A maior dor de cabeça para o técnico Fábio Carille, no Corinthians, é o setor de criação. Não é segredo para ninguém. Desde o início do ano várias alternativas vêm sendo testadas, e durante a pausa para a Copa América o técnico não conseguiu testar opções que lhe convencessem a tirar Junior Sornoza do time titular. Na vitória por 1 a 0 sobre o CSA, domingo (14), o equatoriano foi destaque nas estatísticas... mas a frieza dos números na realidade esconde uma exibição longe do ideal.
Nenhum meia criativo deu mais passes-chave do que Sornoza [8, segundo a Opta Sports] nesta décima rodada. Mas se não faltou tentativa, a qualidade ficou a desejar. Até porque o adversário, dentro da Arena Corinthians, era o vice-lanterna do Brasileirão. Um CSA com uma das piores defesas desta Série A. O time alagoano só não foi presa mais fácil devido à pontaria ruim na maior parte das finalizações corintianas: foram 27 no total, somente oito na direção do goleiro. Sornoza arrematou, sozinho, oito e acertou o gol três vezes. Finalizado a partida, foi elogiado por Carille.
“Vi Sornoza mais perto da área, Urso fazendo as combinações com Pedrinho e Fagner no primeiro tempo. Essa está sendo minha busca. Hoje demos um passo importante. Tem uma semana inteira para trabalhar e entrar contra Flamengo, Sul-Americana, Fortaleza e depois o segundo jogo no Uruguai. Tivemos um crescimento legal. Não fizemos os gols, mas criamos. Estávamos com dificuldade, mas criamos mais do que o normal”, disse após a vitória por 1 a 0, placar bem magro para quem teve a segunda maior marca de arremates até o momento na Série A.
Mas de que adianta muito tentar quando você pouco acerta? O Corinthians foi muito mais vontade do que qualidade, e os números podem evidenciar muito mais a crise para encontrar o camisa 10 ideal. Tanto, que a assistência para Vagner Love enfim estufar as redes, já na parte final do segundo tempo, foi dada pelo argentino Mauro Boselli, que entrou no decorrer da etapa derradeira, transformando o desenho corintiano temporariamente em um 4-4-2, e fez apenas dois passes. Um deles foi justamente o que furou a defesa e possibilitou a boa finalização de Love.
Apesar de Boselli ter sido um centroavante goleador durante grande parte de sua carreira, no Corinthians vem aparecendo costumeiramente longe da área, buscando o jogo. No Timão lhe faltam os gols: apenas dois em 27 partidas é muito pouco. Isso não quer dizer que o argentino tenha que jogar centralizado como meia. Muito pelo contrário. Mas Boselli é um dos jogadores com maior capacidade técnica com a bola no pé. Esta qualidade se fez presente na assistência para Love, que foi substituído logo depois. Um contraste com o excesso de tentativas feitas pelo equatoriano.
O contraponto para o Corinthians nesta rodada foi o Flamengo, adversário na 11ª rodada. Na goleada por 6 a 1 sobre o Goiás, o Rubro-Negro bateu o recorde também de finalizações [27] neste Brasileirão, mas boa parte delas levou perigo – tanto que os cariocas tiveram aproveitamento de 66.6% destas tentativas em relação a 42% dos corintianos. Uma goleada marcada pela exibição de Arrascaeta, um dos melhores meias em nosso futebol.
Carille precisa seguir em busca de uma solução para o problema criativo deste Corinthians, que como ponto positivo segue a ter uma defesa confiável. Somar apenas muitas tentativas não é o bastante quando o que falta, de verdade, é a qualidade no último passe