Felipe Neto e Honda ajudam a contar crise do Botafogo em 2020

Resultados ruins, briga contra o rebaixamento no Brasileirão e mais uma eliminação histórica na Copa do Brasil, demissões de técnicos, jogador indo às redes sociais xingar torcedor, eleições presidenciais no horizonte e até o temor pela própria existência. Assim tem sido o 2020 do Botafogo, que nos últimos meses foi vendo sua crise, em campo e fora dele, crescer consideravelmente.
Sofrendo com sua grave situação financeira, o Alvinegro viu a crise estourar de vez após a derrota por 1 a 0 diante do Cuiabá, dentro do Estádio Nilton Santos, no jogo de ida válido pelas oitavas de final da Copa do Brasil.
O Botafogo seria eliminado depois de não conseguir balançar as redes do adversário no empate sem gols no duelo de volta, mas antes mesmo a crise ficou evidente depois que o youtuber e empresário Felipe Neto, um dos torcedores mais famosos do clube e que chegou a patrocinar o time recentemente, fez uma sequência de tweets na qual clamou pela ajuda dos irmão Moreira Salles, bilionários botafoguenses tidos pelos torcedores como esperança para uma reviravolta na história do clube.
"Situação do Botafogo é drástica. Sem o projeto da S/A, não há qualquer esperança de uma real sobrevivência do clube. Eu estive ali dentro e vi de perto os projetos e possibilidades. Hoje, caminham pra recuperação judicial sem saberem nada sobre isso. É aterrorizante", escreveu em sua sequência de tweets. Tempos depois, cerca de 300 torcedores fizeram um protesto na sede de General Severiano.
"Gostaria de avisar aos irmãos Moreira Salles que não adianta nada construir um CT de ponta para um clube que vai fechar as portas. Vão usar o CT pra família fazer churrasco?", questionou.
No dia seguinte, Carlos Augusto Montenegro, membro do comitê gestor de futebol do Botafogo, se defendeu das críticas em uma entrevista de quase 4h na internet e voltou a citar a situação calamitosa das finanças alvinegras (o ex-presidente, que vem participando das administrações do clube desde o fim da década de 80 inclusive revelou que chegou a faltar bolas de futebol em meio a um treinamento). Durante a mesma entrevista, a imagem do dirigente Ricardo Rotemberg assistindo à live deitado em sua cama irritou ainda mais os torcedores.
Nesta sexta-feira (06), em contato com o Lance!, Montenegro anunciou que não faz mais parte do Comitê Executivo de Futebol do Botafogo – ao longo dos últimos anos o dirigente chegou a tomar posições parecidas e acabou retornando à atividade política no futebol do clube.
“Já tinha avisado que ia sair numa boa. Acho que cumpri minha missão. Temos hoje uma comissão técnica de primeiro mundo, os salários estão em dia… Fiz o que eu pude. Ia sair mais para o final do mês (de novembro), ali pela eleição do clube, mas, com tudo resolvido, vou me dedicar essa semana no Ibope, terá eleição para prefeito, esse é o meu trabalho”, disse.
Em meio a toda esta situação, nas horas após a eliminação na Copa do Brasil frente ao Cuiabá, o zagueiro/volante Rafael Forster rebateu críticas feitas por um torcedor em suas redes sociais e indicou que nem todos os salários estão 100% em dia.
“Ô amigão, você queria o quê? Que eu saia driblando todo mundo? Que eu chutasse no gol? P***, para de encher o saco! Chato pra c******… Não entende p*** nenhuma de futebol e sai falando mal dos outros. Tu não sabe de nada e ainda quer falar de salário em dia?! Tu tá de sacanagem? Tem jogador que não recebe salário completo desde junho. O mês de outubro veio adiantado para alguns, queridão. Você não sabe de p*** nenhuma. Então para de falar merda e vai cuidar da tua vida”, escreveu Forster, que depois se retratou também nas redes sociais.
Honda: desabafo e declaração de amor
Nesta sexta-feira (06), um dia após o clube confirmar a chegada do argentino Ramón Díaz para ocupar o cargo de técnico, Keisuke Honda foi às suas redes sociais para fazer um desabafo. O japonês pediu união geral e ainda teceu comentários dizendo que é preciso repensar a forma como o clube é gerido. Ao terminar a sua carta aberta, o meio-campista ainda fez uma declaração de amor ao Botafogo.
“Antes de tudo, o Botafogo é um clube de quem? É um clube de ricos investidores ou patrocinadores? Não. Não é o clube de empresários que vão embora quando as coisas dão errado, nem de algum estrangeiro como eu que vai sair depois de certo período. É um clube de todos que amam e apoiam o Botafogo desde que nasceram, e que mantém vivo esse amor mesmo em situações desfavoráveis como a que vivemos agora. É o clube de todos. Então todos juntos precisamos fazer o clube ficar mais forte”.
“Acho que agora é a hora de todos os dirigentes, profissionais, jogadores e torcedores repensar a forma de dirigir e administrar o clube mais tradicional, Botafogo. Espero que todos participem da discussão, respeitando-se mutuamente, sem culpar ou machucar ninguém, e que o clube siga na direção certa. De Keisuke Honda, que se apaixonou pelo Botafogo em apenas nove meses de convivência”, finalizou.
Situação do clube empresa
Visto como única chance de salvar o Botafogo, o projeto de transformar o clube em empresa não decolou como muitos imaginavam no início do ano – também em meio à crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus, que teria afastado alguns investidores.
O clube ainda não conseguiu atingir o valor mínimo para dar o start ao projeto e negociar as dívidas com os credores e Laércio Paiva, um dos idealizadores do plano, deixou recentemente o projeto. Uma das alternativas do clube, caso a S/A não dê certo, é pedir a recuperação judicial, o que é visto por muitos como um grande risco.
Enquanto isso, em campo, o Botafogo começa a pensar em como fazer um segundo turno melhor do o que registrou apenas três vitórias nesta primeira metade de Brasileirão. A chegada de Ramón Díaz, vitorioso na Argentina no passado, é o fato novo que leva a torcida a tentar acreditar com dias não tão ruins.