O futebol foi importante na vida de Erik antes mesmo do seu nascimento. Tanto que por detalhes o seu nome não foi Romário ou até mesmo Bebeto, pelo clima que envolveu a sua chegada ao mundo - um dia depois da Seleção ter retornado ao topo, com o tetra conquistado nos Estados Unidos em 1994.
Bernardo, o seu pai, era tão apaixonado pelo esporte que, ao ver que a cidade de Tuerê, no serrado paraense, não tinha grandes atrativos de futebol, resolveu fundar uma equipe por lá. O nome não poderia ser outro: Botafogo. A paixão pela Estrela Solitária já existia, mas ganhou uma força especial em 1993 com o título da Copa Conmebol sobre o Peñarol. Exatos 25 anos depois de ter criado a sua versão do Alvinegro de General Severiano, o progenitor pôde comemorar gols decisivos do filho pelo clube de seu coração.
Erik foi anunciado pelo Botafogo em agosto deste ano, e apesar do momento difícil que o clube vivia na tabela do Campeonato Brasileiro – a dois pontos de entrar na zona de rebaixamento – o meia-atacante não conseguia esconder o sorriso durante a entrevista coletiva.
“Não posso esconder a minha felicidade, meu pai sempre foi torcedor e é um grande sonho. Minha mãe me encaminhou uma foto, quando soube que estaria vindo ao Rio. Nela estou no colo do meu pai, e ele com a camisa do Botafogo. Fiquei muito emocionado na hora por estar realizando um sonho dele. A família vive seus sonhos e eu estou junto”, disse.
Naquele momento a situação do jogador de 24 anos também não era a melhor de sua carreira: eleito a revelação da Série A em 2014, quando fez 12 gols pelo Goiás, ele foi contratado pelo Palmeiras (que detém os seus direitos contratuais ainda hoje) em 2016, e fez parte da equipe campeã brasileira. Depois passou por empréstimo pelo Atlético-MG. Em Belo Horizonte, teve um impacto rápido, mas perdeu a sequência de jogos e não encontrava mais tantas oportunidades.
20 de noviembre de 2018
Em seus primeiros lances pelo Botafogo, no entanto, já mostrou ter qualidade para ajudar o time na luta contra o rebaixamento. Após 15 partidas, foi decisivo não apenas para afastar qualquer chance de descenso em 2018, como agora sonha até mesmo com uma pequena possibilidade de classificação para a fase pré-Libertadores. Desde a sua estreia, em vitória por 2 a 0 contra o Sport, Erik participou diretamente de 35% dos gols marcados pela equipe treinada por Zé Ricardo: contribuiu com três assistências e o mesmo número de gols – igualando a sua melhor marca artilheira desde a primeira temporada no Palmeiras, em 2016.
Os dois tentos mais importantes foram contra Flamengo e Internacional, em vitórias que exorcizaram moral e matematicamente o medo de rebaixamento. Contra o Rubro-Negro, Erik saiu em disparada antes de tocar na saída do goleiro César; diante do Colorado, dominou a bola no peito já arranjando espaço para a finalização. Lances rápidos e efetivos, como os que o próprio Erik costuma fazer em um de seus vícios: os games eletrônicos de futebol.
Não que o paraense seja o dono absoluto dos méritos pela sequência de quatro vitórias consecutivas, a maior deste momento no Brasileirão. Mas só um louco não reconheceria a importância de Erik nos 12 mágicos pontos conquistados no período que, segundo o próprio considera, é o melhor de sua história como atleta.
"É, sim, o melhor momento na minha carreira", disse durante entrevista coletiva realizada na última segunda-feira (19). O otimismo é tão grande que Erik sonha até mesmo com Seleção: “Conseguir voltar a vestir a camisa da Seleção Brasileira, onde já fui muitas vezes para a de base. Qual jogador não sonha com isso? Sonhar não custa caro. Claro, a gente paga o preço no dia a dia com trabalho, dedicação, e estamos bastante focados em busca de objetivos maiores no campeonato. Mas pensando partida a partida é que vamos alçar grandes voos”.
18 de noviembre de 2018
Nesta quarta (21), o Botafogo, importante para a sua família antes mesmo de seu nascimento, enfrenta o Santos em uma caminhada que agora não envolve mais temores. Ainda que o seu futuro com a Estrela Solitária ao peito em 2019 seja uma incógnita, uma vez que o empréstimo junto ao Palmeiras termina em dezembro, Erik já entregou um presente para encher o seu pai de orgulho e deixa em aberto uma série de coincidências que deixam qualquer torcedor animado: é paraense como Quarentinha, maior artilheiro do clube, ponta-direita como Garrincha e defendeu as cores do Goiás, assim como fez Túlio Maravilha. Dificilmente vai chegar perto do que estes três fizeram, mas fez o bastante para o que se esperava em 2018.
Independente do roteiro reservado para Erik, as artimanhas do destino que acabaram por ligar o jogador ao Botafogo são inquestionáveis.