Não foi a partida brilhante que o placar pode sugerir. Philippe Coutinho marcou duas vezes e foi fundamental para o Brasil a vencer a Bolívia por 3 a 0 em sua estreia na Copa América, mas não chegou a brilhar como em seus melhores momentos de seleção brasileira. Não importa. Depois de um ano para esquecer no Barcelona, jogar bem ou mal é menos importante que espantar a má fase.
Posicionado como terceiro homem de um meio-campo pouco criativo, com Fernandinho e Casemiro participando pouco da saída de bola, Coutinho mal apareceu no primeiro tempo. Errou pelo menos dois passes fáceis que irritaram a torcida, não conseguiu triangular com nenhum dos três homens de frente e parecia um alvo fácil das vaias que pintaram no fim do primeiro tempo no Morumbi.
Foi nessa mesma posição que ele viveu seu calvário pessoal com o Barcelona. Preso à função de marcação e pouco criativo, passou a maior parte do ano alternando entre a titularidade e o banco de reservas e terminou como um dos vilões de uma temporada frustrante do time catalão.
Nem sua permanência no Barcelona e nem seu lugar na seleção pareciam garantidos. Quando o Brasil se reuniu, Firmino e Gabriel Jesus claramente brigavam pela vaga na frente, com Richarlison firme como o melhor do time no pós-Copa e Neymar intocável. Restava a Coutinho o papel de armador central, mas sempre sob ameaça de Lucas Paquetá ou até do crescimento de um dos pontas reservas, David Neres ou Éverton, a depender de uma possível mexida tática.
O corte de Neymar acabou firmando mais seu lugar no time. Coutinho foi bem contra Honduras, com mais liberdade na ausência do camisa 10, e entrou na Copa América prestigiado. Recaiu sobre ele a responsabilidade de bater o pênalti que poderia tranquilizar a seleção depois de um primeiro tempo bem pouco inspirado.
Ele também teve mérito de se aproveitar da movimentação de Firmino para ocupar o espaço vazio e chegar para completar, de cabeça, no segundo gol. Quem olhou o jogo atentamente notou que Richarlison fez a jogada que gerou o pênalti, foi o responsável por encontrar Firmino no início do lance do segundo gol e protagonizou os melhores momentos da seleção.
Mas Tite certamente vai comemorar que seu camisa 11, peça-chave no caminho do treinador até aqui, conseguiu, mesmo a duras penas, recuperar a confiança perdida no caminho da Rússia até o Morumbi.