Qual é a sua opinião sobre Walter, aquele atacante que surgiu no Internacional e foi contratado pelo Porto, mas cuja fama ficou por ser um “gordinho bom de bola”? É possível imaginar uma sorte de respostas diferentes: há quem use o humor/desdém para falar do jogador, ou quem faça o discurso do “desperdício de carreira”. E, dependendo do estado de espírito e intenção de cada um, de fato são opiniões no mínimo pertinentes a respeito do atacante. Hoje aos 31 anos, entretanto, o camisa 39 do Athletico-PR quer apresentar um novo roteiro para a sua jornada: o da superação. E a vitória por 3 a 2 dos paranaenses sobre o Jorge Wilstermann, no retorno da Libertadores 2020 após a pausa pela pandemia, depõe a seu favor.
O Athletico, apesar do título paranaense recém-conquistado, não faz uma campanha como as de 2018 e 2019. Ao menos até o momento. Apresenta uma forma bastante irregular, que o situa no meio da tabela do Campeonato Brasileiro, e que fez os torcedores mais preocupados acenderem o sinal amarelo antes do encontro diante do Jorge Wilstermann, terça-feira (15), neste retorno às atividades da Libertadores.
E, de fato, a irregularidade do Furacão esteve presente neste duelo válido pela terceira rodada da fase de grupos: os paranaenses saíram atrás, empataram em pênalti convertido por Lucho González, mas voltaram a ficar em desvantagem até Christian, já na parte final do encontro, fazer o 2 a 2. A impressão era de que o empate iria persistir, mas o Rubro-Negro mostrou poder de superação e aproveitou as últimas oportunidades possíveis para arrancar uma vitória por 3 a 2.
Quando o brasileiro Serginho, autor do segundo tento dos bolivianos, foi expulso no minuto 88, Walter tinha acabado de entrar no gramado do Estádio Felix Capriles. Havia dado apenas dois toques na bola. O terceiro, pouco atrás da marca do pênalti, precedeu a finalização certeira que garantiu, aos 91’, a vitória épica que deixa o Furacão na liderança do Grupo C – com 6 pontos ganhos.
Foi o primeiro gol marcado por Walter neste seu retorno ao Athletico – e ao futebol. Quando se apresentou na Arena da Baixada, na metade do ano, a sensação era de surpresa: afinal de contas, por que um dos clubes tidos como dos mais sérios do país acreditaria em um jogador que parecia acabado para o esporte? Walter havia passado pelo Furacão entre 2015 e 2016, aparecendo bem pelos gols marcados mas também decepcionando pela avantajada forma física. Por causa dos muitos quilos a mais, os paranaenses não quiseram seguir com o jogador na época.
Luta para emagrecer e o doping no CSA
Desacreditado pela elite dos clubes brasileiros, Walter passou a rodar Brasil afora: vestiu as camisas de Goiás, Atlético Goianiense, Paysandu e CSA. A ânsia para emagrecer acabou o levando ao caminho tortuoso de utilizar uma substância proibida, a sibutramina, para perder peso. Foi um tiro no pé: ainda no CSA, de Alagoas, o atacante foi pego no exame antidoping e recebeu pena de um ano longe dos gramados. Em seu último jogo oficial antes de voltar à Arena da Baixada, em novembro de 2018, o excesso de peso era visível.
A última chance e a noite inesquecível
Aos 31 anos, além da briga contra a balança Walter ainda teria que lidar com a falta de ritmo de jogo profissional. Mas a partir do momento em que voltou ao Athletico, em maio de 2020, o atacante só queria provar – para si e para todos – que conseguiria voltar a entrar em campo e fazer valer a aposta rubro-negra. O contrato assinado com os paranaenses inicialmente foi de três meses, com cláusulas de produtividade, e foi estendido até o fim da atual temporada quando o atacante já demonstrava sinais claros de seriedade com o trabalho físico imposto pelo clube.
Walter quando chegou ao Athletico e meses depois
As dezenas de quilos perdidos foram registrados em fotos nesta jornada de Walter. O atacante voltou a pisar profissionalmente nos gramados contra o Fluminense, pela quinta rodada do Brasileirão, e também havia entrado em campo contra o Red Bull Bragantino, pela sétima jornada. Sempre saindo do banco de reservas nos minutos finais. Na altitude boliviana, entretanto, chegou o prêmio por todo o esforço feito. O gol marcado nos acréscimos foi o primeiro de Walter desde 2018, e garantiu a primeira vitória do Athletico em jogos realizados a milhares de metros de altura.
Walter, ainda visivelmente acima do peso embora um pouco menos do que nos últimos anos, foi a cara desta vitória athleticana por várias razões: o bom jogador irregular, que salva o bom time que vem se mostrando irregular; aquele que agarrou a sua última oportunidade, dando uma vitória suada nas últimas chances.
“Passou um filme. Mais de dois anos sem jogar futebol...” disse Walter para as mídias sociais do Athletico após o jogo. “É um dia especial para mim. Esse dia eu não vou esquecer”, completou.
A temporada, entretanto, será longa. E desgastante. Vale destacar que o Jorge Wilstermann não vinha se apresentando profissionalmente por causa da pandemia. De qualquer forma, resta saber se Walter ficará satisfeito com uma noite mágica ou se vai dar prosseguimento ao trabalho árduo que vem fazendo para superar suas dificuldades - inclusive o peso. Se quiser protagonizar uma história de superação, deixando para trás as piadinhas e sentenças de “carreira desperdiçada”, o caminho é árduo e difícil.
Mas a vitória sobre o Jorge Wilstermann mostra que pode ser possível.