O futebol pentacampeão do mundo atravessou momentos complicados nos últimos anos, desde um estilo burocrático e a decadência precoce de alguns craques à derrota por 7-1 para a Alemanha na Copa do Mundo do Brasil. Como se não bastasse, após a fatídica goleada, a Seleção foi eliminada de forma humilhante na Copa América Centenário e teve um péssimo início nas Eliminatórias.
A crise instalada foi de forma geral e atingiu principalmente os treinadores do futebol brasileiro. Habituado a nomes históricos como Telê Santana, Zagallo, Claudio Coutinho e tantos outros, o torcedor se acostumou a respeitar a figura do "professor" e a atribuir a ele tanto as vitórias quanto as derrotas.
Felipão sentiu isso na pele, herói em 2002 e vilão em 2014, ele viveu, talvez, a melhor fase da profissão no futebol brasileiro, como também acompanhou de perto a decadência dela.
Hoje, no Brasil, o discurso é de que faltam técnicos capacitados no mercado. Chegou-se até ensaiar uma reformulação que foi brecada pela impaciência dos dirigentes. Para se ter uma ideia, na Série A do Campeonato Brasileiro, que tem 20 clubes, apenas dois treinadores estão em seus cargos há mais de um ano.
Num dos momentos mais turbulentos da história dos treinadores no Brasil, Tite apareceu como um ponto fora da curva. Dono de um trabalho impecável no Corinthians, ele assumiu a Seleção Brasileira como a última esperança por dias melhores.
E mesmo diante das dificuldades, surpreendeu a todos e foi além do que se esperava dele. Tite juntou os cacos da Seleção, descobriu um camisa 9, arrumou a defesa, restabeleceu a paz e deu liberdade para Neymar potencializar seu talento na Canarinho.
Ele dividiu responsabilidades, reconquistou a torcida, carimbou a vaga de forma antecipada para a Copa do Mundo da Rússia e, agora, vem brigando por melhorias não só na profissão de treinador, como também na dos dirigentes do futebol brasileiro.
Neste segunda-feira(21), ele participou de um encontro que reuniu vários treinadores afim de discutir melhorias no esporte. Em maio, durante a Semana do Futebol, evento promovido pela CBF, ele já havia feito reivindicações e um apelo público para que se discutisse ações relativas ao futebol no país.
"Que haja um mínimo de tempo e que, no planejamento estejam inseridas as situações circunstanciais e aleatórias. O futebol é imprevisível, mas é importante que o dirigente possa sentar com o comandante para definir o que precisa ser ajustado, se for necessário, e que não aconteça uma simples troca de técnico", disse o treinador, que ressaltou a confiança recebida em trabalhos anteriores, "como no Corinthians, Grêmio e Internacional", disse Tite em entrevista após o encontro de treinadores, na sede da CBF.
Curiosamente, Tite é o único técnico brasileiro que foi cotado para dirigir um clube do futebol europeu nos últimos anos. Antes de assumir a Seleção, ele recebeu uma consulta do Porto, de Portugal, mas prontamente deixou claro que seguiria em terras canarinho.
O treinador, que foi indicado ao prêmio da FIFA de melhor técnico do mundo, também defendeu melhorias para a classe, entre elas, a validação da CBF no exterior.
"Nós queremos que a Conmebol padronize, queremos que os cursos sejam disponibilizados. Não estamos nos eximindo da nossa responsabilidade, nós sabemos disso. Estes e outros assuntos, foram ouvidos pela CBF e agora resta a eles decidirem se é viável".
Tite saiu da zona de conforto para brigar pelos outros, pela sua profissão e pela melhoria do futebol brasileiro. Ele não precisava disso, mas foi lá e fez, como vem fazendo e muito pelo esporte no país. E se alguém pode conquistar mudanças significativas e ajudar os treinadores brasileiros a voltarem a se destacar, esse alguém é ele. E com certeza não medirá esforços para isso.