Imagine a seguinte situação bizarra: você recebe uma proposta para ser campeão do mundo com um centroavante que não vai fazer nenhum gol, mas participará de forma não vexatória no jogo de equipe.
Você poderia ser o treinador desta seleção, este próprio centroavante que não estufa as redes ou até mesmo o torcedor em busca de comemorar o título. A pergunta é: assinaria o contrato?
Só um louco responderia que não.
Porque o troféu máximo que um profissional do futebol pode conquistar é exatamente a Copa do Mundo, e tudo o que um torcedor que ama sua equipe quer fazer é soltar o grito de campeão.
Exatamente por isso que as críticas em cima de Giroud são exageradas. Nem todas são injustas, afinal de contas nem mesmo os times campeões são perfeitos. Mas em época do fetiche pelo individualismo, o primeiro centroavante titular que foi campeão do mundo sem estufar as redes foi parte importante no estilo de jogo francês.
Giroud nunca foi a maior estrela da seleção francesa, uma equipe que está recheada de excelentes valores individuais justamente atrás do centroavante. E trabalhou muito para ajudar seus companheiros.
Segundo as estatísticas, considerando os principais centroavantes das equipes que chegaram ao mínimo às oitavas de final, Giroud foi o terceiro que mais participou das ações com bola.
Finalizações de todos os tipos (inclusive as que terminaram em gol), oportunidades criadas e assistências, divididas, dribles, faltas cometidas e sofridas, cobranças de bolas paradas, passes, desarmes, rebatidas, interceptações e recuperações de bola.
O atacante com os números mais espetaculares foi Mario Mandzukic, da incansável Croácia: 366. Harry Kane, referência máxima da Inglaterra e grande esperança dos Três Leões, somou 306 e Giroud vem logo atrás (288).
Longe de ser espetacular ou até mesmo um grande destaque, o jogador que pertence ao Chelsea se esforçou em todos os sentidos. O número (digno, na comparação com os demais) de nove finalizações pode não ser o melhor para se avaliar. Afinal de contas mostra a sua incapacidade para fazer gols.
Mas em oportunidades criadas o francês só perdeu para Mandzukic (7 a 8), sendo que ambos contabilizaram uma assistência cada. O croata, autor de gol-contra e a favor para a sua equipe na decisão, também foi o único na frente de Giroud em desarmes (9 a 12).
O esforço muito maior do que a habilidade fica evidente quando se analisa as faltas cometidas (14), mas todo o trabalho foi importante para ajudar Griezmann e Mbappé a brilharem. A seleção de Didier Deschamps não iniciou a sua campanha apostando em um centroavante com as características de Giroud, mas encontrou sua formação campeã justamente quando o grandalhão conquistou sua titularidade.
E a história do título francês também passa pelo fato de ter a sua maior fragilidade justamente no homem que, na teoria, tinha a responsabilidade de fazer os gols. Porque se “ataque ganha jogo, mas defesas ganham campeonatos” a frase ganha contornos ainda maiores quando se tem meias espetaculares para incrementar a receita.
Giroud passou muito longe de ser o melhor em alguma coisa nesta Copa do Mundo, mas também está a léguas de ter sido o pior. Afinal de contas, foi engrenagem de um conjunto extremamente equilibrado que merecidamente conquistou a maior glória do futebol.
Estatísticas de Giroud na Copa:
Finalizações: 9
Oportunidades criadas: 7
Total de divididas: 87
Dribles: 3
Faltas sofridas: 4
Passes: 130
Cruzamentos: 2
Desarmes: 9
Rebatidas: 10
Interceptações: 2
Recuperação de bolas: 11
Faltas feitas: 14