A polêmica passagem de Gabriel Jesus pelo Corinthians e Palmeiras

BeSoccer há 6 anos 3.4k
Formação de G. Jesus teve passagens por Corinthians e São Paulo e briga judicial. Goal

O atacante jogou nas categorias de base dos principais rivais do Palmeiras e, quando foi renovar o primeiro contrato com o 'verdão', ficou envolvido em uma polêmica de empresários.

A história de Gabriel Jesus no futebol poderia ter sido muito diferente. Ele esteve perto de integrar as categorias de dois rivais do Palmeiras: São Paulo e Corinthians. Deu tudo certo no 'verdão', ele conseguiu ser campeão brasileiro e ir para o Manchester City. Porém, antes de sair, ainda se envolveu em uma briga judicial, que começou a ser desenhada quando ele ainda era uma promessa. 

A primeira tentativa foi no São Paulo. Gabriel foi aprovado, mas Fabio Caran, ex-empresário do atacante, conta que houve um problema de logística: "O Gabriel esteve no São Paulo, passou, mas por ele ser menor de 14 anos não podia alojar. Isso é uma lei federal. E o Gabriel não tinha condições de ir e voltar". O Centro de Treinamento de jovens do São Paulo fica em Cotia, a cerca de 50 quilômetros de onde Gabriel morava, o Jardim Peri. 

Depois, Gabriel passou pelo Corinthians, mas teve dois problemas. Primeiro um erro de avaliação, pois não estavam dando o devido valor a ele. Criticavam principalmente o porte físico e o desempenho nos cabeceios. Depois aconteceu uma história curiosa: "O empresário que cuidava dele teve que viajar e pediu para um amigo levar o Gabriel para o treino. O cara acabou esquecendo. A Dona Vera, mãe do Gabriel, cortou ali, até porque o treino coincidia com horário de escola", relatou Fabio. 

Segundo amigos, Gabriel ficou desanimado com esses problemas. Mas então surgiu o Anhanguera, que ajudou na formação de Gabriel por cerca de um ano e o encaminhou para o Palmeiras. De acordo com Jaime Melo, olheiro que apresentou o garoto ao 'verdão', nem foi preciso fazer testes ou "peneira". Gabriel começou a participar de amistosos com o time Sub-15 e se destacou. Só não jogou o Campeonato Paulista da categoria pelo Palmeiras porque já tinha passado a data da inscrição. 

Nos anos seguintes Gabriel começou a estourar. Bruno Petri, técnico do Palmeiras na época, lembra que os problemas no São Paulo e no Corinthians motivaram o garoto: "Alguns desistem. Mas no caso do Gabriel não. Ele se encheu de vontade e ficou mais determinado do que já era. Isso ajudava a gente no trabalho. Quando você não tinha tempo, ele te pedia porque sabia que era importante". 

Então Bruno testemunhou novas histórias de dedicação e comprometimento de Gabriel. Em algumas oportunidades ele até causou problemas para o técnico, pois queria ficar treinando mais do que devia. O ônibus que levava os garotos de Guarulhos (local do Centro de Treinamento de jovens do Palmeiras) até a cidade de São Paulo precisava ir embora em horários rígidos. Bruno chegou a levar advertência de um coordenador por atrasar a saída, já que ficava treinando com Gabriel por uma hora a mais.

O comprometimento de Gabriel só mudou quando o São Paulo apareceu novamente na vida do atacante: "Em determinado momento a cabeça dele virou um pouco. O São Paulo queria levar ele embora. Vieram muito forte e aí ele se perdeu. Perdeu oportunidades (de gol) fáceis que ele sabia fazer. Era um deslumbramento. Ele se desligou dos afazeres, de fazer um esforço a mais. Foi mudando a personalidade dele pela situação", analisou Bruno, que acredita que o atacante poderia ter problemas se fosse para o Tricolor: "Teria sido diferente. O São Paulo tinha muitos grandes jogadores da geração 97, como David Neres e Lucas Fernandes. No Palmeiras tinha bons jogadores, mas não ao nível do Gabriel. E o Palmeiras precisava de um ídolo".  

Apesar da polêmica com o São Paulo, Gabriel Jesus ficou no Palmeiras. Mas não foi fácil. A renovação de contrato com o clube foi problemática. Primeiro porque o presidente Paulo Nobre alegou que não tinha dinheiro para investir em um garoto de 16 anos. A solução para isso foi dividir a porcentagem dos direitos econômicos de Gabriel: 22,5% ficou com um empresário, Fabio Caran; 22,5% ficou com outro empresário, Cristiano Simões; 25% ficou com o atacante; e apenas 30% ficou com o Palmeiras. 

Isso bastou para resolver a negociação naquele momento, então Gabriel voltou a jogar com tranquilidade e viveu um grande momento: marcou 37 gols em 22 jogos do Campeonato Paulista Sub-17. Depois disputou a Copa São Paulo Sub-20 e logo começaram os pedidos da torcida e a pressão da diretoria para que Gabriel fosse utilizado no time. O técnico do time profissional era Oswaldo de Oliveira, que procurou Bruno Petri para conversar sobre o garoto. Ouviu elogios e a recomendação sobre o posicionamento de Gabriel: era preciso dar liberdade para ele no ataque, sem ficar preso apenas nas pontas ou na área. Mesmo quando não foi escalado assim, Gabriel começou a se destacar. Foi revelação em 2015. Virou realidade em 2016. 

Briga de empresários 

Quando Gabriel Jesus se destacou entre os profissionais do Palmeiras, começaram a surgir propostas de times da Europa, isso gerou um problema relacionado com aquela renovação feita nas categorias de base: o Palmeiras alegou que Fabio Caran fez uma manobra contratual para vender os 22,5% de direitos que detinha. Fabio Caran nega e agora o processo está na Justiça. Ele não quer falar sobre o assunto, por ordem do advogado, mas promete: "Na hora certa as pessoas vão saber de tudo". 

Já Diego 'Fofão', amigo de Fábio que também ajuda crianças do Jardim do Peri por meio do futebol, fala mais. De acordo com ele, o que aconteceu é que o outro empresário de Gabriel, Cristiano Simões, deixou o jogador impressionado por oferecer bens materiais e experiências que o atacante nunca teve antes. Dessa forma, convenceu o garoto a aceitar tudo que o Palmeiras fez sem defender Fabio. "Acredito que o Cristiano usou a estrutura financeira dele para afetar o psicológico do Gabriel. Afeta mesmo. Imagina: um menino que vem sem chuteira, jogando no paralelepípedo, aí chega um cara com chuteira nova e diz: 'agora sou eu'. Faltou um pouco de caráter pro Cristiano". 

Mas a maior bronca de Diego é com Gabriel Jesus. Ele alega que Fabio Caran apresentou a proposta do Manchester City, mas o atacante desdenhou. Disse que preferia jogar no Barcelona ou no Real Madrid, clubes que estavam negociando com Cristiano e com a empresa Energy, ligada a Ronaldo Fenômeno. "Ele falou: 'quem é Fabio perto do Ronaldo?'. Ali vi que ele mudou. Vi que não era o Gabriel do Peri". Mas depois, surpreendentemente, Gabriel aceitou ir para o City, convencido por uma ligação de Pep Guardiola.

A reportagem da 'Goal' procurou Cristiano Simões, mas ele disse que não dá entrevistas. A briga será resolvida na Justiça. O Palmeiras teve uma vitória na ação que moveu contra o Fábio. Mas o mérito do processo contrário, de Fábio contra o Palmeiras, ainda não foi julgado. 

Mencionados na notícia