Sampaoli deixa o Atlético-MG como decepção, refém do que ele próprio gerou

BeSoccer há 3 anos 221
Sampaoli deixa o Galo como decepção, refém do que ele próprio gerou. Goal

O argentino teve, no Galo, praticamente tudo o que pediu, com quase R$ 200 milhões em contratações, mas time não passou confiança no fim.

Dizem que a expectativa é “a mãe da decepção”. Jorge Sampaoli chegou em março ao Atlético-MG e o torcedor alvinegro tinha todos os motivos do mundo para sonhar que a temporada 2020 poderia, enfim, terminar com o tão sonhado bicampeonato brasileiro – grito preso na garganta atleticana desde sua única conquista da primeira divisão, em 1971.

O Galo até foi candidato, embora as rodadas finais tenham ficado marcadas por derrapadas que passaram a impressão concreta de que o título não viria. E não veio. E Sampaoli agora foi embora, rumo ao Olympique de Marseille, deixando um toque de decepção no ar.

O Atlético foi campeão mineiro com o técnico argentino, brigou pelo título brasileiro e já está garantido na fase de grupos da próxima Libertadores. Até esta penúltima rodada de Brasileirão em que contou com Sampaoli (cujo último jogo pelo clube foi marcado por mau comportamento e expulsão na vitória sobre o Sport), o Galo foi o time com o segundo melhor ataque da competição (62 gols, atrás só do Flamengo), equipe que mais criou chances (451) e a que teve a maior posse de bola em média (61.3%).

Uma avaliação completamente fria aponta uma boa temporada, mas uma contextualização sobre a passagem do argentino pelo clube mostra que é bem difícil não usar o rótulo de “decepção” para avaliar sua etapa como atleticano.

Pois se a expectativa que se tinha sobre o seu trabalho já era bastante alta, por causa da excelente campanha que fez em 2019 ao levar um Santos sem estrelas ao vice-campeonato brasileiro, o Atlético fez tudo o que Sampaoli pediu: contratou. E contratou muito. E mesmo com vários nomes de destaque chegando (como Eduardo Vargas, Keno, Marrony, os ex-santistas Eduardo Sasha e Everson e outros mais), volta e meia surgia a notícia de que o argentino seguia insatisfeito e continuava a pedir mais contratações.

De acordo com matéria do UOL, todo o pacote Sampaoli custou mais de R$ 320 milhões – sendo pouco menos de R$ 200 milhões em contratações. É muita coisa. Hulk e Ignacio “Nacho” Fernández, inclusive, já foram contratados para 2021.

Dentro de campo, o Atlético-MG de Sampaoli alternou momentos em que encantou muito, com seu futebol ofensivo e de muitas variações, com os que decepcionou em igual medida.

O excesso de derrotas inesperadas, contra equipes que lutavam na parte de baixo da tabela, foi minando as chances de título do Galo – dentre os candidatos à taça, o time alvinegro foi o mais derrotado, acumulando dez revezes.

Ainda assim, conforme lembrado pelo jornalista Paulo Vinícius Coelho, do Grupo Globo, esta foi apenas a segunda vez em 17 anos de Brasileirão por pontos corridos que o Atlético chegou à 36ª rodada ainda com chances de ser campeão.

Nas temporadas 2012 e 2015, quando foi vice, o Galo já não tinha mais chances matemáticas na reta final. Hoje ocupa a terceira posição, sem chances de título.

Ou seja: na frieza dos números e da realidade moderna do Atlético-MG, a temporada de Jorge Sampaoli foi melhor do que a média. A questão é que o clube também se propôs a gastar dinheiro além da média, ainda que contando com mecenatos, dando tudo o que o seu treinador pedia - algo muito raro de acontecer no cenário brasileiro.

É impossível não destacar um caráter de decepção no único ano de Sampaoli como técnico do Galo. O argentino, que agora retorna para o futebol europeu, gerou expectativas duplicadas, por sua capacidade e insistentes pedidos de contratações.

"O ano de 2020 foi duríssimo para a humanidade. Nós temos de ser criativos e quisemos construir um time que, ao passar na TV, fizesse esquecer a tristeza por um momento. Não nos propusemos simplesmente a ganhar: tentamos ser felizes”, escreveu Sampaoli em parte de sua carinhosa carta de despedida ao clube.

A torcida atleticana, ansiosa para soltar o grito que está entalado, esperava ter sido mais feliz.

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