O verde da maquiagem escorre pelo rosto do torcedor, mesmo após a exibição mais heroica que ele deve ter visto de seu país em Copas do Mundo.
Lágrimas de tristeza, mas acima de tudo orgulho. Porque de ‘saco de pancadas’ em Copas do Mundo, pela primeira vez o Irã lutou para avançar da primeira fase. E não a conseguiu por detalhes, centímetros.
Se a finalização de Taremi fosse um pouquinho mais para a direita, os persas teriam eliminado Portugal e garantido vaga para as oitavas de final. A equipe treinada por Carlos Queiroz fez a melhor campanha nas Eliminatórias Asiáticas, e foi a primeira a chegar à Rússia.
Em campo, o objetivo era conseguir ao menos uma vitória para fazer companhia ao histórico triunfo sobre os Estados Unidos em 1998. Meta atingida com golpe de sorte, o gol contra nos últimos minutos contra Marrocos. Após o apito final, festa de título.
Mas a curiosidade é que a seleção iraniana demonstrou o seu grande valor nos jogos contra Espanha e Portugal, os favoritos a avançarem no Grupo B. Quase arrancaram um empate contra um, e por muito pouco não bateram o outro.
Fizeram isso com um futebol de entrega absoluta dos jogadores, nenhum deles espetacular. Aplicação tática incrível, seja no ultradefensivo 6-3-1 diante dos espanhóis quanto no tradicional 4-1-4-1, com Jahanbakhsh voltado da ponta-direita para formar uma linha defensiva com cinco homens em determinados momentos do jogo contra Portugal.
Quando chegou, em 2011, para assumir o comando da seleção iraniana, Carlos Queiroz tinha dois objetivos em mente: recuperar uma carreira até certo ponto desacreditada pelos resultados com Portugal, entre 2008 e 2011, e fazer do Irã uma equipe competitiva. O português deixa a disputa da Copa do Mundo com os dois objetivos completos.
Porque se não possui um grande talento individual, o Irã se agarrou às armas que tinha para ser competitivo. E por ter sido até os minutos finais, com o brilho especial de terem conseguido anular Cristiano Ronaldo, Queiroz tornou-se um dos grandes destaques desta Copa.
Fora de campo, o destaque é todo para as torcedoras iranianas. Mulheres fanáticas por futebol, que dentro de seu próprio país são proibidas de entrarem nos estádios. O veto, segundo garantiu o presidente da FIFA, Gianni Infantino, deve cair. Se realmente acontecer, será a grande vitória do selecionado persa.
Uma equipe que conseguiu, com os 4 pontos somados, a sua melhor campanha em Mundiais, lutou até o fim contra gigantes e viu que o impossível não existe no futebol. As lágrimas do torcedor, de tristeza e orgulho, também representam a esperança: de ver uma decisão absurda ser revogada para as torcedoras e de começar o próximo ciclo de Copas do Mundo pensando em dar um passo adiante no desenvolvimento de seu futebol.