"Sabemos que ao menos dez pessoas morreram nesta violência, dois dos quais eram estrangeiros. Não há ira, frustração ou problema que possa justificar esses atos de destruição gratuita e de criminalidade", declarou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa (66 anos), nos primeiros dias de setembro. A xenofobia que vive o país causou uma rápida reação no resto do continente. O futebol, claro, não deixa escapar esta realidade. O espetáculo, aqui, não continua.
Na última data FIFA, Zâmbia e Madagascar cancelaram os jogos que já estavam confirmados. A seleção sul-africana devia viajar a Lusaka, capital de seu grande vizinho do sul, para o jogo amistoso que se disputaria em 7 de setembro. O conjunto da Zâmbia, em um claro boicote por conta dos ataques xenófobos, suspendeu o encontro.
A nação que organizou a Copa do Mundo de 2010, longe de se alarmar demasiadamente, se moveu rapidamente e conseguiu outro rival para jogar na mesma data: Madagascar.
"É um time muito bom e creio que são uma boa substituição. Será uma linda oportunidade para mostrar amor e solidariedade aos nossos irmãos e irmãs africanos", disse o técnico da África do Sul, Molefi Ntseki, às vésperas do jogo programado para acontecer em Johannesburgo. Porém, em que pese as boas intenções do treinador e suas palavras de paz, o jogo também foi cancelado. Por que? Outro boicote que se vê como uma advertência.
"Depois de avaliarmos melhor, decidimos não viajar à África do Sul. Trata-se de proteger nossos jogadores e as pessoas que vivem nesse país", comunicou a federação da nação insular, localizada no Oceano Índico.
Danny Jordaan, presidente da Associação de Futebol da África do Sul, entendeu a recusa: "A realidade é que os jogos contra Zâmbia e Madagascar foram cancelados por conta da violência. Como associação de futebol, país e pessoas, devemos enfrentar isso. O que nunca podemos fazer é nos tirar do continente africano. Nosso destino e nosso futuro estão ligados ao continente".
A violência xenófoba se manifestou sobretudo em Johannesburgo e em Pretoria. Grupos de sul-africanos organizados assaltaram negócios que têm como proprietários imigrantes de outros países africanos. Os nigerianos, especialmente, foram os mais atacados, criando assim fortes tensões diplomáticas com o outro gigante do continente.
As cifras, nesta história, são eloquentes. Em uma semana, se calcula que houve ao menos 12 mortes e cerca de 800 pessoas de origem estrangeira foram retiradas de suas residências. Outra versão do pobre vs. pobre lutando pela menor parte do pastel. O que dizem os donos da porção maior? Não sabem, não contestam.