Uma das principais joias do Fluminense nesta década, o zagueiro Marlon viu as coisas aconteceram bem rápido na sua curta carreira até aqui. Depois de se destacar entre os profissionais do Tricolor demonstrando segurança, tranquilidade e qualidade técnica na linha defensiva, ele foi contratado junto ao Barcelona em 2016, aos 20 anos de idade.
O zagueiro teve uma passagem pelo time B antes de chegar a equipe principal do Barça, no entanto, a falta de oportunidades acabou levando Marlon a procurar novos ares. Ele passou pelo Nice e hoje, mais maduro, busca projeção e crescimento na Itália, com a camisa do Sassuolo. Confira a entrevista que o zagueiro concedeu a 'Goal'.
As coisas na sua carreira aconteceram muito rápido, mas você esperava logo cedo uma proposta do Barcelona? Teve outras opções?
Marlon: "Quando eu recebi a proposta do Barcelona, uma semana antes meus empresários e eu tínhamos nos reunido com um representante do Real Madrid, acabou que tomar essa decisão de ir para o Barcelona foi difícil, bem difícil, teve que ser muito bem pensada. Tínhamos o Torino, o Barcelona e o Real Madrid, a escolha estava em nossas mãos e aí escolhemos o Barcelona".
Então chegou a ter essa opção de ir para o Real Madrid?
Marlon: "Sim. Teve o interesse uma semana antes de acertar com o Barcelona e depois também quando eu cheguei em Barcelona, um dia antes de eu me apresentar para treinar no clube um representante do Real Madrid entrou em contato com o meu empresário, mas já estávamos apalavrados com o Barcelona e a gente não quis mudar a rota".
Você se arrependeu de ter ido para o Barcelona?
Marlon: "Eu não me arrependo, eu tinha esse sonho de jogar no Barcelona, pela filosofia, pela escola que eles tinham e tem até hoje. Posso dizer que realizei um sonho de criança de jogar lá com grandes jogadores. Claro que não foi ad maneira como eu esperava, com a frequência continuidade, mas não me arrependo, aprendi muito como pessoa, como profissional, foi um clube que me marcou e valorizou muito a minha carreira".
"Você saiu novo, e vários jogadores estão saindo ainda mais novos do Brasil para a Europa, você acha que essa saída cedo é boa?
Marlon: "A idade que os jogadores saem é muito precoce, então acaba que você precisa amadurecer ainda, então ou eles te emprestam para algum lugar ou te colocam para jogar com o time B, é um tema difícil, vale a pena você sair cedo, mas que tenha feito pelo menos uma quantidade considerável de jogos pelo profissional, que tenha amadurecido alguma coisa. No meu caso, eu fiz pouco mais de 60 jogos no profissional antes de ir, então você não está maduro o suficiente para chegar em clubes da Europa, você tem que pegar a velocidade do jogo, entender como funciona o esquema tático, se adaptar a cultura, a língua e tudo mais. Acredito ser importante sair cedo, mas com partidas consideráveis, pegar experiencia de Copa do Brasil, Libertadores Sul-Americana".
"Como foi a sua experiencia no Nice, gostou de lá?
Marlon: "Em Nice, a cidade é pequena mas cheia de história, curiosidade, é uma cidade muito bacana, diferente do Rio e de Barcelona, mais puxada para antiguidade. No clube forma 27 jogos que comecei jogando, 31 no total e que agregou muito a minha carreira. Quando cheguei estavam com centro de treinamento novo, com grandes jogadores como Dante, Balotelli, Sneijder, me receberam super bem, fui acolhido e pude desfrutar com eles".
"Barcelona, Nice, volta ao Barça, Sassuolo... nessas andanças, você chegou a pensar em voltar ao Brasil?
Marlon: "Não pensei em voltar ao Brasil, eu tenho objetivos muito claros na minha cabeça, na cabeça dos meus país, nós temos nossos objetivos. Para jogar na Europa você precisa de certo tempo de amadurecimento, principalmente sendo zagueiro que é sempre um pouco mais complicado. Não pensei em voltar, sempre tive a minha cabeça aqui na Europa. Essa temporada, caso volte o campeonato, quero fazer com que o Sassuolo possa classificar para a Europa League, se continuar aqui, seria jogar a Europa League, tenho vontade de conquistar esse título e aí jogar a Champions. Eu sonho em voltar para um grande clube, hoje a minha cabeça é mais aberta em relação ao Barça, é mais ampla, enxergo também outras equipes que tem a possibilidade de vencer a Champions, disputar em alto nível, meu sonho é voltar para um grande clube da Europa".
Quem foi o melhor treinador com quem você já trabalhou?
Marlon: "Foram dois, Luiz Enrique e o De Zerbi aqui no Sassuolo. São dois treinadores com ideias muito claras, uma filosofia de futebol muito clara e isso faz com que fique mais fácil para os jogadores. Quando eu chegava para treinar no time principal do Barcelona, o Luis sempre ficava dez minutos a mais comigo para poder me orientar e fazer com que eu me adaptasse o mais rápido possível e o De Zerbi é muito inteligente, ele é como um professor de universidade, ele faz com que você entenda cada equação, cada movimento, cada jogada que ele quer que você realize".
E o jogador que mais te impressionou jogando com ou contra você?
Marlon: "Ronaldinho Gaúcho, sem dúvida. No primeiro treino do Ronaldinho no Fluminense, no campo reduzido, tem uma imagem até, ele faz um gol no Julio Cesar, que hoje está no Grêmio, ele está na linha de fundo praticamente, ele da um elástico para fora e encobre o Julio Cesar, aquele momento marcou muito e por toda a história que ele já tinha para mim é quem mais me impressionou".
Como você se sente no Sassuolo? Já fala italiano ou outras línguas?
Marlon: "Eu me vejo adapato ao futebol italiano, joguei 15 jogos nessa temporada, 14 atuando os 90 minutos e um jogo entrando nos últimos 20 minutos, que foi o jogo que eu estava voltando de lesão. Eu me vejo bem adaptado aqui e espero ter uma boa sequência. Italiano eu falo bem, o francês também falo fluente, o espanhol agora o catalão eu só sei te estimo".
Você passou por quatro campeonatos até aqui, qual acha que é o mais complicado?
Marlon: "De dificuldade a nível tático, de qualidade de jogador o italiano. O frances é mais físico, a força física dos jogadores é mais elevada, eles são muito fortes e rápidos, mas acaba que o francês ainda tem um pouco de espaço, acho um pouco parecido com o brasileiro. Então acho que o italiano é mais difícil, por ser mais tático e muito pensado. A atenção no sistema defensivo, por exemplo, é muito elevada, você não pode fazer um movimento errado porque a outra equipe já está treinada para essa oportunidade, é como um jogo de xadrez, basta que uma peça se mova de forma errada que os adversários aproveitam.
Com a experiencia que você tem agora na Europa, acredita que faz bem a vinda de treinadores daí para cá, como a do Jorge Jesus?
Marlon: "O nosso futebol é muito espaçoso, o europeu é mais compacto e eu acho que essa compactação faz muita diferença, eu acredito que esse intercambio da Europa para o Brasil é muito interessante para os brasileiros pelo fato de estar trazendo umas coisas novas, uma renovação, reciclando o nosso futebol. Acho interessante porque o Jorge Jesus é um treinador muito detalhista, ele dá ênfase a parte tática e sem dúvida existe sempre o dedo, a mão ou quase boa parte do corpo do treinador, é mérito sim do treinador".