O Flamengo conseguiu o protocolar título de campeão carioca em 2019. Além do altíssimo investimento, de fato era o time superior a todos os demais tecnicamente. A torcida deve comemorar, ainda mais sendo sobre o maior rival que vive o terror de 31 anos sendo vice-campeão. Mas a ilusão deve acabar na terça-feira: há muitos problemas a serem resolvidos ainda se não quiserem ficar apenas com essa taça ao final do ano.
A começar pela equipe em si. Desorganizada, continua dando chances desnecessárias a adversários muito inferiores tecnicamente, como foi o caso do Vasco da Gama na final do Estadual. Cede muitos espaços quando não tem a bola. Não consegue se impor durante os 90 minutos e sofre em muitas fase da partida. Contra adversários melhores pode não haver segunda chance. Já foi fatal contra o Peñarol e voltará a ser contra times nesse nível, como na Libertadores e Brasileirão.
Durante o Campeonato Carioca, 29% dos gols marcados saíram nas retas finais, entre os 30 e 45 minutos do primeiro ou segundo tempo. Já na Libertadores, onde o nível técnico é maior, esse número aumenta para 40% apenas nessa faixa temporal da segunda etapa. O resultado é prova da falta de controle nas partidas por completo. O equilíbrio tático é de longe o pior do que fica desses quase cinco meses de trabalho irregular do Abel Braga.
Outro problema, e esse pode ser crucial em torneios internacionais, é o desequilíbrio emocional. Os jogadores do Flamengo recebem muitos cartões durante os jogos. E em quase todos os casos por reclamação ou descontrole. Ao todo, os jogadores receberam 45: foram 43 amarelos e dois vermelhos. Isso em 21 partidas até o momento.
Recentemente foi noticiado na imprensa que o clube afastou seu psicólogo. Infelizmente, tais profissionais são tratados como algo menor ou irrelevante em diversas esferas da sociedade. Não são. Eles atuam em um campo que traz a superioridade sobre o físico, que é o mental. Não à toa a França campeã do mundo teve um grupo de psicologia à disposição para potencializar cada atleta, conscientes da pressão e sabendo controlá-la. Em uma Libertadores esses momentos podem ser decisivos, principalmente em meio às catimbas sulamericanas.
Por fim, porém não menos importante, é a falta de mais opções para o sistema defensivo. Com a aposentadoria do lendário Juan, Rodrigo Caio, Léo Duarte e Rodolfo são os únicos zagueiros com rodagem para o resto da temporada. É pouco. O elenco precisa de mais um jogador de alto nível para a posição. Gil, atualmente na China, já foi consultado e pode virar alvo em breve.
Taça é taça. Quem não gosta de ganhá-las não deve estar no esporte. Mas os títulos não devem iludir a diretoria de que um trabalho está bom ao nível de outros campeonatos. Não está. Se o Flamengo souber acertar isso, a sala de troféus terá mais que apenas o Campeonato Carioca ao final do ano.