Em um espaço de pouco mais de uma década, o City Football Group (CFG) se tornou uma das maiores franquias de clubes de futebol no mundo. Com times nos Estados Unidos, Austrália, China, Índia, Japão, Espanha e Uruguai, o grupo que administra também o Manchester City tem um objetivo estabelecido: se tornar a Disney do futebol.
O conceito baseado na empresa americana é ser dominante no mercado do futebol como a Disney é no entretenimento. Seja nos parques espalhados por todo o mundo (ao todo são 12 parques em seis localidades diferentes), seja na indústria do cinema, a empresa de Walt Disney é a de maior destaque. Vale lembrar que ela é dona da Marvel ("Vingadores"), Lucasfilm ("Star Wars") e Fox ("Avatar").
Para o CFG, tudo começou em 2008, quando o bilionário Sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan, de Abu Dhabi, comprou o Manchester City, um tradicional clube inglês cujo sucesso dentro e fora de campo era escasso. Hoje, o City faz parte de um grupo que vale aproximadamente 5 bilhões de dólares (R$ 25 bilhões).
Além do time inglês, o CFG administra o futebol dos seguintes clubes: New York City FC (EUA), Melbourne City FC (AUS), Sichuan Jiuniu (CHI), Mumbai City (IND), Yokohama F. Marinos (JAP), Girona (ES) e Montevideo City Torque (URU). E já há negociações para que o Nancy, da França, seja o próximo clube a entrar no grupo.
O City continua sendo o "Magic Kingdom" (principal parque da Disney) do grupo, com a Premier League ainda sendo a liga mais rica e de alto nível do mundo, além da mais valiosa. Mas sua política de aquisição os colocou em primeiro plano, à medida que o jogo continua a crescer e se desenvolver em mercados emergentes e grandes.
Há outros modelos de administração de multi-clubes. Talvez o mais conhecido seja o da gigante de energéticos Red Bull, que tem equipes na Áustria (Red Bull Salzburg), Alemanha (RB Leipzig), EUA (New York Red Bulls) e Brasil (Red Bull Bragatino). Mas não chega nem perto da abrangência mundial do CFG.
A ideia de "Disneyficação" já era discutida pelo CEO do City Ferran Soriano quando ele ocupava uma posição similar na diretoria do Barcelona. A visão dele é de levar uma experiência muito além do entretenimento esportivo por si só e levar a marca dos clubes para o mundo todo.
Os entusiastas da Disney têm uma expectativa altamente elevada quando vão assistir a um filme, vão em alguma loja e, principalmente, quando vão aos parques temáticos do grupo. Soriano queria fazer algo similar no futebol e a ideia foi sendo refinada ao longo do tempo e a partir dos clubes que o CFG adquiria.
O Professor Simon Chadwick, do Centro da Indústria Esportiva da Eurásia, analisa o crescimento do CFG desde uma palestra lecionada por Soriano há 12 anos na University of London's Birkbeck College, em que o espanhol contou sobre seus planos.
"O que agora está se tornando mais claro sobre a estratégia do CFG é que eles pretendem entregar simultaneamente uma multiplicidade de objetivos", disse o Professor à Goal.
"Na China e na Índia, a intenção é aumentar o envolvimento dos fãs e garantir os benefícios de uma crescente classe média e seu desejo por produtos de entretenimento. Na Espanha e no Uruguai, identificação, aquisição e desenvolvimento de talentos parecem ser os objetivos", completou.
"O modelo de muti-clubes já havia sido usado antes e está sendo usado por rivais, com a Red Bull. No entanto, é o que o CFG simboliza que é mais impressionante: a interseção de futebol, entretenimento, digital e, talvez crucialmente, política. Não há dúvida de que a riqueza de Abu Dhabi, aliada às suas aspirações políticas e diplomáticas, colocou o CFG em uma posição única. Embora essa posição não seja inatacável, pelo menos por enquanto, ela é dominante", adicionou o Professor.
A revolução do City no sentido do entretenimento já começou. Exemplos disso são o The Tunnel Club, um acesso exclusivo para alguns torcedores ao backstage do clube em dias de jogos no Etihad Stadium, ou a série do clube lançada pela Amazon Prime Video (que tem outros títulos ligados ao futebol), "All or Nothing" (Tudo ou Nada, em português).
O quão grande e onde o futebol crescerá mais se tornará mais claro na próxima década, mas o CFG já está bem estabelecido no que parece ser mercados potencialmente importantes. E tudo isso começou com um clube comprado em 2008, que simplesmente esperava ganhar seu primeiro troféu em mais de 30 anos.