Calvozzo: A hipocrisia não é privilégio do Corinthians

BeSoccer há 6 anos 899
O atacante do 'Timão', na 'cena do crime'. Goal

Lance polêmico de Jô serve para mostrar como o futebol brasileiro vive cercado de fatos que apenas tentam, para dar uma falsa satisfação ao torcedor.

A cada lance duvidoso, um escândalo. A cada jogada que alguém entenda que não está dentro do padrão da moral e bons costumes, uma crucificação. A bola da vez deste fenômeno que toma conta do futebol brasileiro é o atacante Jô, que dessa vez passou a ser o protagonista da ação daqueles que não perdoam qualquer atitude diferente da que um bom samaritano apoiaria.

Sinceramente não acho que tenha havido um crime mortal nesta jogada do atacante corintiano, ele simplesmente deixou o lado boleiro falar mais alto e acabou preservando sua própria carreira. Tente deixar a paixão de lado e analise toda a situação friamente.

Quando esteve no papel de “vítima” do famoso caso que envolveu Rodrigo Caio, que admitiu não ter cometido falta contra o rival, Jô fez questão de enaltecer a postura de seu adversário e ali disse que todos os jogadores deveriam agir da mesma forma. Talvez esse tenha sido o seu grande equívoco, afinal de contas quem vive no mundo da bola sabe que isso não acontecerá tão cedo, nem mesmo vindo da parte do próprio Jô como foi provado agora.

Bastou que os papéis se invertessem para que ele não cumprisse sua própria determinação hipócrita. O camisa 9 utilizou o braço, fez o gol de forma irregular, como qualquer boleiro faria, e o 'Timão' faturou os três pontos. Caberia ao árbitro interferir na jogada e punir o atacante, mas ele não teve capacidade para isso.

Mas o drama não termina por ai. Ao ouvir as declarações do procurador do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Felipe Bevilacqua, tive convicção de que Jô agiu corretamente ao não assumir o seu erro, por mais que isso possa soar de forma bizarra. Ao ser questionado se a ação seria passível de punição por parte da Justiça Desportiva, o representante do STJD garantiu que não, pois na jogada houve uma falha na interpretação e não um erro de direito. A punição só poderia ser aplicada caso o atacante admitisse publicamente que tirou proveito da jogada de forma intencional! Ou seja, se Jô se entregasse poderia ser punido!

Ora, o que devemos esperar do jogador então? Vivemos em um mundo hipócrita cercado de muitos falsos moralistas, que se colocam acima do bem e do mal para julgar seja lá quem for. Quem se lembra do caso Valdívia, que em 2013 foi punido por dizer que havia forçado um cartão amarelo para cumprir a suspensão automática enquanto servia a sua Seleção? Por mais que não esteja na regra, essas ações fazem parte do esporte, ou será que os fãs de Maradona e Túlio Maravilha não comemoram os gols desses artilheiros, quando eles usaram da mesma tática de Jô? Aliás, gostaria de saber uma única torcida da Série A que não tenha ficado feliz e vibrado com alguma jogada equivocada por parte das arbitragens em algum momento de sua história.

Aí para completar o circo hipócrita, chega a CBF e diz que passará muito em breve a usar o árbitro de vídeo. Até aí tudo bem, acho que é o caminho natural das coisas, mas como isso será feito? Será que com toda essa pressa os árbitros terão tempo de adaptação e treinamento ideal para tal novidade? Ao que tudo indica, em pouco tempo estaremos assistindo mais um show de horrores que justificará que a ação não presta e que a inclusão deste método é um equívoco.

Mas o drama é bem pior do que isso. Quem ficará responsável pela geração e edição das imagens dos lances duvidosos? Ao contrário das ligas europeias e de torneios da Fifa, nossa Confederação não gera suas próprias imagens e depende da operação da 'TV Globo' para isso. Ou seja, a partir de agora a maior emissora do país passa a ser um elemento oficial dos jogos, pois poderá definir lances a partir do conteúdo gerado ou não por ela.

Resumindo, o lance do Rodrigo Caio gerou uma declaração hipócrita de Jô, que ficou refém da mesma quando passou para o outro lado. Sendo assim, ele precisou bancar a sua postura pra lá de duvidosa para não ser punido pela legislação, que nada pode fazer, já que o atleta não reconheceu isso publicamente. Então, para terminar com a polêmica, a CBF decide trazer uma novidade para o país, mesmo sabendo que não irá operar o sistema que dizem ainda não estar em prática, mas que na opinião de muitos já faz parte da rotina das partidas do Brasil.

É ou não é muita hipocrisia reunida? E vida segue no país da Lava a Jato!

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