Volta e meia, Zidane deve se perguntar o que aconteceria se ele não tivesse dado aquela cabeçada no italiano Marco Materazzi, na decisão da Copa do Mundo de 2006. Ou então se aquele outro arremate de cabeça encontrasse o caminho óbvio das redes, não fosse uma intervenção que só os grandes goleiros poderiam fazer.
A jogada, uma das muitas que são antológicas na história dos mundiais, aconteceu no minuto 103 daquela decisão no mítico Estádio Olímpico de Berlim. Zidane já tinha 37 anos e vivia os seus últimos minutos como jogador profissional. Mesmo assim, não lhe faltou energia para correr rumo à área italiana.
Pela direita, Sagnol conseguiu acertar um cruzamento primoroso. Ali pela marca do pênalti, Zizou subiu com estilo e desferiu o cabeceio que seria fatal para 99 dentre 100 goleiros. No entanto, tão rápido quanto o arremate do camisa 10 foi a reação do número 1 italiano: Buffon voou como se fosse um super-herói e com a ponta da sua luva direita mandou a bola para escanteio.
A reação de Buffon foi típica de um goleiro que faz a chamada ‘defesaça’: levantou-se rapidamente, com os olhos esbugalhados e o grito no fundo da garganta. É como se ao mesmo tempo gritasse para o adversário a sua competência e estivesse avisando aos companheiros algum eventual erro de marcação – afinal de contas, naquele lance específico Zidane subiu sozinho na área.
Já Zidane não podia acreditar no que acabava de ter visto. Mal sabia o craque que algum tempo depois uma cabeçada intempestiva decretaria os destinos daquela decisão: a cabeçada que Zinedine Zidane deu ao agredir o zagueiro Materazzi. Cartão vermelho para o maior jogador francês da história, que desceu para o vestiário sem olhar a taça do torneio que ele ajudara os Bleus a conquistar em 1998.
Aquela decisão entre França e Itália terminaria empatada em 1 a 1 e foi a segunda na história das Copas a ser decidida na disputa de pênaltis. Zidane não estava mais em campo, mas lá estava Buffon. O goleiro não precisou defender nenhuma cobrança, já que o chute de Trezeguet acertou o travessão. Mas naquele momento, o arqueiro roubou a taça que Zinedine já havia conquistado.
No próximo sábado (3), o encontro entre Buffon e Zidane está marcado para Cardiff. O francês agora é treinador, e já levantou a taça da Champions League com chuteiras aos pés ou sapatos elegantes que só os técnicos usam. Do outro lado, Buffon ainda calça luvas e chuteiras e ainda é decisivo para a sua equipe. E vai buscar, uma vez mais, ter em mãos pela primeira vez uma taça já levantada pelo francês.