Neste sábado, dia 8 de fevereiro, o incêndio em um alojamento no CT Ninho do Urubu completa um ano. Na ocasião, dos 26 meninos que dormiam no local, dez morreram e três ficaram feridos.
O caso corre em duas esferas judiciais diferentes: a reparação às famílias das vítimas está sendo tratada na esfera cível enquanto as responsabilidades pelo incêndio na criminal.
As questões cíveis ainda estão longe de serem concluídas. Apenas quatro acordos foram fechados, com as famílias de Athila Paixão (de 14 anos), Gedinho (também de 14 anos), Vítor Isaías (de 15 anos) e com o pai de Rykelmo (de 16 anos) - a mãe do garoto preferiu seguir com o processo na Justiça.
Em dezembro, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro e o Ministério Público conseguiram uma decisão obriga o Flamengo a pagar R$ 10 mil mensais às famílias das vítimas. A sentença, no entanto, ainda não é definitiva.
Um modelo de indenização coletiva foi elaborado - usando como base no programa indenizatório das vítimas do voo 447 da Air France – que caiu no Oceano Atlântico em 2009 –, mas o clube recusou e preferiu continuar tratando o caso individualmente com cada família.
Já o inquérito criminal, iniciado imediatamente após a tragédia, tem previsão é de ser finalizado ainda em fevereiro, de acordo com o Ministério Público carioca.
Em maio passado, oito pessoas foram indiciadas por crimes de homicídio e tentativa de homicídio por dolo eventual, mas depois de novas audiências, o MP solicitou mais investigações.
Meses depois, em agosto, as investigações foram concluídas e uma nova rodada de audiência foi realizada, com mais informações coletadas. Estas se referiam à empresa que forneceu os containers que serviam de alojamento e sobre as documentações do local.
Em dezembro, novas informações foram solicitadas à polícia, referentes a novos fatos adicionados ao inquérito. O prazo para a polícia devolver o caso à promotoria acaba neste mês.
Nesta sexta-feira (7), uma reunião da CPI dos Incêndio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, um dos temas tratados seria justamente o caso do Ninho do Urubu. Juntamente dos familiares das vítimas, a diretoria do Flamengo foi convocada a participar da reunião, mas não compareceu. O ex-presidente rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, que estava em Brasília, chegou às 14h30 e o CEO Reinaldo Belotti, às 12h49, sendo que a reunião estava marcada para às 11h. Com isso, o presidente da CPI pediu condução coercitiva para Rodolfo Landim - atual presidente do clube -, Rodrigo Dunshee - vice jurídico - e Alexandre Wrobel - vice de patrimônio - para a próxima sessão, a ser realizada na sexta-feira (14).
A postura do Flamengo diante do caso tem sido muito criticada por torcedores, tanto flamenguistas quanto rivais, e pela imprensa. E, principalmente pelas famílias das vítimas. Muitos dizem que faltou carinho e consideração por parte do clube.
Em entrevista ao UOL, Darlei PIsetta, pai do goleiro Bernardo, falecido ao 14 anos disse: "Um simples bater nas costas da diretoria depois faria todo efeito, toda a diferença. Esperamos até hoje o bater nas costas. Esse gesto faria toda a diferença".
Na mesma reportagem, a mãe de Rykelmo, Rosana, também reclamou. "De repente, você vê que aquilo ali era um lucro para o Flamengo. Eles estavam segurando aqueles meninos, porque sabiam que, mais para frente, eles iriam render. Só que como tiveram a vida cortada, já não têm mais valor", disse.
O clube, no entanto, garante que está fazendo tudo ao seu alcance e que está se colocando totalmente à disposição das famílias. Em um vídeo publicado no último dia 1, na FlaTV, Rodrigo Dunshee disse que o Flamengo não está "se furtando a sua responsabilidade" e reforçou estar a disposição das famílias.
Passado um ano da tragédia, apenas um dos meninos não voltou para o futebol. Trata-se de Jhonata Ventura, que teve 30% de seu corpo queimado e ainda está em tratamento. Em janeiro ele comemorou ter voltado a correr em volta do gramado.
Foi também em janeiro que o clube dispensou alguns jogadores das categorias de base do clube, dentre eles cinco dos sobreviventes: Caike Duarte Pereira da Silva, Felipe Cardoso, João Vitor Gasparin Torrezan, Naydjel Callebe Boroski Struhschein e Wendel Alves Gonçalves.
A decisão foi tratada pelo clube como algo natural e puramente técnico, parte de uma reformulação das categorias de base que acontece ao final de cada ano.
Hoje no RedBull Bragantino, Felipe Cardoso fez um desabafo nas redes sociais e disse que, para o Flamengo, eles são apenas números. "Aprendi mais uma dura lição da vida em busca deste sonho ao ser liberado pelo Flamengo, no dia 13/01/2020 por telefone, não entendi e chorei, gritei, culpei tudo e todos, não quis falar com ninguém por um período, a dor foi gigante em meu peito. Após refletir muito cheguei à conclusão de que somos apenas números para muitos", escreveu o meia de 16 anos.
Depois do ocorrido foram feitas uma série de revisões nos CTs de vários clubes pelo país, para que nada parecido volte a acontecer.
No jogo deste sábado, contra o Madureira, no Maracanã, o Flamengo deve fazer uma homenagem aos meninos e às famílias das vítimas, na marca de um ano da tragédia.