhã, véspera do confronto com o Grêmio, na semifinal da Libertadores. Jorge Jesus tentou blindar ao máximo os ajustes finais do treino antes da partida decisiva no Maracanã. Uma estratégia usada diversas vezes em Portugal e que certa vez acabou em discussão com um simples funcionário de uma operadora de telecomunicações.
Em outubro de 2007, no comando do Belenenses, tradicional clube de Lisboa, Jesus tinha pela frente o poderoso Bayern de Munique, que contava com Lúcio, Zé Roberto, Toni Kroos, Schweinsteiger, Ribéry e Lukas Podolski, na extinta Taça UEFA (atual Liga Europa). Era possivelmente o desafio mais importante da promissora carreira do treinador, então com 53 anos.
Sempre desconfiado, Jorge Jesus também fechou o treinamento na semana anterior ao jogo contra o time dirigido por Ottmar Hitzfeld. Os jornalistas ficaram do lado de fora do histórico Estádio do Restelo. Em um dos dias, logo nos primeiros minutos da atividade com bola, JJ flagrou um homem pendurado num poste de energia que tinha visão para o gramado. Não pensou duas vezes: começou a gesticular, gritar e acusar o "espião" de ser ligado ao clube alemão.
Depois de alguns momentos de tensão, dirigentes do Belenenses contornaram a confusão e explicaram ao treinador que a pessoa em questão era, na verdade, um eletricista. Estava ali somente para resolver um problema num cabo danificado.
Tendo por trás todo o mistério e também a inusitada polêmica, o time português acabou por fazer um bom jogo frente ao favoritíssimo Bayern de Munique, mas foi derrotado por 2 a 0. Na partida de volta, na Alemanha, novo tropeço, desta vez por 1 a 0.
"Jorge Jesus sempre gostou de trabalhar em total sigilo, por onde passou tantou esconder os treinos. Fez isso no Seixal [Benfica] e em Alcochete [Sporting], mas no Restelo [Belenenses] era mais díficil, por causa da morfologia do terreno. Sempre gostou de apresentar surpresas aos adversários", contou o repórter português Duarte Tornesi, do jornal 'O Jogo'.
"Também tem um histórico de blefes. Na primeira temporada no Benfica [2009/10], por exemplo, num jogo contra o Olhanense, alguns jogadores vinham de lesões, mas ele [Jorge Jesus] fez de tudo para esconder que estavam prontos para jogar. É uma tática de velha raposa", completou.
Para o duelo desta quarta-feira à noite com o Grêmio, vale lembrar, o Flamengo de Jorge Jesus pode ter algumas surpresas. Rafinha e Arrascaeta, que foram desfalques nos últimos jogos, podem pintar na equipe.