Quando fazia parte de um excelente time do Santos, que encantava o Brasil enquanto Neymar dava os seus primeiros passos no futebol profissional, André era uma das grandes sensações em nossos gramados. Por isso mesmo, a sua peregrinação sem tanto sucesso [dada a expectativa criada em cima dele] por alguns grandes clubes, aliado a presença pelas noites lhe rendeu o infame apelido de André 'Balada'.
Só que o ‘Balada’ ficou no passado, e deu lugar ao André embalado. No Sport Club do Recife, o atacante que está perto de completar 27 anos se encontrou: seja em sua primeira passagem, em 2015, ou agora. Vivendo grande fase pelo Leão da Ilha do Retiro, o camisa 90 já marcou 9 gols no Brasileirão e briga pela artilharia do certame enquanto sonha com voos mais altos na casa que melhor o acolheu: vaga na Libertadores e título da Copa Sul-Americana são os objetivos.
É por isso que o goleador do Sport confidenciou, em entrevista exclusiva, que vive o auge de sua carreira. Mesmo se comparado à época de Santos: “Dá para falar que é o meu melhor momento no geral. Hoje estou com a cabeça muito melhor, com outro pensamento (...) Antes eu não me cuidava em termos de alimentação, descanso... essas partes de peso. Eu não me preocupava tanto. E hoje, também estou no meu melhor momento fisicamente. Estou em um peso que acho que nunca tive em minha carreira toda”, disse.
O ponto de grande mudança para que André voltasse a viver grandes momentos no futebol aconteceu após as suas conversas com Jesus – não o ‘Filho do Homem’, embora o atleta 'rubro-negro' também credite o bom momento a Deus. Ainda que tenha ficado pouco tempo no Sporting Clube de Portugal, foram as conversas com o treinador português Jorge Jesus que abriram os seus olhos.
Mas se existia a boa relação e e este havia aprendido algo no clube 'leonino', por que André não teve vida longa em sua terceira passagem pelo futebol europeu? Quando o jogador diz que faltou sorte, em um primeiro momento parece até desculpa esfarrapada. Entretanto, o seu argumento é mais do que válido: “cheguei lá e o atacante que concorria comigo [Bas Dost] só perdeu para o Messi em gols marcados no ano (risos). Então é difícil explicar, é complicado”.
Bom de papo, e sem fugir das divididas, André abriu o jogo sobre a sua carreira: também confidenciou a conversa que teve com Jô, do Corinthians; a importância de Vanderlei Luxemburgo; chances na Seleção Brasileira e explicou a sua relação e melhor momento ao lado do amigo Neymar, com quem compartilhou gols e algumas zoeiras impublicáveis. Abaixo, confira na íntegra a entrevista exclusiva com o jogador!
Você esperava que o Sport fosse viver um momento tão bom no Brasileirão?
“Acho que o Sport tem que brigar por coisa grande, como está brigando, estar sempre ali nessa vaga de Libertadores. E a gente está muito bem. Eu sou muito feliz no Sport, graças a Deus as passagens que eu tive por aqui sempre foram boas passagens”.
Por que, desde aquele tempo de Santos, você não conseguiu jogar tão bem quanto agora e quanto em 2010?
“Quem me vê no dia a dia sabe o quanto eu trabalho, o quanto eu sou dedicado. É claro que alguns erros normais, todo adolescente comete. Mas acho que eu não fiz nada fora do comum. Hoje estou muito mais maduro, eu vejo que é uma coisa que eu pago, por ser um cara mais conhecido”.
O apelido de André ‘Balada’ te incomodou? Como você lida com isso hoje?
“Se eu falar que gosto do apelido vou estar mentindo, mas vejo como uma brincadeira. Claro que eu não gosto, se pudesse apagar esse apelido apagaria. Mas não é uma coisa que tira meu sono”.
Em que etapa você “colocou a cabeça no lugar” para estar numa fase tão boa?
“Eu vou fazer 27 anos mês que vem. E essa idade é a hora que você tem que estar com a sua carreira definida. É como se fosse o meio para o final ali, né? Então você tem que estar bem preparado. O momento que eu pude ver [amadurecer] foi agora em Portugal, que eu conheci um grande treinador [Jorge Jesus, do Sporting], que me fez abrir os olhos para essa questão física e tática. Por mais que não tenha sido tanto tempo, foram seis meses lá, mas eu aprendi muito com esse cara e é por isso que eu falo que vejo o futebol de maneira diferente”.
Como foi essa mudança, de ver o futebol de maneira diferente?
“Eu acho que é uma coisa mais tática e física. Antes eu não me cuidava em termos de alimentação, descanso... essas partes de peso (...) Então não adianta você estar ‘mais ou menos’ hoje porque vão te atropelar. É por isso que eu falo que eu vejo o futebol de outra maneira”.
Você é um dos raros no futebol que pode dizer que o Jesus de carne e osso te ajudou...
“Isso aí é engraçado, porque hoje eu também estou muito próximo de Deus. Vou às vezes na igreja e tem minha mãe, que ora muito por mim (risos)”.
Futebol europeu: por que as suas duas passagens por lá foram tão rápidas?
“Na Ucrânia eu fui com 19 anos, não queria ir. Só que eu não venho de uma família rica, e na época me ofereceram um salário 5 vezes maior ao que eu ganhava no Santos. É difícil você recusar um valor assim. Eu tive dificuldades de me adaptar lá, o clube não deixou eu voltar para o Brasil, me emprestaram para a França mesmo sem eu querer ficar na Europa. Na França, um grande país e um grande clube. Mas quando você não está com a cabeça boa, as coisas acabam não acontecendo.
Agora em Portugal foi engraçado, porque fui para um grande clube, mas cheguei lá e o atacante que concorria comigo [Bas Dost] só perdeu para o Messi em gols marcados no ano (risos). Então é difícil explicar, é complicado. Eu vi que ia ficar ruim para jogar. São situações que acontecem, infelizmente”.
Ainda pensa em voltar para a Europa?
“Sem dúvida! Tenho essa vontade de voltar. Tomara que quando eu voltar eu dê sorte, né? Acho que foi um pouco de falta de sorte também, mas eu tenho esse pensamento de voltar e fazer um grande campeonato para apagar isso, de que não deu certo lá fora”.
Qual foi a principal coisa que o Luxemburgo fez para melhorar o time?
“Acho que foi mostrar para a gente o que podíamos fazer. Essa parte, do Vanderlei, de fazer acreditar, o DNA de campeão que ele fala que tem, foi o principal motivo. A gente viu nele, naquele campeão que sempre brigou por coisa grande, que a gente podia também. Ele nos fez acreditar que podíamos chegar. Trabalhar com ele é uma aula de futebol todo dia”.
Qual é o projeto do Sport?
“(Risos) O projeto é classificar para a Libertadores. É uma coisa que a gente está querendo muito. É um dos nossos principais objetivos, e o outro é ganhar a Copa Sul-Americana. Seria uma realização pessoa minha, porque pra fazer história você tem que ser campeão. Meu objetivo aqui é ganhar um título importante e jogar uma Libertadores pelo Sport.”
Se você terminar eventualmente como artilheiro do Brasileirão, acredita que ainda dá tempo de conseguir uma vaga na Seleção para Copa de 2018?
“Seleção é consequência. Não adianta eu ficar falando de Seleção Brasileira. Eu tenho que estar jogando e fazendo gols. É natural, se eu for o artilheiro do Campeonato Brasileiro pode vir uma convocação. Tem que vir naturalmente, Seleção é reconhecimento pelo seu trabalho”.
A história do Jô está parecida com a sua neste 2017. O que você falou com ele durante o jogo contra o Corinthians?
“Eu brinquei com o Jô que, nesse ano, o artilheiro tem que ser eu ou ele. Eu só aceito perder pra ele (risos). Ele é um cara de coração enorme. Tomara que a gente termine empatado para sermos artilheiros juntos”.
Saudades da parceria com Neymar? Qual momento mais marcante, dentro e fora de campo de você com ele?
“Lógico que eu tenho saudades de jogar com ele. O momento marcante dentro de campo foi quando a gente ganhou o Campeonato Paulista [de 2010], foi o nosso primeiro título então foi marcante. Fora de campo não dá pra falar né (risos)? Fica em off (risos)”. É um cara que eu brinco que, mesmo sem se falar, quando a gente se vê só no olhar a gente se entende. Por isso que deu tão certo essa amizade”.