Sem Dudu e com Abel, Palmeiras distribui protagonismos no sonho do título da Libertadores

Dudu está na história do Palmeiras. Chegou em 2015, recusando ofertas de rivais alviverdes, e foi um dos catalisadores de uma nova era de grandes taças para o clube. Com o meia-atacante, a torcida palmeirense comemorou a conquista da Copa do Brasil – em final contra o Santos – na primeira temporada palestrina do jogador. O Brasileirão veio no ano seguinte e também em 2018, quando Dudu foi aclamado como grande craque do torneio.
Em cinco anos e 295 jogos, foram 70 gols marcados e 78 assistências segundo levantamento feito pela Goal. Participação direta em 148 dos 575 gols marcados pelo time no mesmo período, pouco mais de 25%. É muita coisa. Ter um grande protagonista, aquele craque que você sabe que pode mudar o jogo quando tem a bola em seus pés, geralmente gera algum tipo de dependência. Mas isso nem sempre pode ser considerado algo ruim. O problema é quando as demais peças da estrutura demonstram queda vertiginosa, como aconteceu com o Palmeiras especialmente em 2019 e meados desta temporada 2020. Aí o protagonismo exacerbado de um entre 11 acaba destacando que algo é preciso mudar.
No Palmeiras, praticamente tudo mudou. E o time hoje treinado por Abel Ferreira, finalista da Libertadores e Copa do Brasil, exemplifica muito desta mudança.
Dudu, o maior artilheiro e garçom do clube neste século, deixou o Brasil no início de 2020. Foi emprestado para o futebol do Qatar após problemas pessoais. O Palmeiras teve Vanderlei Luxemburgo no comando e conquistou o Campeonato Paulista, mas não passava segurança. A saída de Luxa mostrou que o cenário poderia mudar para melhor, como foi esboçado no período em que Andrey Lopes comandou o time interinamente com sucesso. Chegou Abel Ferreira, em novembro, e a equipe palmeirense voltou a passar uma segurança que não vinha sendo vista até então. O time que disputará o título da Libertadores contra o Santos, neste sábado (30) dentro do Maracanã, não tem um protagonista como Dudu, o jogador que todos procuram toda hora para resolver as jogadas no ataque. Ao invés disso, dividiu muito bem os protagonismos.
Pergunte a si próprio quem é o grande nome deste Palmeiras e você terá uma pluralidade de respostas: Weverton no gol, Gustavo Gómez na zaga e Willian Bigode no ataque são velhos conhecidos que estão brilhando. Mas há os casos de Gustavo Scarpa e Raphael Veiga, recuperados sob o comando de Abel, enquanto Rony também conseguiu se agigantar a ponto de ser considerado candidato ao prêmio de craque do continente sul-americano. Luiz Adriano foi outro que mostrou faro de gols tão apurado quanto a liderança que passou a assumir.
Perguntado, durante a entrevista coletiva realizada na véspera da decisão continental, sobre Rony, Abel Ferreira fez uma leve crítica: “vocês focam muito no individual”, disse antes de voltar a bater na tecla da importância de todo o conjunto: “Gosto de falar da equipe completa. Porque depende de quem passa a bola, o lateral depende dele na ajuda para defender. O futebol é coletivo, não é individual”, disse o português.
Um dia antes, em entrevista para a ESPN Brasil, Dudu lamentou não fazer parte deste Palmeiras de Abel – embora deseje permanecer no Qatar por mais três anos – e disse que teria vaga no time atual.
“Eu ouço falar muito bem do Abel Ferreira, dizem que é um grande treinador. Ele tem um estilo de jogo muito interessante. (...) Eu também tive grandes treinadores no Palmeiras, todos me ajudaram bastante. Sei que poderia ajudar o time se estivesse aí”, afirmou.
Difícil duvidar, mas é possível imaginar que o Palmeiras não dependeria mais apenas de Dudu para resolver jogos. Sob o comando de Abel Ferreira, o time que briga pelos principais títulos de mata-mata possíveis em nosso cenário fez do protagonismo algo não mais singular, e sim plural.