A jornada de Mohamed Salah na Copa do Mundo se encerrou de maneira melancólica, após o 2 a 1 sofrido diante da Arábia Saudita. A história dele com a camisa da seleção do Egito pode ter o mesmo destino.
Após 28 anos de ausência em Mundiais (a última edição na qual os Faraós estiveram presentes foi em 1990), eles retornaram em 2018. O caos nos bastidores causado pela Federação Egípcia de Futebol parece ter afetado o desempenho em campo.
Dois gols marcados, seis sofridos e nenhum ponto conquistado em três jogos. A campanha da equipe foi aquém do esperado, porém o que ocorreu fora de campo foi bem pior.
Manobras políticas, condução de relações institucionais fraca e organização tumultuada, fizeram do torneio um pesadelo. Héctor Cúper e seus comandados não tiveram chances de desempenhar um futebol sem se preocupar com questões externas.
Para Salah, a situação foi agravada pela condição na qual se apresentou para a equipe. Ele veio de uma recuperação apressada de lesão no ombro, e, aparentemente, não estava totalmente em forma durante os jogos.
Apesar dos únicos tentos terem saído de seus pés, o rendimento esteve aquém do esperado. E o modo como foi usado fora das quatro linhas parece ter piorado a situação, a ponto de os rumores referentes ao futuro dele com a equipe ficarem cada vez mais fortes.
Segundo especulações da imprensa, o atacante do Liverpool considera a ideia de se aposentar pela equipe nacional. Ele estaria muito irritado pela condução do ambiente pela federação em relação ao time, que ficou na cidade de Grozny, na Chechênia.
Tudo começou em abril, quando houve uma batalha pelos direitos de imagem do jogador. O camisa 10 estava descontente pelo modo como a imagem era usada pelo avião do Egito para a Copa. O time é patrocinado pela empresa de telecomunicações WE. Salah, no entanto, possui contrato com a rival, Vodafone. Ele descreveu a situação como "um tremendo insulto", a ponto de o governo do país intervir na situação.
A decisão de se alocar na região na Chechênia atraiu muitas críticas, e acabou afetando o ponta-direito de maneira evidente.
Ele saiu em fotos ao lado do líder da região, Ramzan Kadyrov, na última semana. Além disso, participou de cerimônia para receber a "cidadania chechena".
Kadyrov é reconhecido por adotar uma política rígida, com torturas, desaparecimentos e abuso dos direitos humanos. O desrespeito a homossexuais também é uma marca presente de seu governo.
O atacante acredita que ele foi obrigado a estar em uma situação desconfortável, graças à federação egípcia. Ele revelou a pessoas próximas que não queria participar do evento, e que acredita que as imagens estavam sendo veiculadas em contexto político.
Outros problemas, como a visita de celebridades, às vésperas do jogo contra a Rússia, também deixaram o ambiente conturbado. Segundo apuração da Goal, alguns jogadores se queixaram com Hany Abou Reida, presidente da FEF. A reclamação foi rebatida com desdém, a ponto de o mandatário dizer que "quem se sentisse incomodado, poderia abandonar o elenco".
Um membro da federação, Essam Abdel Fattah, defendeu a escolha do local e a presença de Salah com Kadyrov.
"Não entendo isso, somos visitantes dele, e ele nos convidou para um jantar. Não podemos recusar algo assim. Somos uma equipe esportiva e nada pode nos envolver com política", afirmou.
O camisa 10 foi às redes contra a Arábia Saudita na última segunda (25), mas não comemorou o gol. Ele foi eleito o melhor da partida, porém não se apresentou para a entrevista. Cúper não soube dizer o motivo pelo qual o jogador se ausentou da coletiva. Membros da imprensa que estavam no Estádio de Volgogrado, chegaram a afirmar que Salah aparentava irritação e havia sido o primeiro a entrar no ônibus.
O próprio técnico tomou a decisão do local no qual a delegação ficaria, e desconsiderou aspectos políticos. A proximidade com o aeroporto e o estádio de Grozny fizeram a diferença a favor, em relação a São Petersburgo e Nizhny Novgorod, as outras cidades que foram consideradas.
Considerando os reflexos da decisão, porém, o treinador talvez tenha se arrependido. No entanto, pode ser que isso tenha custado o jogador mais famoso da história do Egito.