Neymar fecha 2020 sendo o craque que a Champions esperava

Votação de melhor jogador do mundo à parte, ninguém encantou mais na Champions League em 2020 que Neymar, que não ganhou o título nem atua no melhor time, é verdade, mas encontrou seu auge enquanto brilho individual e maturidade na capacidade pessoal em resolver os lances no maior torneio da Europa.
Em resultados, o atacante viveu um 2015 ainda maior, claro, quando foi campeão europeu marcando gol na final e terminando artilheiro da competição. Mas a estrela era Messi. Agora, com a distância daquela discussão sobre o porquê da saída do Barcelona — teria o brasileiro trocado de camisa exatamente para ser protagonista máximo em Paris —, a verdade é que finalmente ele conseguiu se firmar onde sempre pretendeu, na primeira prateleira dos grandes jogadores do mundo.
Muito por conta de dois fatores. As lesões, que deixaram Neymar fora dos jogos decisivos do PSG nas duas eliminações precoces em 2018 e 2019; e a necessidade de uma grande campanha de Champions League para provar a força em comandar o time, já que a hegemonia na liga local torna a sequências de títulos do Campeonato Francês insuficiente para medir grandeza.
Desta vez, o físico deu conta, e Neymar foi fundamental para a equipe superar o primeiro duelo mata-mata do ano, em março, contra o Borussia Dortmund. O camisa 10 marcou na Alemanha, mas saiu derrotado. Na volta, em Paris, abriu o placar da virada do PSG, imitando a comemoração de Haaland, sensação rival que tinha decidido a partida de ida. Havia acabado a barreira das oitavas de final.
Veio a pandemia, a Champions foi interrompida e voltou só em agosto, com jogos únicos em Lisboa. Contra a Atalanta, Neymar foi o líder da virada nos acréscimos, controlando, criando, assumindo as principais jogadas e participando dos dois gols que levaram o PSG às semifinais. Uma grande exibição em que, ainda que tenha perdido chances claras, confirmava que depois de algum tempo a Europa voltava a ver a melhor forma do brasileiro.
Dias depois o time francês passou pelo RB Leipzig, com Neymar novamente fazendo de tudo, menos marcando no 3 a 0 incontestável. Na final, parou no poderoso Bayern, o grande time do momento que dominou e levantou a taça na grande forma de Neuer, Kimmich, Thiago, Lewandowski, Muller e companhia.
Virou a temporada, colada na anterior, e o começo foi difícil, com derrota para o Manchester numa jornada pouco inspirada. Mas deu tempo de se recuperar nessa reta final do ano, com um grande jogo no returno contra o time inglês, quando marcou dois gols gols e fez de tudo em Old Trafford, e no fechamento da chave, já classificado, nesta quarta-feira, contra o Basaksehir: com caneta e chute no ângulo, recebendo lançamento e chamando a tabela, fez três gols na goleada por 5 a 1.
Essa última imagem ainda vem junto da grande história da partida contra os turcos. Na terça-feira, com o jogo ainda nos primeiros minutos, os atletas de ambos os times deixaram o campo quando o camaronês Pierre Webó, da comissão técnica da equipe de Istambul, acusou o quarto árbitro romeno Sebastian Coltescu de ofensa racista. Quando os elencos voltaram ao campo, Neymar foi um dos que deixou clara a intenção de não retomar o jogo na presença do agressor. O duelo ficou para o dia seguinte, num marco histórico da luta antirrascista.
Na última semana de Champions League no ano, em que a futebol tanto falou de mais um confronto Messi x Cristiano Ronaldo (o último?), o brasileiro reafirmou sua posição como um dos poucos jogadores que levam o futebol para outro nível de encantamento hoje. Sem o título e provavelmente sem o troféu de principal jogador do mundo para a Fifa, mas o melhor Neymar possível que conseguiu juntar o protagonismo, a beleza do jogo e os resultados mais próximos do que seu desafio esportivo em Paris sempre cobrou. Em fevereiro tem mais.