Penúltimo colocado no Brasileirão, com um dos piores aproveitamentos de sua história no torneio, o Botafogo depende de um milagre para não ser rebaixado, pela terceira vez, para a Série B. Quando o clube anunciou as contratações de Keisuke Honda e Salomon Kalou, poucos imaginariam que o Alvinegro estaria nesta situação. Menos ainda apostariam que as estrelas internacionais se tornariam, após a esperança de uma temporada sem sustos, grandes decepções.
O carimbo de “grandes decepções” é dado, evidentemente, pela expectativa que tanto o japonês quanto o marfinense trouxeram consigo. O torcedor mais fanático ou o dirigente mais cego até imaginaram a construção de um time que brigaria na parte de cima da tabela, mas, veteranos e em fim de carreira, nem Honda nem Kalou vinham mostrando futebol para tal. Contudo, qualidade técnica e experiência, como possuem os camisas 4 e 8, mostraram ser úteis nos últimos anos do nosso cenário brasileiro – nomes como Guarín e Maxi López mostraram no Vasco, por exemplo. Ainda que não para credenciar um time a voos mais altos, ao menos para ajudar na árdua batalha contra o rebaixamento.
Com Honda e Kalou no elenco, a expectativa mais realista, em um primeiro lugar, era esta: ficar em um meio de tabela e sem levar tantos sustos em relação à parte de baixo. Um avanço em relação às últimas campanhas botafoguenses. Acontece que os dirigentes do Alvinegro, estes, sim, os principais culpados pela situação atual, se desfizeram de nomes importantes para o nível do elenco, trouxeram peças de reposição por quantidade ao invés de qualidade e – como se não bastasse – trocaram de treinadores como se não houvesse amanhã. De outubro até dezembro, o time foi treinado na beira de campo apenas por auxiliares – Bruno Lazaroni, Emiliano Díaz e Felipe Lucena.
Honda e Kalou não são os maiores culpados pela situação que o Botafogo se encontra, e isso precisa ficar claro. Mas, em campo, ao lado do lateral-esquerdo Victor Luís, são as maiores decepções da temporada. É possível até que, futuramente, apareçam nas listas de “piores contratações” já feitas pelo clube.
Kalou no Botafogo
Com um gol e nenhuma assistência em 18 partidas realizadas pelo Botafogo, Kalou se viu na ingrata situação de precisar, aos 35 anos, atuar nas pontas, onde existe a exigência de um físico e um fôlego que não mais lhe pertencem. O marfinense, contudo, decepciona pelo baixo número de partidas disputadas (não está nem no Top 10 de minutos em campo, dentre os jogadores de linha) e pela péssima finalização. A sua qualidade tem aparecido em oportunidades criadas em setores perigosos, perto do gol adversário, mas como joga poucas vezes e ainda não atuou numa faixa de campo onde pode ser mais perigoso, segue abaixo das expectativas.
Honda no Botafogo
Keisuke Honda, ao contrário de Kalou, sequer jogava em uma liga de grande importância antes de chegar ao Botafogo – rápida passagem pela Holanda após um período mais longo na Austrália. Mas sua qualidade técnica com a bola nos pés sempre foi elogiável. O japonês, aos 34 anos, segue mostrando um pouco desta habilidade. O seu problema, contudo, parece ser muito mais de ordem comportamental: muitos passes para trás, uma aparente falta de segurança para se arriscar mais à frente e, pior, pouca voz de comando mesmo sendo o capitão do time.
Apesar de ser um dos melhores batedores de falta disponíveis no campeonato, os relatos são de que o japonês não vem treinando este fundamento. A realidade é que ele não se impõe diante dos demais para ser o homem das bolas paradas, onde pode fazer a diferença.
Fator comportamental
Na opinião de muitos torcedores, contudo, o pior tem sido até o fator comportamental de ambos em meio a este que, provavelmente, seja o pior momento de um clube já marcado por várias cicatrizes. A promessa de que o Botafogo lutaria até o fim para permanecer na Série A, dada após derrota contra o Flamengo, foi uma das raras ocasiões em que Salomon Kalou apareceu para falar sobre o seu atual time. Já Honda não troca palavras no fim da partida, escolhe apenas as redes sociais para se manifestar e o discurso já não traz engajamentos positivos da torcida.
December 5, 2020
Tecnicamente, Honda e Kalou poderiam render mais se tantos erros não tivessem sido cometidos pela administração botafoguense. No entanto, aliado à grande quebra de expectativa do que eles poderiam entregar em campo, o fato de não serem as lideranças de um grupo recheado de jovens é mais um elemento que explica como eles deixaram de ser esperança para se tornarem uma das tantas decepções do Botafogo em 2020.