''Em França pensam que ainda não entrámos em campo e já ganhámos''

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''Em França pensam que ainda não entrámos em campo e já ganhámos''. EFE

Didier Deschamps pede seriedade. O técnico da Seleção de França falou com 'EFE' sobre serem favoritos no Euro, o regresso de Benzema, Antoine Griezmann e se acredita que o seu lugar está em risco depois de Zinedine Zidane ter ficado livre.

O selecionador francês, Didier Deschamps, sabe que tem o autocolante de favorito, mais ainda depois da reintegração de Benzema, que lhes abre ''novas opções no ataque'', o setor onde ''há mais margem para melhorar'', mas assegura que trabalha para que a ambição não se torne em ''excesso de confiança''. 

''Para além da qualidade, há outros ingredientes indispensáveis a nível mental, agressividade e determinação que nos permitiram ganhar em 2018'', afirma numa entrevista com 'EFE' e um pequeno grupo de jornalistas internacionais. 

Pergunta: Vai ser um Euro especial devido à pandemia. Isso preocupa-o?

Resposta: Temos que nos adaptar. Há uim a pequena vantagem para os países que podem jogar na sua casa. Planificamos tudo há meses. 

P: Quais são as seleções favoritas?

R: Há sempre cinco ou seis nações que têm a ambição de ganhar o troféu. Alemanha, Espanha, Itália, Inglaterra, Holanda, Bélgica, sem esquecer Portugal e a Croácia estarão na reta final. Há outros que podem ter essa ambição, mas estes têm sido sempre os mais fortes.

P: Porque é que acredita que o Euro é mais difícil que o Mundial? 

R: Num Mundial, num grupo de quatro, há sempre um ou dois mais fracos. Agora nós somos três fortes. As coisas mudaram. As grandes seleções estão habituadas a subir de nível à medida que avança a competição. Mas na Rússia vimos que se não estás pronto desde o início podes ir para casa. As diferenças foram reduzidas, os menos fortes trabalham bem, progridem e há que estar atento desdo o princípio. 

P: França tem muito pontencial, se não ganhar será um fracasso? 

R: De seguida fala-se de fracasso. Somos campeões do mundo. Sou consciente, e os jogadores também, da nossa força. Temos qualidade, talento, jogadores de alto nível, mas também vamos enfrentar isso. Não podemos estar numa situação de conforto. Em França muitos pensam que não temos de entrar em campo sequer e já ganhámos. É o pior para um atleta de alto nível. Para além da qualidade e talento, há outro ingredientes indispensáveis a nível mental, agressividade e determinação que nos permitiram ganhar em 2018. Ganhar ao mais alto nível é muito difícil e manter-nos no topo ainda mais. Mas temos jogadores com essa ambição, temos que evitar que se converta em excesso de confiança. Há que ir superando etapas. Não podemos pensar hoje em Wembley, antes temos que ir a Munique e duas vezes a Budapeste. 

P: Está sempre muito preocupado com a vida em grupo da sua seleção, o regresso de Benzema criou algum problema? 

R: Não houve nenhum problema em relação a isso. Zero. Foi algo que pensei. Se tomei essa decisão é porque sabia que não teriamos nenhum problema. Imagino que no estrangeiro, em Espanha sobre tudo porque ele joga no Real Madrid, mas também em França, há gente que pensa assim. Mas dentro da concentração não é um problema. Veio para um grupo que já conhecia a maioria dos jogadores. Aconteceu tudo de forma natural, não houve que forçar nada nem de um lado nem do outro. A minha atitude com ele, com os outros, é fluída e natural. 

P: O que é que pode melhorar na sua equipa com Benzema? 

R: Tem essa capacidade, pelo seu jogo ofensivo, pelo seu perfil, de fazer coisas diferentes dos jogadores que utilizava antes. Carrega outras opções. Terei que fazer ajustes para encontrar a complementariedade. Não somos menos fortes com ele. Somos mais fortes? Creio que sempre se pode melhorar, sobre tudo no ataque. Onde há mais margem para melhorar é na animação ofensiva. Tenho 8 jogadores ofensivos com perfis diferentes, que acarretam propostas difrentes, com sistemas diferentes. Não posso fazer tudo, mas tenho várias opções. 

P: A sua presença faria mudar a posição de Mbappé? 

R: Há diferentes possibiliadades. Tento pôr todos os jogadores nas suas melhores posições. Karim não é um avançado com Giroud, que é mais um avançado fixo. Karim gosta de se mover para a direita e para a esquerda. Kylian também, ainda que em alguns jogos jogue como avançado centro. Tudo irá depender do rival. E não estão sós. Há que acrescentar Griezmann e posso pôr outros jogadores ofensivos. Tenho diferentes opções. Se tenho a necessidade de o fazet, não nenhuma incopatibilidade de associar jogadores de qualidade. Tem essa inteligência me campo e trabalhámos para ter opções difrentes e cada um dê o seu melhor rendimento. 

P: A França que ganhou o Euro de 2000 era mais dura do que a que venceu o Mundial de 1998, acontece o mesmo agora?

R: Em 1998 havia jovens de 18 anos que dois mais tarde, sobre tudo no setor ofensivo, eram mais maduros, tinham progredido. Agora tenho muitos que estavam em 2018 e que continuam, não só jovens. Não gosto de comparar. Não tenho menos força do que em 2018. Inclusivamente, diria que há mais opções ofensivas hoje que há três anos. 

P: Acredita que Luis Enrique correu risco com tanta renovação em Espanha? 

R: Não tenho todos os dados, mas se tomou essa decisão é porque pensou que era o melhor. É difícil. Falei com Löw no Mundial de 2018 quando conservou os mais veteranos. Se lhe sai bem é um êxito apostar na experiência. Se não, tem um problema. Eu também tive que decidir e optei por uma equipa jovem. Luis Enrique teve que tomar decisões importantes a respeito de alguns jogadores. Em França os futebolistas também não querem deixar de forma voluntária. Nunca querem que acabe. É difícil explicar-lhes que os vais deixar de fora para o bem da equipa, mas é a vida de todos os selecionadores. 

P: É o caso de Sergio Ramos? 

R: Desconheço o que tenham falado, nem a sua condição física. São elementos que de certeza tiveram em conta. Luis Enrique teve isso em conta. Não o julgo, mas estou seguro, porque sou selecionador, que quando tomas uma decisão tão importante estás a fazê-lo em serviço da seleção, não pelo seu interesse pessoal. 

P: Porque é que Griezmann é tão diferente na Seleção e no Barcelona? 

R: Ainda que tenha passado momentos muito difíceis no Barcelona, no final da sua temporada o seu rendimento foi bom. Mas tudo depende dos seus companheiros, do sistema, do posto em que joga. Eu tive que pôr também em posições que não eram as melhores. Aqui não tem os mesmo companheiros, não joga no mesmo sistema. Aqui tem pontos de referência, sabe o que espero dele, tem um espaço trabalhado por ele. Igual que o Messi tem um lugar predominante no Barça. O ideal para todos os treinadores é que estejam todos na melhor posição. E nem sempre é fácil. Antoine tem um lugar muito importante na Seleção, pelo que faz e pelas estatísticas. Marca e faz marcar. 

P: Mas com França é o líder...

R: É um líder técnico pelo que faz em campo, mas não é alguém que goste de ter a palavra. Suponho que no Barcelona também não o faça. Entraga-se bastante, é generoso e isso tem influência. Tem o recorde de mais jogos consecutivos conosco. é um jogador sólido, que tem lesões, que tem uma capacidade atlética fora do normal num avançado e tem essa capacidade técnica, é decisivo no jogo e nas jogadas de bola parada. 

P: Zidane saiu do Real e agora não tem equipa. Sente a sua sombra sobre o posto que ocupa agora?

R: Nem penso nisso. O mesmo aconteceu em 2018, quando saiu do Real da primeira vez e eu defrontava o Mundial. Estou na mesma situação, ainda que é certo que agora sou campeão do mundo. Mas tenho contrato até 2022. Não penso nele como não pensava em 2018.  

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