Hora de ver quem é quem. Diria meu pai, 'hora de separar os homens das crianças'. Caberá ao Real Madrid enfrentar o Bayern nas quartas da Champions. Um desafio maiúsculo. Antes de mais nada, seria patético lamentar a sorte. É inegável que seria bom enfrentar um adversário mais acessível, simplesmente porque a chegada às semifinais seria mais garantida. Mas, o madridismo não pode escolher adversário e nem temer ninguém. Seria um insulto à sua própria história. A trajetória que faz do clube o mais vitorioso de todos os tempos no futebol tem como pedra fundamental justamente a tantas vezes reiterada capacidade de ser mais gigante do que qualquer outro gigante. A missão que se apresenta, portanto, não é outra do que aquela que nos define.
Em um plano mais concreto, é uma oportunidade definitiva de ter uma noção melhor sobre se o atual Madrid de Zizou está à altura de outros grandes esquadrões europeus. No papel, é um dos melhores elencos do mundo, se não o melhor. Persiste, no entanto, a dúvida se o time consegue fazer isso valer na prática, em campo. Justiça seja feita, a equipe se portou bastante bem nas partidas mais complicadas da temporadas até agora (contra Atlético e Barcelona, ambas em território adversário). Desde então, no entanto, lá se vai algum tempo, em que os 'merengues' sofreram contra oponentes de menor porte e suscitaram uma certa desconfiança.
No último jogo, contra o Athletic, em San Mamés, os 'blancos' até que apresentaram boas maneiras. Evoluíram na construção de jogo, com boas trocas de passes e uma postura mais agressiva, mais objetiva. Defensivamente, a exibição também foi interessante. Casemiro possivelmente fez a melhor partida de sua vida até agora, o que, convenhamos, não é pouco. Bale se sacrificou como nunca e foi fundamental ao ajudar Marcelo a defender as investidas de Williams pela esquerda. Mas, não se trata apenas de bons desempenhos individuais. Havia uma estrutura, um sistema coletivo que funcionou bem. Talvez o Madrid pudesse ter aceitado menos a pressão do Athletic, não recuando tanto. Mas é inevitável que o Bilbao crie chances e vá para cima dentro de sua própria casa. Saber sofrer também faz parte e é importante.
Voltando ao enfrentamento europeu, também para Zidane será uma tremenda prova, quem sabe a maior de sua carreira como técnico até o presente momento. Pela frente estará Carlo Ancelotti, a saber, o melhor treinador que passou pelo Real Madrid desde Vicente del Bosque. Veremos se o francês faz jus à velha máxima que reza que o aprendiz deve superar o mestre.
O ponto é que, em um duelo tão equilibrado e de tão alto nível, a prancheta pode marcar diferenças. Aqui, uma vez mais, convém lembrar que o plano foi bem traçado ao enfrentar Atlético e Barcelona. Cabe à Zizou encontrar as soluções cabíveis em termos desse novo desafio. Uma vantagem que pode ser importante é o fato de decidir em casa, desde que seja um aspecto administrado com tranquilidade.
Para o jogo de ida, no Allianz, a estratégia é a mesma de qualquer jogo eliminatório disputado fora de casa na competição. Vamos pela vitória — somos o Real Madrid — mas sabendo que um empate com gols ou até uma derrota por apenas um gol de diferença (desde que a partir de 2x1) também nos deixam em boa situação para a volta em Chamartín. Ou seja, a parte mais fundamental é marcar pelo menos um tento em solo alemão.
Em se falando de Bayern-Real Madrid, é evidente que vem à memória o histórico 0-4 de 2014. Mas, os jogadores jamais podem contar que isso volte a acontecer. Levar esse passado para dentro de campo agora poderia incutir no subconsciente a ideia de que será um jogo fácil, o que seria um erro mortal. Resultados como aquele não acontecem todo dia, são raros quando consideramos times tão equiparados. Além disso, o Madrid do agora adversário Ancelotti era mais sólido e melhor que o atual. Por melhor, entenda-se que Xabi Alonso e Di María são superiores à Casemiro e Kroos. De resto, as peças são praticamente as mesmas. Que o resultado também seja quase igual. Leia-se: com ou sem goleada, que o embate termine com classificação madridista.