Novo camisa 10, Willian personifica o trabalho de Tite na seleção

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Willian é o substituto de Neymar para a Copa América. Goal

O técnico preencheu a vaga deixada por Neymar com aquilo que já conhecia, que tem suas qualidades e competência, mas que ainda não entregou resultado.

Tite possui vários argumentos para explicar e defender a escolha por Willian, convocado para substituir o cortado Neymar na Copa América de 2019. Número de assistências, importância exercida dentro de seu clube, experiência com a camisa canarinho e o fato de conhecer bem o atleta. Elas são válidas, até. É possível ver a coerência do treinador, que fez prevalecer a sua lógica acima de qualquer coisa: seguiu cegamente o seu manual de ações. Arriscar com Vinícius Júnior e abraçar o clamor popular? Não. Apostar em Lucas Moura, sensação no Tottenham? Muito menos. Pressionado por resultados, decidiu com pragmatismo e dentro do que estava em seu processo.

A perda de Neymar até pode ter representado, especificamente dentro do contexto dos últimos meses, um alívio sob o aspecto extracampo, já que o melhor jogador do Brasil traz em seu pacote tantas polêmicas quanto dribles, gols e assistências. Mas talvez seja neste último fator, o passe para o gol, que a seleção mais possa sentir a sua falta: Neymar é agudo, parte para cima do adversário, circula o campo e cria muitas chances. Boa parte delas terminam nas redes. Se divide a artilharia da ‘Era Tite’ com os mesmos 14 gols de Gabriel Jesus, não há comparação nas assistências: foram 15. Quem chega mais perto, embora ainda longe, é justamente Willian: foi garçom oito vezes.

É um dos fatores que ajudam a explicar a escolha do técnico, divulgada nesta sexta-feira (07). Se perdeu quem tinha o melhor passe final, chamou o segundo da lista. Philippe Coutinho e Gabriel Jesus dividem a terceira posição deste ranking: cada um serviu seus companheiros cinco vezes sob as ordens de Tite. No Chelsea, onde joga há seis temporadas e é ídolo, Willian teve o pior número de gols feitos desde 2015 (8), mas bateu o recorde pessoal de assistências desde sua chegada por lá (13). Mesmo assim, não foi a opção principal do técnico Maurizio Sarri para o jogo mais importante dos Blues na temporada. O brasileiro começou no banco a final de Europa League contra o Arsenal, entrando quando o título estava praticamente garantido. Ou seja: não fez sua melhor temporada e isso até pode explicar por que não entrou na lista inicial da Copa América.

Fosse Willian o único disponível, a repercussão negativa com a inclusão de seu nome pudesse ser menor. Mas o que não falta no Brasil é o que Tite gosta de chamar de “extremos desequilibrantes”, os pontas que abrem espaço nas defesas adversárias e criam chances no terço-final do campo. Dois deles foram mais “desequilibrantes” do que Willian na temporada. Lucas Moura, quatro anos mais novo, ofereceria opções boas em todas as funções de ataque. Chegaria com a confiança em alta depois de ter feito milagre ao levar o Tottenham à final da Champions League. Vinícius Júnior, que acabou de sair da adolescência, encantou o torcedor do Real Madrid e chamou para si o protagonismo em um clube que acabara de perder Cristiano Ronaldo: oferecia dribles, assistência e acima de tudo ousadia. Sorriso e capacidade para decidir através do improviso – quer coisa mais brasileira do que isso?

Acima de tudo o que mais incomoda o torcedor não é Willian, pessoalmente, e sim a lembrança que ele traz à tona vestindo a camisa do Brasil: reserva de Neymar no Mundial de 2014, um dos tantos nomes marcados pela sucessão de insucessos que vieram depois daquilo – incluindo duas campanhas ridículas da seleção nas Copas Américas de 2015 e 2016. Ao invés de olhar para a frente, com opções como Lucas Moura ou Vinícius, a impressão é de que Tite olhou para trás ao optar por Willian. E o passado recente da seleção não é motivo de felicidade para os torcedores.

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