Zagallo foi o primeiro a entrar para história com títulos mundiais conquistados como jogador e treinador. O ‘Velho Lobo’ foi a peça tática revolucionária, de entrega e organização na ponta-esquerda para contrabalancear o caos espetacular de Garrincha, em 1958. O 4-2-4 tomava contornos de 4-3-3, como o Brasil foi bicampeão em 1962.
Este contorno ficou ainda mais forte em 1970, na equipe que encantou o planeta com uma campanha eternizada pelos 4 a 1 aplicados na decisão contra uma excelente Itália. Assim como havia esboçado em 1958 e 62, o agora treinador Zagallo escalou o seu Brasil em um 4-3-3 e convenceu os jogadores a ser um pouquinho como ele havia sido: todos, exceção a Tostão, precisavam participar ativamente na fase defensiva.
Franz Beckenbauer repetiu o feito de Zagallo em 1990, quando, da área técnica, comandou a seleção alemã ao seu terceiro título mundial. Uma grande ironia do destino que o primeiro grande líbero do futebol tenha, como treinador, conquistado a Copa do Mundo marcada pela massificação da função que ele havia consagrado.
Outras coincidências foram o gosto de derrota antes do sucesso. Como jogador, Beckenbauer havia sido vice-campeão mundial em 1966 e caiu na semifinal de 1970 antes de triunfar em 1974. Naquela Copa, o já citado 4-3-3 era o sistema tático mais utilizado, e a Alemanha foi o time que mais soube se adaptar às situações de jogo. Na decisão, a postura mais direta bastou para superar a espetacular Holanda.
Já como treinador, Beckenbauer havia amargado o vice-mundial em 1986 antes de saborear o triunfo em 1990. O ‘Senhor dos Líberos’ soube tirar o melhor da sua Alemanha na Copa dos líberos: Augenthaler era quem fazia a função no popular 3-5-2 daquele ano, mas se havia alguém que lembrava mais o talento de Franz era Lothar Matthäus. Nenhuma seleção foi tão efetiva com o sistema mais usado, ainda que o troféu tenha chegado apenas em pênalti – polêmico – nos últimos minutos. De qualquer forma, o ‘Kaiser’ conseguiu aplicar em campo características do jogador que ele havia sido.
Por último, Didier Deschamps entrou neste seleto grupo ao comandar a França ao título mundial de 2018 após bater a Croácia por 4 a 2. Um título marcado pela segurança defensiva nas duas primeiras linhas, e que focava suas ações ofensivas nos dois jogadores que ficavam atrás de um centroavante que não convenceu. Em 1998, Zidane e Djorkaeff ajudaram no caminho à primeira estrela; vinte anos depois, Griezmann e Mbappé fizeram o mesmo para bordar a segunda estrela.
O dedo de Deschamps também se mostrou presente ao adaptar a sua equipe aos adversários, como havia feito a sua França de 1998 – que mudou o 4-2-3-1 para o 4-3-2-1 durante a competição. E se teve destaque à frente de uma zaga forte, o comandante viu a exuberância de N’Golo Kanté na mesma posição. Assim como aconteceu com Zagallo e Beckenbauer, seus antecessores neste grupo seleto de campeões, o triunfo de Didier Deschamps como treinador em Mundial reflete em muito os seus maiores talentos como jogador.