Messi sobe o tom e aumenta a cobrança pela Champions

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Messi reforça tom mais duro no Barcelona e aumenta cobrança pela Liga dos Campeões. Goal

O craque argentino chegou até mesmo a flertar com a possibilidade, antes impensável, de deixar o Camp Nou.

O uso mais comum da palavra “mas” é sob a forma de conjunção coordenativa de adversidade. Em espanhol, a tradução mais comum é o “pero”, que inicia um complemento de oposição. Em sua mais recente – e sempre rara – entrevista exclusiva para o jornal Sport, da Catalunha, Lionel Messi deixou todo o Barcelona apreensivo com o uso desta palavra.

“Aqui é minha casa e eu não quero sair, mas eu quero ganhar”, afirmou, reiterando seu amor pelo clube ao mesmo tempo em que abre a sua necessidade de voltar a ser campeão da Champions League, algo que o Barça não consegue desde 2015 - com o agravante de ainda ter visto o arquirrival Real Madrid ter dominado a prova desde então, colecionando três taças seguidas. Um afago importante, justamente depois do vazamento da notícia de que, a partir da próxima temporada, Messi poderá deixar o Camp Nou de graça. Só que este afago foi seguido por um grito de alerta: o amor pelas maiores glórias esportivas é superior à paixão clubística que sente pela instituição que o recebeu ainda criança.

Aprendendo a “falar grosso”

Lionel Messi ainda não jogou oficialmente pelo Barcelona na atual temporada. Segue se recuperando de uma lesão e será desfalque neste sábado (14), contra o Valencia, e também não estará em campo na estreia dos catalães na Champions League, terça-feira (17), diante do Borussia Dortmund. Mas nas palavras ditas, o argentino, de perfil quieto durante a maior parte da sua carreira, segue demonstrando ter acordado para não ser apenas um condutor do time com a bola no pé. Foi uma postura iniciada na Copa América 2019, onde enfim cantou o hino de seu país, e falou até demais – inclusive colocando em xeque a idoneidade do torneio continental após a derrota para o Brasil.

Alfinetadas em Bartomeu e na diretoria

A entrevista também demonstrou um Messi pronto para o combate, caso seja preciso, com a diretoria do clube. Afinal de contas, se Josep Maria Bartomeu, o presidente barcelonista, disse recentemente que fez esforços para trazer Neymar junto ao PSG, o argentino criticou dizendo que não foi o bastante. E se o mandatário garantiu que os jogadores não governam nos bastidores, e apenas no gramado, o maior craque blaugrana em todos os tempos pôs esta fala contra a parede, ainda que tenha reiterado que não manda no vestiário, pedindo de fato reforços e um plantel que faça o gigante do Camp Nou voltar a ser dominante nas provas europeias - como foi em anos nem tão distantes.

O blefe da saída?

E qual é a melhor maneira de se fazer isso, que não a de indicar que suas portas não estão fechadas para outros clubes? Perder Messi, ainda mais de graça, seria um pesadelo para todos, e uma marca que nenhum presidente quer carregar consigo – no Flamengo, por exemplo, Antônio Augusto Dunshee de Abranches é tão conhecido por ter sido o presidente da conquista do Mundial de Clubes de 1981, quanto por ter assinado o papel que vendeu Zico para o futebol italiano.

O primeiro flerte mais evidente, indicando uma mínima chance de deixar o Camp Nou, também é um recado para o próprio elenco de jogadores, em um time que ao longo dos anos deixou de ter sua força no coletivo para depender quase que exclusivamente da individualidade de Messi. Quando o argentino está em um dia normal, faz até chover. Mas quando o contrário acontece, o clube vai acumulando alguns vexames, sendo os dois maiores deles as últimas eliminações na Champions League, quando viu uma grande vantagem construída nos jogos de ida não significar nada nos mata-matas perdidos para Liverpool e Roma.

A perspicácia de Messi foi ter feito tantas críticas ao mesmo tempo em que protegeu o trabalho de Ernesto Valverde: ainda que seja o treinador mais criticado do time nos últimos anos, a aposta do camisa 10 neste momento é pela continuidade. O recado principal foi dado extracampo, e com uma sutileza tão grande quanto o alerta contido no “mas”, que acabou demonstrando certa oposição à situação recente do clube, evidenciando que ter apenas Messi não é o bastante para evitar adversidades.

Lionel Messi ainda fala pouco, mas tem conseguido passar de forma cada vez mais contundente o seu recado. Se já havia dito palavras fortes no discurso feito dentro do Camp Nou para os torcedores, na abertura oficial desta temporada, agora subiu ainda mais o tom para pressionar a diretoria a construir um Barcelona melhor e, acima de qualquer coisa, novamente vitorioso a nível continental.

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