A missão de substituir Jorge Jesus, o homem que à beira do campo foi o grande arquiteto de um Flamengo histórico por conquistas, não seria nada fácil. O escolhido, Domènec Torrent, chegou com o discurso de dar prosseguimento ao que já existia , planejando colocar suas digitais de forma lenta e gradual em um time que dá a impressão de conseguir jogar de olhos fechados. O Fla, então, seguiria o mesmo. Dentro do possível.
Mas será possível seguir sendo o que era, mesmo após a saída de uma peça vital para toda a engrenagem? Difícil – o que não quer dizer que não possa ser até mesmo melhor. Fato é que no primeiro jogo oficial do Flamengo na era “pós-Jorge Jesus”, o resultado foi derrota em casa contra o Atlético-MG na primeira rodada do Brasileirão 2020. Os milhões de rubro-negros que acompanharam de longe ao duelo, uma vez que o Maracanã esteve de portas fechadas em decorrência da pandemia de Covid-19, sentiram um estranho sabor de derrota.
Estranho porque o Flamengo não perdia há 19 jogos dentro do Maracanã. E mais estranho ainda pela exibição de um ataque que vinha sendo praticamente certeza de redes balançando. Mas o que impressionou não foi apenas o fato de, pela primeira vez em 2020, os titulares não terem estufado o barbante, e sim as finalizações erradas dos jogadores em si.
O lance que resume isso foi a opção de Bruno Henrique em, mesmo sem muito ângulo, chutar para o gol vazio ao invés de arriscar uma assistência – mais difícil do que parece à primeira vista – para Gabigol. A bola acertou a trave e rendeu críticas inimagináveis de torcedores flamenguistas ao camisa 27.
Considerando desde a chegada de Jorge Jesus, em 2019, até a estreia de Torrent agora em 2020, o Flamengo teve o seu pior desempenho em finalizações no Brasileirão. Segundo dados da Opta Sports, o Rubro-Negro desperdiçou quatro chances claríssimas de marcar (situações de um contra um ou com grande probabilidade de gol). No empate sem gols contra o São Paulo, na temporada passada, a equipe de JJ desperdiçou o mesmo número de chances, mas obrigou o goleiro Tiago Volpi a fazer uma de suas melhores exibições pelo Tricolor: foram oito defesas. Contra o Atlético, no último domingo (09), apenas duas bolas tiveram a direção certa.
A quantidade total de finalizações dadas naquela 22ª rodada foram as mesmas 17 desta estreia no Brasileirão 2020. Contra o São Paulo, a sensação após o apito final, independentemente do resultado, era positiva pela confiança no que o time vinha fazendo. Na derrota para o Atlético-MG, sacramentada apenas por um gol-contra de Filipe Luís, o resultado e dúvida sobre o que vai acontecer sem Jorge Jesus ditam as sensações rubro-negras. Normal.
O ponto positivo, entretanto, foi o volume de jogo ofensivo nesta estreia de Torrent: não ter marcado o gol foi mais um acaso do que regra para quem tanto criou.