O ponto positivo do Botafogo em 2017 era a fantasia. Mas a ordem dos fatores, no futebol, altera o produto.
Carente de grandes títulos há mais de duas décadas, o torcedor alvinegro sonhou com o troféu da Libertadores graças a uma campanha espetacular de um elenco limitado.
Foi jogando 110% que o Botafogo virou o exterminador de campeões até cair para o Grêmio – jogando muito mal na ida das quartas de final, mas prejudicado por um pênalti não assinalado; e fazendo em Porto Alegre uma de suas melhores exibições, até Lucas Barrios tocar o despertador para a vida real.
Um time que, por estar sempre no limite, fazia mais do que o esperado. E ainda havia sofrido o duro golpe de uma eliminação para o Flamengo nas semifinais da Copa do Brasil: um embate sem força ofensiva alvinegra, que apostou tudo na solidez defensiva que vivia no momento e na eficácia de Gatito Fernández ao enfrentar os tiros da marca da cal. A estratégia acabou quando Berrío deixou Victor Luís na saudade, antes de servir Diego.
Focar para voltar à Libertadores era o que restava. E o atestado do bom trabalho feito pelo departamento de futebol estava no fato de, mesmo com o quarto elenco menos valioso do Brasileirão [mais apenas do que Atlético-GO, Avaí e Ponte Preta, segundo o site especializado 'Transfermarkt' o Botafogo tenha passado 13 rodadas no G-6.
Ainda que a camisa alvinegra merecesse mais, a instituição - atolada em dívidas e que hoje é mais uma vitrine para mercado doméstico quando seus jogadores mostram valor – via na tabela de classificação um atestado de bom trabalho. Até mesmo porque no meio do caminho surgiram imprevistos previsíveis, como lesões e assédio de outros clubes.
Mas ainda que um elenco limitado, que teve os seus melhores momentos muito mais por causa da energia do que pela habilidade, tenha cumprido o objetivo primário de não cair, é impossível não tirar o carimbo de fracasso da campanha botafoguense no Brasileirão. Na reta final, foram cinco partidas sem vitórias nas últimas rodadas. De acordo com o site 'FutDados', o desempenho da equipe de Jair Ventura nos últimos seis compromissos foi superior apenas ao da rebaixada Ponte Preta: 27.78% de aproveitamento.
E se o Botafogo demonstrou não merecer uma vaga na Libertadores mesmo com a possibilidade de termos nove equipes no certame continental, a Chapecoense mostrou o seu poder e compromisso mesmo um ano após ter sofrido a maior tragédia esportiva da história: teve o melhor aproveitamento nos últimos seis jogos [77.78% de sucesso, com 14 de 18 pontos conquistados] e fez algo que o Botafogo nunca conseguiu: pelo segundo ano seguido, estará na Libertadores.
Ao acreditar que a fantasia era a sua realidade, o Botafogo levou um duro golpe e vai começar a próxima temporada já cercado de dúvidas. O torcedor, que acreditou e sonhou, sente, no mínimo, a frustração por não ver o time cumprir com a expectativa gerada. O contraponto é a própria Chape: pés no chão, sempre de acordo com o que podia fazer... e no final transformou uma dura realidade em fantasia: campeã do segundo turno e com presença certa na Libertadores.