"Ganhar esse protocolar Mundial de Clubes seria bom. Nada além disso. Nenhum motivo para fazer alarde ou perder a voz (...) Os principais títulos da temporada ainda estão por disputar"
Todo título é importante. Ganhar é sempre bom. Mas é natural e necessário estabelecer prioridades, saber mensurar a importância de cada coisa. Nesse sentido, as Supercopas da Espanha e da Europa nada devem ao pomposo Mundial de Clubes, que nada mais é do que uma Supercopa com grife. As competições que reúnem os campeões na Espanha e na Europa oferecem inclusive, na imensa maioria das vezes, desafio técnico maior do que o Mundial da FIFA.
Até certo ponto, é compreensível a importância que os demais participantes do torneio dão à disputa. É uma oportunidade única de enfrentar um time muito mais rico e poderoso e, quem sabe, vencê-lo, o que realmente não deixa de ser um feito histórico. Ainda assim, parece-me exagerada a noção reinante no Brasil — não me atrevo a dizer que a ideia prevalece em toda a América Latina — de que essa é a competição mais importante do ano. É muito mais difícil conquistar um Brasileirão ou uma Libertadores. No Mundial, por mais forte que seja o adversário, tudo é decidido em 180 minutos. Ou seja, o nível de esforço não é nem remotamente comparável.
Assim como, para o Real Madrid, há muito mais valor e desafio em conquistar o Campeonato Espanhol, a Copa do Rei e, principalmente, a Champions League.
Ganhar esse protocolar Mundial de Clubes seria bom. Nada além disso. Nenhum motivo para fazer alarde ou perder a voz. Perdê-lo para um time japonês seria um ridículo indescritível. Mas não desviaria o Madrid de seu rumo. Os principais títulos da temporada ainda estão por disputar.
Já era sabido que passar em segundo na fase de grupos da Champions League deste ano poderia não ser de todo ruim. Feito o sorteio, constata-se que, de fato, não foi. O Real Madrid enfrentará o Napoli. Um rival de porte médio, que não figura entre os clubes mais poderosos do continente. Não é caso, no entanto, — nunca é, na verdade — de se considerar classificado antes mesmo de jogar. Basta ver o quanto sofremos para eliminar a Roma e, principalmente, o Wolfsburg — times que tem, mais ou menos, a mesma envergadura e nível do Napoli — na campanha da Undécima.
O polonês Milik, contratado para substituir Higuaín, começou muito bem, mas logo sofreu uma lesão de ligamento. Sua presença contra o Madrid ainda é incerta, embora provável. De todas formas, o Napoli tem um bom trio de ataque, com Mertens, Insigne e o ex-madridista Callejón. Hamsik é quem comanda o meio-campo. Se não está entre os melhores, definitivamente o Napoli também não está entre os piores. Todo cuidado é pouco. Até pelo inconveniente de ter que definir o confronto na Itália. Mas, independentemente de qualquer coisa, é bom que se diga: o Real Madrid tem obrigação de passar.
Já vamos perdendo a conta de quantas vezes ele ganhou os céus para operar milagres em nosso favor, como um autêntico anjo da guarda. No ar, ele parece enfim encontrar seu habitat natural. Como se não bastasse ser o melhor zagueiro do mundo, Sergio Ramos tem uma estrela que eu jamais vi igual. É cada vez mais desafiador e interessante escrever sobre. Um privilégio inestimável acompanhar um dos maiores ídolos de nossa história construir e engrandecer cada vez mais sua lenda — afinal, ela cresce sempre em função das vitórias e títulos que traz para o clube.
Contra o Deportivo, Morata inaugurou o placar com um golaço, mas o adversário virou, a partir de um excesso de confiança de Casemiro e de um contragolpe surreal — show de displicência madridista. Mais uma vez, Zidane mexeu bem. Mariano entrou com muita vontade e empatou de ombro. Marcelo, elétrico e líder, substituiu o eternamente sofrível Danilo e contagiou o time. Chegou, então, o minuto "Noventa y Ramos". E já que o capitão repetiu a semana passada, também o faço: "últimos minutos. Sergio Ramos na área. Não é de hoje que sabemos como essa história termina".