Coutinho e Gotze erraram, mas Klopp avisou

Mario Gotze ficará sem clube e está livre para assinar, sem custos, por qualquer equipe. Philippe Coutinho não convenceu o Bayern a pagar ao Barcelona o valor para tê-lo em definitivo e vê seu futuro incerto e longe do que nós esperávamos. As duas notícias foram dadas em um mesmo fim de semana e mostram, dentre muitas coisas, a visão acertada que teve Jurgen Klopp em sua avaliação ao perder a dupla.
Tanto Gotze quanto Coutinho foram, respectivamente por Borussia Dortmund e Liverpool, dois dos principais meias de criação nos trabalhos de Klopp. Os jogadores que criavam espaços inimagináveis através de passes certeiros para os atacantes, ao mesmo tempo em que também marcavam seus gols e ajudavam as equipes treinadas pelo carismático técnico alemão a terem fluidez nos gramados.
Criado nas divisões de base do Borussia Dortmund, Mario Gotze fez sua estreia profissional sob o comando de Klopp, em 2009, e rapidamente se colocou como um dos protagonistas do time aurinegro que conquistou um bicampeonato da Bundesliga (entre 2010 e 2012, além de uma Copa da Alemanha) e que encantou a Europa na campanha 2012-13 dos borussianos na Champions League.
Pouco antes de um jogo decisivo contra o Real Madrid, pela semifinal europeia, a notícia de que o Bayern pagara os 37 milhões de euros de multa rescisória e que Gotze aceitara os termos, pegou todos no Borussia Dortmund de surpresa. Klopp, inclusive.
“Eu não conseguia falar. Não consegui sair com minha mulher naquela noite”, relembrou Klopp em entrevista ao The Guardian. No livro “Klopp”, escrito pelo jornalista Raphael Honigstein e publicado aqui no Brasil pela editora Grande Área, testemunhas relatam que o treinador teve uma conversa com Gotze, dizendo que o então jovem meia estava cometendo um grande erro. Não apenas por estar pensando em sua equipe, mas, segundo descrito, por se preocupar com o jogador. Para piorar as coisas, os Bávaros viriam a vencer os aurinegros na final da Champions League naquela temporada.
No Bayern, Gotze alternou bons e maus momentos e conquistou títulos nacionais sob o comando de Pep Guardiola. Mas não virou o jogador que muitos esperavam que seria. É verdade que fez gol em final de Copa do Mundo, em 2014, mas não era nem titular naquela seleção. Até mesmo Franz Beckenbauer disse, em entrevista ao Mundo Deportivo, que Guardiola não sabia como usar corretamente o jovem alemão. Quatro anos depois, Gotze fez críticas ao catalão enquanto exaltou Klopp.
“Ele (Klopp) me ensinou tudo sobre o futebol profissional. Na época, eu tinha apenas 17 anos e subia das categorias de base. Ele me apresentou a tudo. Ele me deixou jogar”, afirmou em 2018 para o site da Bundesliga. “Tecnicamente, Guardiola foi um grande trunfo. Mas ele é muito focado no jogo e não pensa nos jogadores fora dos planos dele. Ele não tinha muita empatia e empatia faz parte de ser um treinador de primeira classe”.
Gotze retornou, em 2016, a um Dortmund sem Klopp e viveu um drama em meio a um problema metabólico que inclusive o tirou dos gramados durante um tempo. Jamais, contudo, voltou a apresentar o brilho e consistência que teve sob o comando do hoje técnico do Liverpool. Nesta sua segunda passagem pelo Borussia, não chegou a ser titular e seu contrato não foi renovado.
Anos depois, já como treinador do Liverpool, Klopp tinha em Philippe Coutinho um dos principais jogadores de sua equipe. O brasileiro dava boas assistências e fazia alguns golaços. O talento demonstrado com a camisa vermelha da Cidade dos Beatles levou o Barcelona a oferecer 130 milhões de euros, além de outras variáveis, para contratá-lo em 2018.
E ainda que tenha feito esforços para manter Coutinho, Jurgen Klopp não teve dúvidas de que seria uma boa vender o seu camisa 10: pelos valores envolvidos, mas acima de tudo pelo plano tático que passou a querer empregar nos Reds.
Segundo noticiado pelo jornal El País, que escutou uma fonte próxima ao treinador alemão, Klopp decidira mudar de vez o desenho do Liverpool para um 4-3-3. Sob tal esquema, Coutinho teria vaga apenas na ponta e disputaria posição com Mohamed Salah. A matéria prossegue, dizendo que quando soube do interesse do Barcelona no brasileiro, Klopp gargalhou, uma vez que acreditava ser improvável ver Coutinho dando certo no Barça – onde chegou com a expectativa de substituir Iniesta.
“Coutinho é um fabuloso atacante, mas nunca se sentirá confortável no 4-3-3 atuando por dentro; e muito menos se tiver que jogar no posto de Iniesta no 4-4-2 que Valverde (então técnico do Barcelona) pratica na fase defensiva, no qual os deslocamentos mais longos devem ser feitos pelos alas. Iniesta é um organizador. Coutinho não”.
Em entrevista recente ao Pure Football Podcast, Klopp disse o seguinte sobre a saída do brasileiro: “Eu realmente respeitei a troca de Phil desde o primeiro segundo (também pelo sonho do brasileiro em atuar pelo Barcelona). Não que eu faça isso o tempo todo".
Philippe Coutinho não convenceu o Barcelona, que nesta temporada o emprestou ao Bayern de Munique. Na Alemanha, apesar de seguir mostrando o seu talento, o ex-vascaíno não foi tão decisivo quanto se esperava e viu concorrentes de sua posição (Muller, Gnabry, Coman e Perisic tiveram melhores médias de assistências esperadas por 90 minutos do que Coutinho) serem, em média, mais decisivos. O seu futuro hoje é uma incógnita, ainda mais depois que o Bayern confirmou: não irá pagar os 120 milhões pedidos pelo Barça para ficar em definitivo com o camisa 10.
Mas é possível imaginar que Klopp não teria ficado absolutamente tão impressionado com o destino de dois de seus mais talentosos jogadores.