Depois de muita pressão, com torcedores indo até a Cidade do Galo, o CT alvinegro, cobrar os jogadores, o Atlético-MG enfim mostra evolução e um início de regularidade.
Não que o time de Roger Machado não tenha feito bons jogos em 2017 anteriormente, mas pela primeira vez na temporada, a equipe teve duas boas atuações em sequência, mostrando não apenas crescimento e conseguindo os triunfos, mas também tendo controle. Por outro lado, como em todo processo de evolução, também são vistas falhas.
Após bater a URT por 3 a 0 no jogo de volta da semifinal do Campeonato Mineiro, no último domingo (23), com grande atuação principalmente no segundo tempo, o Atlético-MG voltou a jogar bem e venceu o Libertad, na noite desta quarta-feira (26), novamente no Independência, por 2 a 0, pela Libertadores.
A importante vitória no confronto direto coloca o Galo na liderança provisória do grupo 6 da competição, com 7 pontos. O time paraguaio fica estacionado nas quatro unidades, no terceiro lugar, enquanto o Godoy Cruz, segundo, com 7, e o Sport Boys, lanterna, com um, vão se enfrentar na noite desta quinta (27), na Bolívia, às 21:45 horas (de Brasília).
O Atlético-MG fez um bom jogo, mereceu a vitória, foi superior ao adversário e teve o controle da partida na maior parte do tempo, mas cometeu erros, sofreu mais que o necessário e dependeu muito de Victor e Fred, o Santo e o principal nome do time em 2017, para conseguir o triunfo vital pela Libertadores.
Os números do jogo comprovam a superioridade do Atlético-MG. O 'galo' teve mais posse de bola que o Libertad: 65,7% contra 34,3%, trocou quase o dobro de passes que o adversário: 509 contra 258, tendo um ótimo aproveitamento de 82,1%, e finalizou muito mais: 19 contra 8.
No entanto, apesar de ter o controle da partida na maior parte do tempo, o 'alvinegro' cometeu erros e sofreu muito mais que o necessário. Um número e um fato comprovam a afirmativa: se por um lado finalizou menos, o time paraguaio teve o mesmo número de chutes certos que os atleticanos (cinco), e Victor foi um dos grandes nomes do duelo, protagonizando grandes defesas.
Os erros explicam o sofrimento alvinegro
No primeiro tempo, o Atlético-MG teve excelente exibição. Faltou o gol, é verdade, mas o time teve controle absoluto da partida. Com mais posse de bola, trocando muitos passes e tendo boa movimentação ofensiva e muita intensidade, o 'galo' não deu espaço algum para o Libertad.
A marcação pressão foi muito bem executada, e o 'alvinegro', assim que perdia a bola, rapidamente a recuperava e continuava trabalhando. O time paraguaio não conseguia sequer armar um contra-ataque, e nas poucas vezes em que conseguia ter a pelota, não produzia lances de perigo. Victor, espectador privilegiado da primeira etapa, não precisou fazer uma defesa sequer nos primeiros 45 minutos e quase não trabalhou.
Bem organizado no 4-1-4-1, com Rafael Carioca na frente da defesa e o quarteto Maicosuel, Elias, Robinho e Otero atrás de Fred, o 'galo' foi bem nos primeiros 45 minutos de jogo. Carioca fazia bem a transição defesa-ataque, iniciava bem as jogadas ofensivas e ditava o ritmo. Elias se projetava bem ao setor ofensivo, enquanto Otero era o grande nome do jogo, criando boas e as melhores oportunidades 'alvinegras', tanto pelo lado esquerdo quanto pelo lado direito, sendo o jogador mais agressivo e perigoso do duelo. Não à toa, o time atleticano concentrou seus ataques pelo lado do venezuelano, que foi caçado pelos adversários, sofreu faltas duras e cobrou dois tiros livres de enorme perigo, acertando o travessão em um deles.
No entanto, faltava mais penetração ao Atlético-MG e também acertar o último passe. Em alguns momentos, também, acelerar mais o jogo. O 'galo' teve o controle e a posse, trocou mais passes, chegou ao ataque, acertou o travessão, levou perigo, assustou, mas Muñoz não precisou fazer grandes defesas. Além disso, Fred não apareceu muito no primeiro tempo, e Robinho e Maicosuel podiam produzir mais. Isso, porém, também se explica pela forte marcação do Libertad com uma linha de cinco defensiva e muita compactação para diminuir os espaços e atrapalhar a troca de passes atleticana no último terço do campo. Até por isso, em determinado momento, o time de Roger abusou dos cruzamentos com Marcos Rocha e Fábio Santos, mas sem sucesso, terminando o primeiro tempo em 0 a 0.
No início da etapa final, o panorama se manteve. O Atlético-MG seguia com o domínio do jogo, sem tomar sustos, tendo mais posse e trocando mais passes, com Otero sendo o melhor em campo, mas faltava mais penetração, acelerar a partida e acertar o último passe. A grande chance veio, por sinal, não foi em jogada trabalhada, mas sim em bola parada, após cobrança de escanteio do venezuelano, quando Léo Silva cabeceou para linda defesa de Muñoz. O Galo jogava bem, mas faltava o gol, e o time precisava da vitória. Foi então que, pressionado pela torcida, que apoiava mas também cobrava, Roger resolveu mexer no time e colocar Rafael Moura em campo.
A ideia do treinador foi ótima. A linha de cinco defensiva do Libertad tinha três zagueiros, dois deles em cima de Fred e um na sobra. Com o He-Man em campo, ao lado do camisa 9, a disputa ficaria diferente, Fred teria mais espaço, a marcação rival ficaria confusa em alguns momentos e o Galo ainda teria mais um bom alvo para cruzamentos, além de maior penetração. No entanto, o problema foi quem Roger tirou da cancha: justamente o melhor da partida, Otero, quem mais criava, era agressivo e perigoso.
Não à toa, enquanto parte da torcida se concentrou em aplaudir o venezuelano e Rafael Moura, apoiando o jogador que deixava e também o que entrava em campo, outra parte da Massa não poupou Roger e gritou "burro". Na tribuna de imprensa, muitos jornalistas criticaram a escolha de Roger. Eu fui um deles. Faria mais sentido tirar Maicosuel, que já dava sinais de cansaço e estava longe de fazer a excelente partida que Otero vinha fazendo. Ou então Robinho, que apesar do poder de decidir jogos em uma jogada, também não fazia boa apresentação.
Como esperado, após a saída de seu melhor jogador, o Atlético-MG caiu de rendimento e o Libertad cresceu. O time paraguaio, que não tinha criado chances nem feito Victor trabalhar no primeiro tempo, chegou três vezes em sequência com muito perigo. Em uma delas, o 'galo' precisou fazer um milagre. Enquanto isso, o time mandante não conseguiu criar uma oportunidade sequer.
No entanto, quando o roteiro de um desastre já era visto no Horto, o Atlético-MG fez o que faltou durante todo o jogo. A opção de Roger de manter Maicosuel e Robinho em campo, mesmo com os dois não estando bem na partida, deu certo. Em uma jogada, o 'galo' acelerou o lance, penetrou na defesa rival e acertou o último passe. Maicosuel fez linda tabela rápida com Robinho, que tocou em Fred. O camisa '9' deu uma aula de pivô e serviu o número '7' com maestria, deixando o 'Rei das Pedaladas' livre para abrir o placar e finalizar com categoria na saída de Muñoz. Belo gol. Bela jogada.
Depois do gol, como não poderia ser diferente, o Libertad partiu para cima. Roger tirou Robinho e Maicosuel, ambos cansados, e optou por Cazares e Adilson, visando o contra-ataque e também fechar os espaços. A conhecida atmosfera épica e cardíaca da Libertadores no Horto tomou conta do ambiente, e o 'galo' sofreu muito mais que o necessário. Victor fez mais duas grandes defesas, o Atlético-MG desperdiçou dois bons contra-ataques, mas no fim, matou o jogo aos 44', com Fred voltando a brilhar.
O camisa '9' recebeu ótimo passe de Marcos Rocha e cruzou para Rafael Moura, que perdeu o gol, mas no rebote, Cazares não desperdiçou, decretando a vitória alvinegra. Nos minutos finais, Victor ainda voltaria a fazer um milagre, para ser ovacionado pela Massa e mostrar para Cleber Xavier, assistente técnico de Tite, presente no Horto, que merece uma chance na Seleção Brasileira.
O saldo da vitória é muito positivo. Não só pelo necessário resultado obtido, mas também pela atuação. O 'galo' está evoluindo e apresentou um bom futebol. Teve o controle do jogo na maior parte do tempo, criou mais chances, teve mais posse de bola, trocou mais passes e foi superior. No entanto, também existem ressalvas. O coletivo funcionou, mas do ponto de vista individual, ainda existem jogadores que podem apresentar mais. Robinho tem enorme e indiscutível talento e foi fundamental, decisivo, mas pode render mais. Fábio Santos e Maicosuel também poderiam ter feito partidas melhores.
Outra questão é a repetição de um problema. Novamente, ao pegar um adversário fechado, compacto e com uma linha de cinco, o Galo teve muitas dificuldades para penetrar. É claro que neste panorama é difícil criar chances claras o tempo inteiro, mas é possível melhorar a situação com mais velocidade, acelerando algumas jogadas e também tendo mais capricho no último passe, por mais que o rival esteja fechado. Às vezes, o Atlético-MG é lento demais.
De qualquer forma, foi uma justa e merecida vitória. Com destaques para Victor e Fred, que lideraram o 'galo'. É impressionante a diferença que o Santo faz no time. Com os milagres e grandes defesas, ele dá mais segurança e tranquilidade ao time, que sabe que pode contar com ele, porque ele decide jogos. E no ataque, o camisa '9' vive fase iluminada. Goleador com 16 gols em 15 jogos no ano, ele é a grande figura alvinegra em 2017, e na noite em que não foi o artilheiro, foi decisivo como garçom e voltou a brilhar.