O sonho do menino Cristiano e a lenda dos mil jogos

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Lenda do futebol, Cristiano Ronaldo completou mil jogos oficiais na carreira. EFE

Cristiano Ronaldo completou mil partidas oficiais. Um protagonista que jamais será apagado da história do futebol e que somou incríveis 725 gols em 999 jogos. Faminto mesmo na derrota e insaciável nas vitórias. Senhor da Champions League. Um craque que foi além do sonho de menino para se tornar o jogador dos sonhos de qualquer técnico e torcedor. Ao longo dos mil jogos, esculpiu seu corpo até ser uma máquina que parece nunca desligar.

Goleador voraz. Caçador de prêmios. Pesadelo de goleiros e zagas. Fera inesgotável. Robô que produz em quantidade e qualidade. Monstro com fome no olhar e potência nos músculos para devorar cada adversário com seus movimentos únicos. Assim é a descrição de um jogador nota mil. Don Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, assinatura obrigatória e destacada na ilustre enciclopédia do gol. Em Lisboa, Manchester, Madrid e Turim. Em qualquer galáxia que se propuser a explorar.

Suas admiráveis estatísticas são a consequência de uma genética digna de estudo aliada a uma disposição invejável e um talento raro. 29 troféus ocupam o armário de seu currículo vencedor. Ganha como poucos e causa admiração para muitos. As ambições não acabam, pois sempre há mais recordes para bater e gols para marcar. A vontade para o próximo objetivo é latente como se fosse o primeiro.

Seu biotipo, sua infância humilde e os objetivos pessoais fazem desse profissional um perfeito soldado do gol. Os dados são praticamente inigualáveis: 0,73 gol por partida em 12 anos de alto nível, nos quais derrotou 114 dos 155 times enfrentados. É uma história regida pelo destino, que o levou longe, aos mil jogos. A cada desafio, um impulso a mais rumo à glória, que foi alcançada há tempos e não para de se engrandecer.

O português tem o gol como estilo de vida. Para ele, o futebol não é a coisa mais importante dentre as menos relevantes. Esse esporte serve como um catalizador de paixões e medos desde os primeiros toques na bola pelas ruas da Ilha da Madeira, onde encontrava o gol onde não havia o que demarcasse a meta. Talvez por isso encontre com tanta facilidade o caminho para marcar nos principais palcos do futebol mundial.

Aquele Ronaldo garoto da infância nunca se foi. O mesmo que apareceu no "Siuuuuuu" de sua terceira Bola de Ouro. Entre lágrimas desconsoladas que ele deixou Mestalla ao ser expulso. Com um empurrão em De Burgos Bengoetxea em um 'Clásico' que ele queria vencer sozinho. Em cada birra, com golpes no ar e no chão por ter perdido um gol. Na bronca em cada companheiro que não lhe passou a bola. Em seus 'foda-se' dirigido às arquibancadas.

A lenda do filho de um jardineiro

Mas foi assim que sua vida foi escrita, como "o sonho de uma criança". Essa é a mensagem que estava gravada em suas chuteiras para que ele se lembrasse toda vez que entrasse em campo. E a mesma que foi pronunciada diante de um Bernabéu lotado em sua descomunal apresentação em julho de 2009, quando se tornava a contratação mais cara do mundo. Mas sua melhor conquista, a que mudou seu destino, aconteceu quando criança. Com a modesta camisa do CF Andorinha, cujo roupeiro era seu pai.

Aquele homem modesto sempre via o filho jogar e, todas as noites, quando chegava em casa, gritava aos quatro cantos, principalmente para a esposa e à outra filha as façanhas do filho. Super orgulhoso. No entanto, isso não era o suficiente para motivá-las a ir vê-lo em ação. E foi então que ele começou a desenvolver sua competitividade. Foi conquistando cada vez mais gols até que um belo dia elas foram vistas nas arquibancadas pela primeira vez. Cristiano conta que, naquele dia em que as viu no cantinho do campo junto com seu pai, ele percebeu que poderia conseguir o que se propusera a fazer. A história de sua vida.

O luxo chegou com o tempo a sua família. Chegou com sua sede de conquistas. Ele cultiva o corpo e a imagem, come saudavelmente e detesta álcool, provavelmente porque o vício custou a vida de seu pai prematuramente. E nesse aprendizado ele está agora: apenas o papel de pai de família é comparável ao do atacante.

Aos 35 anos, ninguém duvida que ele possa chegar aos 40 em alto nível. Seu físico, sempre escultural, é a soma da herança genética e o desejo que ele começou a realizar desde os 11 anos, quando entendeu que tinha um talento superior ao de outros, mas também decidiu se tornar aquele que trabalharia mais e melhor que todos. E assim foi sempre; se algo mudou nele nesses anos, foram seus "looks": cabelo encaracolado, mechas loiras, franjas sem fim ou sua aparência atual de samurai, nada mais pertinente para se tornar um homem dos mil jogos.

Seu caráter nesses 17 anos de elite foi sendo moldado a fogo lento. À medida em que foi entendendo que não se pode vencer tudo e sempre, aprendeu mais a desfrutar de suas conquistas. Mas também carrega um currículo com 127 cartões amarelos e 11 expulsões. Uma trajetória em que foi chamado de arrogante, a que respondeu dizendo: "me invejam porque sou bonito, rico e um grande jogador de futebol".

Essa evolução também pode ser medida em sua eterna e multidisciplinar rivalidade com Leo Messi. Aquele que lhe tirou muitos prêmios e títulos, e chegou a ser odiado por tudo isso. Mas quando o luso entendeu que a existência do argentino lhe obrigava a ser melhor, começou a curtir esse duelo. E se Messi tem mais Bolas de Ouro, ele possui o único gol que falta ao rosárino: a bicicleta. Aquele salto impressionante até o céu de Turim e consequentemente ao Olímpo do futebol. O golaço que acabaria sendo o primeiro beijo no em seu atual time. 

A habilidade pelo alto é a sua marca registrada, um diferencial para os outros artilheiros; 128 dos seus gols foram de cabeça. Além da sua bicicleta lendária, destacamos os gloriosos saltos contra o United com a camisa do Real Madrid ou o último diante da Sampdoria em Turim. Ainda pode se vangloriar de ser um goleador ambidestro e com recursos mágicos, como o inesquecível gol de calcanhar marcado em Vallecas. Gols de todas as cores, dignos de videogame. 

Embora já exista um jogo e até uma revista em quadrinhos com as suas façanhas, de algum modo Cristiano é o Mark Lenders de carne e osso. As analogias com o antagonista de "Super Campeões" resultam inevitáveis. O jogador determinado que quer vencer a todo custo, que tem em sua origem humilde a motivação para triunfar. 

Mister Champions

A Champions mostrou a máxima capacidade do 'Bicho'. Não é uma mera casualidade que os seus melhores momentos tenham sido justamente na máxima competições de clubes. Não em vão, a 'Orelhuda' é o título mais vezes conquistado por ele. Seu rastro de vitórias no 'Velho Continente' assusta, e ele também pode ser conhecido como o "Mister Champions".

É o que mais títulos (5), gols (128), partidas (169) e temporadas (17) possui. O único a marcar nos seis jogos de uma fase de grupo. 65 gols na fase eliminatória. Recorde de maior número de gols em uma mesma edição (17)... seu corpo foi feito para isso. 

De fato, pode ser que sua cabeça o faça deixar os gramados antes que suas pernas e pulmões. Talvez quando seu assédio acabe e ele supere a lenda Ali Daei. Ou quando ele consiga conquistar o único grande título que lhe falta: a Copa do Mundo.

Não sabemos qual será o ano de seu adeus, porém, 2013 sempre ficará marcado como o ano dos sonhos. 69 gols em 59 partidas. Vestido de branco, a cor que melhor o encaixou. De branco, alcançou uma média de 1,03 gols por jogo. Disfrutou disso tornando o Atlético na equipe que mais ganhou (16 vezes), com o ápice em Lisboa e Milão; e sofrendo contra o Barça, clube que mais o derrotou (15). Falamos sobre o cara com mais gols que futebol, de uma verdadeira máquina. Destruído na derrota e ainda mais insaciável na vitória. O jogador dos 1000 jogos que já pensa em suas mil e uma noites de glórias.

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