Bruno Peres na direita e Emerson Palmieri na esquerda. A Roma vive grande fase com dois laterais brasileiros. Ambos sonham com a primeira oportunidade na seleção brasileira, mas o segundo também tem no horizonte a seleção italiana. O desejo maior, no entanto, ainda é brigar para representar o país de origem.
Aos 22 anos, Emerson se vê na cola de Marcelo e Filipe Luís, que têm sido os preferidos de Tite, e acredita que o "melhor momento na carreira" foi conquistado com os treinos "puxados" de Luciano Spalletti e a necessidade de se espelhar no sucesso da rival Juventus.
Confirma a entrevista ao 'Ora Bolas':
Você mais livre nos jogos, atacando mais... Como analisa o próprio crescimento na Itália?
Quando comecei a jogar como titular, a Roma estava jogando com uma linha de quatro atrás, então a minha preocupação maior era defender e subir ao ataque apenas na hora certa. Agora que estamos jogando no 3-4-3, fico mais liberado para avançar e ajudar na frente. Melhorei bastante na parte tática e física nas últimas temporadas. A minha alimentação mudou muito, o que também me ajudou consideravelmente. Estou bem, mas ainda que ainda preciso ser mais incisivo, aproveitar mais a liberdade que tenho para atacar, fazer gols, dar assistências...
Como é o trabalho do Luciano Spalletti?
É bem puxado, é bem puxado mesmo. Aqui na Roma trabalhamos muito a linha defensiva. Duas a três vezes na semana fazemos uma reunião para analisarmos os vídeos dos nossos jogos, como a equipe se comporta quando defende e ataca, quando sofre contra-ataque. Eu, quando cheguei aqui, admito que fiquei um pouco perdido. No Brasil, o lateral quer atacar, cruzar, fazer gol e, com isso, deixa buracos na defesa. Aprendi o peso do trabalho tático no futebol italiano, por isso falo com tranquilidade e segurança que melhorei muito.
Existe diferença de tempo de treino na Itália?
Eu, quando estou treinando, não consigo ter a noção exata de tempo, mas geralmente os treinos duram uma hora e meia. Às vezes ele [Spalletti] faz treinos mais curtos, porque gosta de intensidade. Encurta a atividade e faz trabalho intenso.
Tem muito coletivo?
Não, não... O que tem muito é jogo em campo reduzido, para trabalhar posse de bola, toque de bola rápido e duelo ataque contra defesa. Isso faz com que o jogador pense mais rápido, com a obrigação de tocar no máximo duas vezes na bola. É pressão.
Dá para colocar na conta do Spalletti a boa fase da Roma?
Dá, com certeza. Defensivamente a nossa equipe melhorou muito com ele, seja com linha de quatro ou com três zagueiros. Nosso time está bem estruturado, podemos atuar com facilidade nos dois modos. O mérito é dele. Estamos na cola da Juventus, seguimos bem na Copa da Itália, na Liga Europa... Estamos vivos nas três competições. A maior fatia do nosso sucesso vai para o Spalletti. Pude ver de perto a mudança com a troca de treinador, o nosso comportamento mudou.
Como é olhar para frente e ver sempre a Juventus na liderança?
Olha... É difícil. A Juventus sempre contrata grandes jogadores, reforços de nome. Os titulares e os reservas são de alto nível, é um time que não costuma dar brechas, não perde pontos. Incomoda vê-los na frente, mas a gente sabe que pode chegar lá também, chegar e ganhar. A Roma tem trabalhado forte para desbancar a Juventus, temos mais 14 rodadas pela frente e um confronto direto.
Existe uma cobrança acima da média da diretoria da Roma para desbancar a Juventus?
Todas as equipes da Itália querem desbancar a Juventus. Outros grandes clubes também fazem altos investimentos, montam times para ganhar. Claro que conversamos entre nós, jogadores, treinador e dirigentes, existe uma cobrança entre nós mesmos, mas sabemos que a regularidade da Juventus é muito boa, jogam bem dentro e fora de casa. Precisamos aprender a ser assim também, temos que usá-los como exemplo. A Roma luta por isso.
Bruno Peres na direita e Emerson na esquerda. É a dupla de laterais da mesma equipe que só perde para Danilo e Marcelo no Real Madrid?
[Risos] Vivemos um bom momento, mas existem outros grandes jogadores, tem o Daniel Alves e o Alex Sandro na própria Juventus... Eu e o Bruno [Peres], repito, vivemos uma fase especial. Concentramos juntos, estamos sempre juntos. Pô, chegamos a jogar juntos no Santos e, hoje, estamos na Roma. A ficha às vezes não cai. Queremos dar continuidade ao bom trabalho.
Como vê a evolução do Bruno Peres?
O Bruno sempre foi um jogador muito bom, de um nível muito alto. Sempre gostei dele, e joguei contra ele no Torino. É um lateral que, se der liberdade para subir com a bola, só é parado na base da falta. Ele é muito rápido. Sempre trocamos bons conselhos, nos cobramos muito também. Temos facilidade e qualidade para chegar na área e fazer gols, dar assistências... Cobramos um ao outro na concentração, exaltamos os acertos e discutimos os erros.
Acha que vive o melhor momento da carreira?
Sem dúvida! Tive uma boa passagem pelo Santos, onde cresci, mas não acabei tendo muito reconhecimento. Me machuquei, a equipe tinha outros jogadores da minha posição, o Léo, o Mena. O Léo é ídolo da torcida, o Mena era um alto investimento... Eu tinha 18 para 19 anos, então não tive muitas oportunidades. Tive um bom início no Palermo, mas acabei sofrendo uma lesão e fiquei quase três meses parado. Hoje, na Roma, estou muito bem. É, com certeza, a melhor fase da minha carreira.
Parte da imprensa italiana começa a levantar a hipótese de você defender a seleção italiana. Existe a chance? Você tem passaporte italiano...
Sou brasileiro, meu coração é brasileiro, cresci vendo a seleção brasileira. A minha vontade, mesmo sabendo das dificuldades e da forte concorrência, é jogar na seleção brasileira. Vejo as notícias aqui na Itália, de no futuro jogar pela seleção daqui, mas não chegou nada para mim, nada de naturalização. Se acontecer mesmo, claro que pensarei com muito carinho em representar a Itália, que está me dando tudo no momento, um país que tenho um grande carinho. Mas, para deixar bem claro, meu sonho é vestir a camisa da seleção brasileira.
Hoje, na seleção brasileira, Marcelo e Filipe Luís dominam a lateral esquerda. Você se vê como o terceiro nome da posição?
Pô, levando em consideração o meu momento, não que eu seja o favorito, mas estou no caminho certo. Tem outros jogadores na briga, é verdade, mas o importante mesmo é continuar jogando em alto nível na Roma. Sou jovem, tenho 22 anos, acho que as coisas vão acontecer naturalmente. Posso estar correndo por fora, mas, como disse antes, estou no caminho certo.
Tite acompanhará in loco Roma x Torino, neste domingo, pelo Campeonato Italiano. Está pressionado?
Fico feliz em saber que o treinador da seleção estará no estádio para acompanhar o jogo. Vou procurar fazer o meu melhor, como tenho feito, e usar isso como um adicional, tentar jogar ainda melhor. Não vejo como pressão, encaro como algo bom e positivo. É importante também ficar tranquilo. Se hoje estou tendo essa visibilidade é porque estou jogando bem, de forma tranquila. Com certeza as coisas vão correr da melhor maneira possível.
O Bruno Peres é outro que também sofre com a forte concorrência na seleção. Danial Alves, Danilo, Fagner...
A gente conversa muito sobre isso. Estamos num grande clube, sabemos que somos observados. Sonhamos juntos à seleção brasileira, queremos ganhar a primeira oportunidade juntos mesmo sabendo de todas as dificuldades. O futebol é momento, e hoje vivemos um ótimo momento na Roma. Quem sabe, nunca sabemos o dia de amanhã...
Você, no começo da entrevista, exaltou a alimentação. O que tem de diferente na Itália?
Evolui bastante nisso, aqui levam a alimentação muito a sério, toda semana fazem um controle de percentual de gordura, percentual de líquido. Precisei mudar muito, sinto que conheço mais o meu próprio corpo agora. Isso com certeza fez a diferença para o meu melhor momento na carreira.
O que precisou cortar da alimentação?
Guaraná, chocolates... Às vezes passo uma semana sem comer doce ou tomar refrigerante. Liberam vez ou outra, mas não podemos extrapolar. Sinto falta, mas aprendi a ser regrado.
O Totti está pronto para deixar o futebol? Tem 40 anos e segue jogando...
É fominha [risos]. Ele se cuida muito, por isso faz a diferença quando entra nos jogos. Ele entra e muda o cenário da partida. A gente vê que é fominha, diferenciado, um jogador especial. Não sei se está com a cabeça preparada para parar de jogar. Deve ter planos para depois da aposentadoria, mas não sei se está muito à vontade com isso, isso poruqe que tem mostrado no dia a dia que não quer parar. Alguns falam que pode ser o último ano dele. Eu, particularmente, não acredito. Ainda acho que jogará pelo menos mais um ano.
Por que estão pegando tanto no pé do Gabigol na Itália?
É complicado, o Gabigol chegou aqui com status muito alto, a Inter de Milão pagou um preço alto pela contratação. Por causa do grande investimento, todo mundo quer vê-lo justificando o que foi pago, destruindo dentro de campo. Pô, ele é muito novo ainda, tem apenas 20 anos, tem muita coisa pela frente. Joguei com ele, é um atacante que faz o que quer dentro da área, tem boa movimentação, é veloz, tem um bom pé esquerdo... Repito: tem apenas 20 anos. As críticas são um pouco exageradas.