O Atlético Mineiro anunciou, na manhã desta sexta-feira (21), Rogério Micale como seu novo treinador. O comandante na conquista do inédito ouro olímpico para o futebol masculino brasileiro na Olimpíada em 2016, chega para o lugar de Roger Machado, demitido nesta quinta (20). O técnico vai assinar contrato até o fim da temporada e chegará em Belo Horizonte na próxima segunda-feira (24).
Micale, que está desempregado desde fevereiro deste ano, quando foi demitido das seleções de base, teve algumas ofertas para comandar equipes da Série A do Campeonato Brasileiro, mas não viu as negociações avançarem. Atualmente ele está ministrando palestras sobre futebol na China.
O treinador é uma boa aposta do Atlético Mineiro. Jovem e com boas ideias, Micale conhece bem o 'Galo', onde trabalhou durante muitos anos nas categorias de base e sendo vitorioso. Ele ganhou inúmeros torneios na Europa e foi bicampeão da Taça BH de Futebol Júnior, em 2009 e 2011. Antes disso, no Figueirense, foi campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em 2008.
O bom trabalho na base lhe credenciou para receber uma oportunidade na Confederação Brasileira de Futebol CBF. Pelos motivos errados, ele teve a chance de ser o técnico nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, e fez, então, seu mais conhecido trabalho, comandando a Seleção 'canarinha' na conquista do inédito ouro olímpico.
No Atlético Mineiro, porém, o desafio é diferente. Ao invés de garotos, Micale vai comandar jogadores experientes e estrelas como Victor, Robinho e Fred. Ele comandou Neymar, Gabriel Jesus e Gabigol, é verdade, mas em uma situação completamente distinta. Ainda assim, a aposta é bem interessante e boa.
O 'Galo' tem sofrido no Brasileirão por ter muita posse de bola, trocar muitos passes, jogar sempre na intermediária de ataque, pressionando o adversário, e inclusive roubando a pelota com uma boa e eficaz marcação sob pressão. No entanto, o time tem enfrentado muitas dificuldades para penetrar na defesa rival e criar chances claras de gol, com finalizações perigosas. Ocorrem cruzamentos em demasia e a falta de criatividade é nítida em muitos momentos.
Micale gosta de trabalhar com a posse de bola e a troca de passes. Historicamente, seus times jogam dessa maneira. No entanto, suas equipes também finalizam muito, e com perigo, e jogam de forma agressiva, com um estilo vertical que agrada a torcida atleticana. O treinador gosta de aliar um futebol ofensivo, vistoso e agradável de se ver, mas com muita agressividade e velocidade. É um estilo que tem semelhanças, mas também é diferente do de Roger Machado.
A aposta é interessante e o 'Galo' pode crescer com Micale. Tanto pelos pontos interessantes no trabalho e estilo do treinador, quanto pelas boas ideias que possui. Por outro lado, também é uma aposta de risco, diante do fato de o técnico ainda não ter tido uma experiência desta magnitude e a ter pela primeira vez logo em uma grande equipe, repleta de estrelas e jogadores experientes, e com a pressão de obter resultados rapidamente e duas decisões na Libertadores e na Copa do Brasil pela frente.
A contratação de Micale, por outro lado, também mostra uma confusão nos bastidores do Atlético Mineiro. O 'Galo', nos últimos anos, sempre teve um elenco interessante, recheado de bons jogadores e ótimas opções, mas sempre mostrou erros no planejamento.
Além disso, o comando técnico é outra dor de cabeça. Na gestão de Daniel Nepomuceno, o Atlético Mineiro já teve quatro treinadores: Levir Culpi, Diego Aguirre, Marcelo Oliveira e Roger Machado. Rogério Micale será o quarto treinador atleticano em um ano e meio, período no qual o único título foi o Campeonato Mineiro deste ano.
O planejamento tem sido mal feito e/ou mal executado, e demonstra outros dois pontos. O primeiro deles, a confusão nos bastidores do clube.
Após a demissão de Roger Machado, o Atlético Mineiro se dividiu. O nome favorito do presidente Daniel Nepomuceno era Vagner Mancini, já a diretoria preferia Abel Braga, enquanto o superintendente de futebol, André Figueiredo, que assumiu o cargo após a morte do antigo diretor de futebol, Eduardo Maluf, queria Rogério Micale, com quem trabalhou durante anos na base alvinegra.
Abel Braga foi procurado, mas recusou a chance de treinar o Atlético Mineiro por desejar cumprir seu contrato com o Fluminense. Com moral no clube, André Figueiredo fez o nome de Micale ganhar força, e a opção foi por contratar o ex-treinador das categorias de base do 'Galo'.
O nome favorito do presidente era um treinador com experiência, mas ainda jovem, enquanto o primeiro procurado foi um "medalhão" com características totalmente diferentes. O contratado acabou sendo o mais jovem dos três, com bons trabalhos, mas sem uma experiência como a que terá no Atlético-MG. Isso tudo em apenas um dia.
O segundo ponto do planejamento mal feito e/ou mal executado é a manutenção de uma cultura lamentável e triste que infelizmente continua existindo no futebol brasileiro.
O trabalho de Roger Machado tinha o que melhorar e alguns erros, mas era bom no geral e tinha mais pontos positivos do que negativos. Demitir um bom treinador antes de duas decisões não foi das melhores escolhas, e o técnico era o menos culpado pelos resultados ruins em casa no Campeonato Brasileiro, lembrando que apesar deste lado ruim, o trabalho tinha muitos lados bons.
A demissão de Roger, que não merecia ser demitido, principalmente neste momento, alimenta a triste e lamentável cultura do futebol brasileiro de que o treinador é sempre o culpado e demitindo o técnico as coisas irão se resolver. A história mostra que isso está errado, mas, infelizmente, o erro continua se repetindo. E com esse modus operandi, seguimos no loop eterno de erros que mantém o status quo do futebol tupiniquim.