Há 15 anos o Brasil conquistava, no Japão, o seu quinto título mundial. E se o atual momento da Seleção brasileira é excelente, desde que Tite assumiu as rédeas da equipe, o cenáro era absolutamente o contrário quando 'Felipão' foi escolhido para aquela que seria a sua primeira passagem como selecionado 'canarinho'.
No final das contas, tudo deu certo. A equipe recebeu os seus últimos ajustes no meio da competição, com a entrada de Kléberson para dar estabilidade ao meio. Depois de vencer a Alemanha na decisão, a chamada “Família Scolari” estufou o peito para falar em alto e bom som os seus números: desde que o Mundial passou a contar com um total de 7 partidas máximas a serem disputadas, nenhum campeão havia vencido todos os compromissos.
A geração, criticada antes de levantar o troféu, se mostraria espetacular. Com grande destaque para os laterais Cafu e Roberto Carlos, mais liberados para os avanços no incomum 3-4-2-1 montado por Felipão, pelos espetaculares meias Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo. E, claro, Ronaldo, herói na final ao balançar duas vezes as redes do goleiraço Oliver Khan – que naquele dia 30 de junho fez uma partida para esquecer.
O Brasil era penta com o melhor ataque (19 gols) e levando apenas quatro gols.
Uma palavra que pode muito bem definir aquela equipe é equilíbrio. Jogava com três zagueiros? Sim, mas dava o suporte para o meio de campo e ataque se soltarem. E ficar livre para criar é tudo o que um boleiro habilidoso sonha. A Seleção de 2002 contava com vários craques, mas todos absolutamente compromissados com a camisa 'canarinha'. Eles tinham algo a provar, e conseguiram.
Atualmente, o Brasil se prepara visando a disputa do Mundial de 2018. Se não levantar a taça na Rússia, vai emplacar a quarta participação sem conquistas. É lógico que um torneio que reúne os melhores selecionados do mundo não é fácil de se ganhar. Afinal de contas é o suprassumo do futebol. Mas o que explica a atual seca de títulos na Copa do Mundo?
Primeiro, vamos voltar à década de 1970. Depois do 'Tri', a Seleção brasileira ficou na quarta posição com um elenco bom, porém envelhecido, em 1974. Em 1978, houve a entressafra que antecedeu uma das maiores seleções de todas. Só que assim como a Hungria de Puskas ou a Holanda de Cruyff, o Brasil treinado por Telê Santana entrou para a história como o time que encantou sem ganhar. O Mundial de 1986, disputado no México, aproveitou boa parte da estrutura de 1982. Não encantou tanto, e também caiu.
A avaliação geral era de que o futebol havia mudado como esporte, e embora a Seleção brasileira ainda contasse com grandes craques precisava se atualizar. E buscar a mistura ideal entre o jogador técnico e físico. Em 1990, o 'Escrete Canarinho' dava mostras de que começava a iniciar tal processo. Só que não encantou, não ganhou e não jogou bem. Em 1994 o título veio com um estilo de jogo bastante criticado, e o tempero de encanto ficou apenas em Romário.
Voltemos para os anos mais recentes. Em 2006 o Brasil tinha os melhores jogadores do mundo, o clima geral era de ânimo e confiança no jogo bonito. Até mesmo a empresa que fabrica a camisa estampou tal frase no uniforme. Só que naquele certame disputado na Alemanha, ficou evidente uma falta de compromisso como há muito tempo não se via. Parte considerável dos jogadores só queria festejar e brindar. Anos depois, tal postura seria confirmada em relatos de atletas que estiveram lá. Sobrava talento, faltava compromisso.
Como forma de remediar todo o clima de festa, o ciclo até o Mundial de 2010 foi absolutamente o oposto. Nada de festas, nada de gracinhas. Compromisso máximo. Era a primeira passagem de Dunga na Seleção Brasileira. Um time competitivo – como todas as seleções tupiniquins -, mas sem nenhum toque de brilho. Muito compromisso, futebol feio.
Para 2014, a ordem era ‘vingar’ o Maracanazo. A derrota de 1950 era taxada por alguns como vergonha até hoje. O passado parecia estar tão presente, que 'Felipão' era mais uma vez treinador. Só que ao contrário de 2002, os seus anos anteriores não apresentavam muitos bons momentos [exceção feita ao período em Portugal]. O Brasil tinha jogadores mais habilidosos em relação ao Mundial anterior, daqueles que flertam com o protagonismo nos palcos europeus com belos lances e gols.
Só que a preparação para o torneio esteve muito longe do ideal. Dentro de campo, o selecionado não tinha padrão: era como se fosse fazer uma prova importante sem ter estudado nada. Os brilhos repentinos ficaram com um só jogador: Neymar. Só que o craque se machucou nas quartas de final e não poderia mais entrar em campo.
Veio a semifinal contra a Alemanha, e uma lição em vários aspectos: tática, técnica, organizacional... e até de humildade. Afinal de contas os germânicos eram considerados o time mais carismático da competição disputada em solo brasileiro. Placar de 7-1 e uma nova marca, daquelas que ninguém quer: a maior vergonha da história de uma grande seleção.
Com o Brasil em crise também no âmbito futebolístico, apenas um nome era visto como ideal para guiar os jogadores. Tite chegou e demonstrou em pouco tempo que a Seleção pode sonhar com mais um título mundial. E a geração atual, que era taxada de maneira equivocada como ‘fraca’, pode ao menos sonhar em entrar no panteão de ídolos como Rivaldo, Ronaldo, Cafu, Roberto Carlos, Marcos e tantos outros. O talento está aí, o bom trabalho também.