O futebol mexe com a paixão. E quando falamos de clubes de massas, como o Flamengo, com a paixão de milhões. Se é difícil exigir consciência de apaixonados, o que dirá daqueles que gastam fortunas na covarde política de preços da Ilha do Urubu ou aquele cujo único prazer que tem na vida é ver seu time jogar. Por isso o "caso Muralha" novamente lança luz sobre um grave problema: a miopia sobre os verdadeiros culpados pelos fracassos.
Após o quarto vice da Copa do Brasil, flamenguistas acordaram na quinta-feira culpando e xingando o goleiro Muralha. Eventualmente o meia Diego, em bem menor escala. Alex é o menor dos culpados, ainda que tenha participação no todo. É o Judas da vez. E geralmente é a ponta fraca da corda. No calor da emoção, pouca razão. Lá está o arqueiro, com a cabeça na guilhotina pronta para cerrar mais um vilão.
E do lado de fora? Ninguém questiona. Quem o faz, acusam de "ser da oposição que quer derrubar a situação". Diretoria atual é a melhor da história do clube quando o assunto é finança. Mas é uma das piores quando falamos de futebol. Planejamento falho, sem continuidade (a duração média de um técnico na gestão é de pouco mais de cinco meses, fora os interinos), sem controle algum sobre as necessidades reais da equipe no começo da temporada (contratando adoidado no meio dela, consertando o avião durante o voo) e com seu departamento repleto de ex-jogadores, como se fosse um eterno prêmio pelo que fizeram no passado.
Quando a massa joga a culpa sobre os ombros do Muralha, tira daqueles que na preparação para o ano não perceberam que essa era uma posição vulnerável. Além de dois goleiros que oscilavam, Alex e Paulo Victor, um jovem, Thiago. Paulo foi negociado. Nenhum outro veio. Quando precisaram, trouxeram Diego Alves e já sem possibilidade de escalá-lo. Fora o restante do sistema defensivo, como as laterais e zaga, remendadas durante 2017. Um total fracasso.
E os culpados seguem sem cobranças. Aumentando os valores dos ingressos, expulsando o torcedor da arquibancada e eventualmente criando cortinas de fumaça para tirar o foco da situação. Como no caso do jornalista Diogo Dantas, do Jornal Extra, proibido de fazer pergunta ao técnico Reinaldo Rueda. Uma prática populista que a única intenção de fato era tirar a atenção dos problemas de estruturação do futebol do Flamengo e novamente fazer com que os apaixonados pensassem com o coração, não com a cabeça.
O esporte não passa só pela parte financeira. Dinheiro é razão, futebol é paixão. E Muralha não é o único culpado.
Texto por Bruno Guedes